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Bônus de executivos brasileiros gera atritos no UBS Pactual

Foto do Banco Pactual no Rio de Janeiro Keystone

Uma breve crise de relacionamento abalou no fim de 2007 aquele que é considerado pelos analistas econômicos como um dos mais felizes casamentos realizados até hoje entre a Suíça e o Brasil no mercado financeiro: a compra do banco de investimentos brasileiro Pactual pelo grupo suíço UBS.

Direção mundial do UBS, na Suíça, se nega a comentar rumores publicados na imprensa brasileira.

Inconformados com uma orientação dada em dezembro pela direção mundial do UBS determinando o não pagamento dos bônus de fim de ano tradicionalmente concedidos aos funcionários do Pactual no Brasil, o grupo de dirigentes brasileiros que fechou há dois anos a venda do banco para o UBS teria, de acordo com informações não confirmadas oficialmente, ameaçado se retirar da parceria e até mesmo proposto recomprar as ações adquiridas pelos suíços.

A direção mundial do UBS rejeitou de imediato a proposta de recompra das ações pelos donos do antigo Pactual.

Segundo fontes do próprio banco, a divergência entre os acionistas teria surgido quando os maus resultados globais que atingiram o UBS em 2007 ameaçaram macular o excelente desempenho obtido pela seção latino-americana do grupo no ano passado. Afinal, o banco UBS Pactual com sede no Brasil esteve à frente de negócios em toda a América Latina que renderam lucros na casa dos dois milhões de dólares.

A polêmica esquentou no fim de novembro, quando a direção mundial do UBS teve a idéia de não pagar integralmente os bônus de fim de ano no Brasil para amenizar o fraco desempenho global do grupo.

Habituados, desde antes da compra pelo banco suíço, a receber a cada mês de dezembro gordos bônus (às vezes milionários, nos casos de cargos de direção), os antigos funcionários do Pactual não reagiram bem à orientação vinda de cima.

Vale dizer que, ao tocar nos bônus de fim de ano, a direção mundial do UBS mexeu com uma questão cultural do Pactual. Desde a década de 1980, quando foi fundado, o banco criou um sistema próprio de operação e funcionamento interno que tem como uma de suas características pagar salários não tão altos aos funcionários, mas compensar isso com a concessão de generosos bônus por desempenho e prêmios por participação nos lucros.

Os dirigentes brasileiros oriundos do antigo Pactual exigiram que os bônus fossem calculados somente a partir dos lucros obtidos na América Latina, sem englobar os maus resultados do UBS na Europa.

Uma semana antes do Natal, após várias rodadas de negociação, a direção mundial do grupo cedeu e concordou com a proposta, fato que, a princípio, contornou a crise no Brasil. Pelo menos dez executivos do Pactual teriam recebido 10 milhões de dólares cada um.

Nada, no entanto, ficou decidido em relação ao que acontecerá com os bônus a partir de 2008, fato que deixa uma janela aberta para futuras divergências.

Jornalista especializado no mercado financeiro, Lauro Jardim publicou em sua coluna Radar na revista Veja, que “existe ainda uma negociação em curso” entre os suíços e os brasileiros que controlam o UBS Pactual: “Várias possibilidades estão na mesa, e elas giram em torno da garantia de que os bônus das operações latino-americanas sejam distribuídos da forma que sempre foram, ou seja, a partir dos resultados obtidos na região”, diz o jornalista.

Segundo Jardim, no entanto, se houver recuo na negociação sobre os bônus de fim de ano “a ameaça velada de parte do time brasileiro é debandar”.

Procurada por swissinfo, a direção do banco, por intermédio da assessora de imprensa Andreza Taglietti, limitou-se a responder que “o UBS não comenta boatos de mercado”.

Em Zurique, a porta-voz do UBS, Rebeca Garcia, declarou por escrito a swissinfo, que o banco “não comenta notícias divulgadas na imprensa brasileira”.

Meninos de ouro

O grupo de brasileiros em posição de destaque na direção do UBS Pactual é centrado na figura do CEO da empresa na América Latina, André Esteves.

Discreto, com menos de 40 anos, Esteves é considerado um prodígio no mercado financeiro brasileiro. Com a formação de analista de sistemas de computadores, ele ingressou no Pactual no início da década de 1990 e, após brilhar na gestão da carteira de renda fixa, se tornou em poucos anos um dos sócios majoritários do banco.

Foi André Esteves quem, ao lado do diretor da Divisão de Investimentos do UBS, Huw Jenkins, anunciou a conclusão do processo de compra do Pactual em 2006. As negociações levaram dias e foram realizadas em um hotel de Nova York.

Ao ser indagado por um repórter sobre o que faria com o dinheirão que acabara de ganhar, Esteves respondeu que iria “aplicar tudo em fundos do novo UBS Pactual” e proferiu uma frase lapidar: “Eu não nasci para gastar dinheiro, nasci para ganhar”.

Outro nome de peso no time de brasileiros do UBS Pactual é Gilberto Sayão, que também ainda não chegou aos 40 anos. Assim como Esteves, ele ingressou no Pactual pelo setor de informática no início dos anos noventa e, depois de fazer enorme sucesso na mesa de câmbio, acabou como um dos sócios majoritários do banco. No momento da venda do Pactual para o UBS, em 2006, Sayão e Esteves detinham cada um 30% das ações do Pactual.

Histórico

O Pactual foi fundado em 1983, como uma corretora, pelos banqueiros e empresários Luiz César Fernandes, André Jacurski e Paulo Guedes. Três anos depois, começou a operar como banco de investimentos e, em meio à explosão da onda neoliberal dos anos noventa, se transformou numa espécie de escola de competitividade no setor financeiro brasileiro, angariando uma série de jovens talentos em todo o país e aumentando consideravelmente sua participação no mercado até atingir o primeiro lugar.

Foi justamente essa nova geração, liderada por André Esteves e Gilberto Sayão, que soube transformar seu bom desempenho individual em aquisição de ações do banco e, com isso, acabou isolando a antiga direção quando esta decidiu transformar o Pactual num banco de varejo. Ao analisar, alguns anos depois, sua saída do Pactual, Luiz César Fernandes definiu Esteves como “ultra-competitivo”: “Eu não consegui correr o suficiente, estava velho demais, e ele me atropelou”, disse.

swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro

Segundo avaliação do mercado financeiro, o volume de recursos usado pelo grupo suíço UBS para comprar o banco de investimentos brasileiro Pactual pode chegar ao valor de US$ 3,1 bilhões nos próximos anos.

Em 2006, os suíços deram US$ 1 bilhão aos brasileiros à vista, e disponibilizaram outros US$ 500 milhões para que o Pactual retivesse pelo menos até 2011 seus quadros mais destacados de direção. De 2006 pra cá, à medida que o novo UBS Pactual atingisse as metas de mercado estabelecidas pela nova parceria, outros US$ 1,6 bilhão seriam investidos.

O valor da transação de compra do Pactual pelo UBS foi recorde no Brasil, tendo superado com folga a venda do Banco Real, um dos maiores do país, para o grupo holandês ABN-Amro (US$ 2,3 bilhões) e a venda do BankBoston para o Itaú (US$ 2,2 bilhões).

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