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As ilusões perdidas da operação “mãos limpas”

O ex-procurador Antonio di Pietro lamenta que o sistema político não mudou Keystone Archive

Dez anos depois de iniciada a luta contra a máfia e corrupção na Itália, quase ninguém fala mais disso. A Suíça foi o país mais solicitado pela Justiça italiana e devolveu milhões depositados em bancos suíços.

“Na operação ‘mãos limpas’, a Suíça foi muito solicitada pela Justiça italiana e recebemos, no total, cerca de 4 mil pedidos de comissões rogatórias”, confirma o porta-voz do Ministério da Justiça e Polícia, Folco Galli.

A amargura do procurador

“Minha colaboração com os suíços foi intensa e frutuosa”, afirma o ex-promotor Antonio De Pietro, o homem forte da “mani pulite”, atualmente senador.

Em vários anos, a Suíça confiscou e devolveu cerca de 100 milhões de francos suíços (€ 68 milhões) às autoridades italianas, depositados principalmente em bancos de Genebra, Lugano, Lausanne e Zurique.

“Tenho uma certa amargura pessoal por ter sido insultado e caluniado porque apenas fazia o meu dever”, afirma Di Pietro. “Tenho também uma amargura profissional porque todas essas investigações não conseguiram mudar o sistema político italiano”, acrescenta.

Berlusconi e Craxi

“Dez anos atrás”, lembra o ex-magistrado, a Itália soube reagir e, pelo primeira vez, podíamos nos orgulhar. Hoje só temos a mostrar o rosto de palhaço de Berlusconi e sinto vergonha quando vou ao estrangeiro”, afirmou Di Pietro à correspondente de swissinfo, Gemma D’Urso.

O ex-procurador fala de Berlusconi, porque o primeiro ministro italiano foi a mais célebre das personalidades investigadas na operação “mãos limpas”.

Outro político que deu bastante trabalho à Justiça suíça foi Bettino Craxi, morto no exílio na Tunísia, em janeiro de 2000. Ex-primeiro ministro e ex-presidente do Partido Socialista, Craxi era protetor de Berlusconi.

Ainda há dinheiro para devolver

Ele tinha contas bancárias em Chiasso, Lugano e Genebra, no valor de 25 milhões de francos suíços. Esse dinheiro foi transferido para as Bahamas, antes da condenação de Craxi.

Craxi também tinha um 15 kg de ouro e divisas em um cofre, em Genebra. Confiscado pela Justiça, o ouro foi vendido e rendeu 2,1 milhões de francos, devolvidos às autoridades italianas.

Segundo o procurador de Genebra, Bernard Bertossa, a Justiça genebrina já devolveu 15,7 milhões de francos à Itália mas ainda há alguns milhões a serem restituídos.

swissinfo com agências

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