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As últimas três décadas de uma Idade do Bronze

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As esculturas do artista suíço Nag Arnoldi são apresentadas em Milão como guardiãs da existência humana. Três gigantescos Minotauros, em bronze, vigiam a entrada do Palazzo Reale, centro da cidade, onde foi montada a retrospectiva.

Outras cinquentas obras, realizadas nos últimos trinta anos, ajudam a contar a história da aventura do homem em campos de batalha, no terreno religioso, no espaço da imaginação dos arquétipos onipresentes na criação artística.

As peças parecem ter sido extraídas diretamente de uma antiga mina de bronze. Elas são, aparentemente, incompletas e deixam o toque final à reflexão do espectador. Ele não consegue fugir às questões propostas naturalmente e intuitivamente pelas esculturas, imóveis e “inacabadas” mas, ao mesmo tempo, dinâmicas e inquisidoras.

Ao longo do percurso, idealizado pelo arquiteto Mario Bota, o visitante se depara com obras de diferentes dimensões e temáticas. Porém, todas elas, possuem como fio condutor a figura descarnada do ser humano e de animais como touros e cavalos. As cenas e as imagens esculpidas em alto relevo pelo artista provocam um intenso diálogo entre si e com quem se depara diante delas.

Sacralidade

Nag Arnoldi mergulha nos mistérios da fé, os funde em metal derretido e descobre-os, finalmente, em esculturas de bronze. A monumental peça “ O Milagre”, de 2008, revela o sofrimento da crucificação e da busca pela redenção. “Ela representa o homem com o seu fardo visível e aquele espiritual, talvez ainda mais pesado de aguentar, e que começou a sua viagem de preces e penitência, um percurso interior de fadiga para a imortalidade do espírito e na fé na transcendência”, afirma o curador da mostra Rudy Chiappini.

Os braços escancarados da de “O Milagre” prepara o visitante às obras de interpretação religiosa. “Pietà”, 1980,  e “Trittico del Castigo”, “Retablo dell’Apocalisse”, ambos de 1989, são peças que refletem a temeridade e o respeito pelas forças do bem e do mal.

A primeira traz Maria que segura o corpo de Cristo inerte,  uma imagem de forte símbolo de resignação.

As outras duas outras obras, no mesmo espaço, são figuras pequenas, de altar,  mas impregnadas de movimentos, dentro de uma caixa aberta. Elas mostram cavalos e homens diante das sentenças divinas, assustados pela proximidade do castigo e do apocalipse. Uma inquietude do artista que revela a sua preocupação com os rumos da história.

Na peça “Grande Mãe”, um grande bloco de bronze escuro acolhe a maternidade com um manto lúcido. Ele cobre a figura de uma mulher em estado bruto, apenas rascunhada. A força da natureza realiza a reprodução humana e fornece à mãe poderes excepcionais de condicionar o destino da humanidade. Não por acaso, a peça está em frente às quatro máscaras que despontam do alto de uma sequência de  “lençóis” de bronze, placas enormes, quase mortuárias,  da série Requiém.

Guerreiros e animais

A viagem pelo mundo do escultor suíço abre espaços para a violência dos guerreiros. Em uma das salas do Palazzo Reale. Capacetes, espadas e lanças ajudam a compor as figuras destes cavaleiros prontos para a batalha, em tamanho natural. Algumas partes são polidas e outras opacas, em estado bruto. Nag Arnoldi trabalha a matéria esculpindo-a de significados e deixa aos outros a missão de interpretação.

Os animais do escultor são intérpretes de suas ideais, anseios preocupações. A elegância de um leão em “movimento”, o desespero de um cavalo com o olhar dirigido para o alto com as duas patas dianteiras unidas como se rezasse e a robustez do touro sugerem ao visitante a luta pela sobrevivência do mundo animal como reflexão sobre o destino do homem.   

O ponto alto é, sem dúvida, os diferentes minotauros presentes na mostra. Nag Arnoldi vai buscar na Grécia antiga a lenda do monstro com a cabeça de um touro e corpo de homem. Toda a fortaleza física e a fragilidade humana convivem juntas de forma precária e quase como forças antagonistas, numa espécie de equilíbrio do terror.

A procissão dos minotauros cegos e esculpidos em miniaturas confirma a obscuridade imposta do labirinto vencida apenas pelo amor do ser humano ao próximo. No fundo, Nag Arnoldi parece ainda crer na salvação. Através da mitologia grega, o escultor suíço busca reflexões sobre as angústias da condição atual do homem.

A mostra no Palazzo Reale, em Milão, vai até o dia 11 de setembro. Ela foi realizada sob o Alto Patronato da Presidente da Suíça, Micheline Calmy-Rey, com apoio da Fundação Pro-Helvetia.

Nag Arnoldi nasceu em Locarno, sul da Suíça, em 18 de setembro de 1928. Ele vive entre a Itália, o México e a Suíça.

Ele é considerado o maior escultor vivo da Suíça.

A formação artística de Nag Arnoldi foi feita em Lugano, com Mario e Antonio Chiattone, Filippo Boldini, Giusepe Foglia e Carlo Cotti.

Entre os anos de 1950 e 54 conhece a arte de Pablo Picasso e se transfere para Murano, ao lado de Veneza,  onde aprende a trabalhar o vidro.

A primeira mostra pessoal de Nag Arnoldi foi 1954, na Galeria do Sol, na Sala Municipal Castagnola, em Lugano.

Entre 1955 e 1964, Nag Arnoldi recebe estímulos do mundo da arte em contato com obras de  Medardo Rosso, Bernard Buffet, os futuristas Giacomo Balla e Umberto Boccioni, Marino Marini, Alberto Giacometti, além dos expressionistas alemães.

Os primeiros trabalhos com metais foram em ferro e cobre. Antes ele tinha experimentado a cerâmica, o vidro, a pintura e o desenho.

Nos início anos 1960, Nag Arnoldi conhece a arte mexicana e os “muralistas”. Este encontro marcaria profundamente os trabalhos do artista suíço. Ele entraria na sua “idade do bronze” com a forte característica de criar formas longe daquelas naturais.

Entre 1960 e 1993, Nag Arnoldi ensina no Centro Escolar  Indústrias Artísticas de Lugano.

A carreira de Nag Arnoldi decola entre 1965 e 1974 quando ele e suas obras começam a participar de mostras internacionais nos Estados Unidos , no México e na Europa, em galerias e museus.

Dali em diante, Nag Arnoldi se concentraria na arte da escultura. Em 1981, numa mostra em Florença, o escultor apresentaria os seus cavalos de batalha, os cavaleiros e os animais.

Nos últimos anos, o artista tem realizado muitas obras para exposição em espaços públicos.

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