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Balé de Genebra encanta Rio e São Paulo

Dançarinos do balé do Grand Théatre de Genève na temporada de 2009/2010. GTG/Gregory Batardon

A companhia de balé do Grand Thêatre de Genève (BGTG) fez em outubro uma turnê ao Rio de Janeiro e São Paulo.

Da trupe participavam dois brasileiros, que eram importantes peças na companhia dirigida pelo marroquino Philippe Cohen. swissinfo.ch foi conferir…

Vivemos uma época em que a produção cultural é cada vez mais globalizada. Essa realidade tem se mostrado prejudicial para alguns segmentos artísticos, mas, em outros, a possibilidade de interação entre a modernidade e as tradições culturais vem sendo nos últimos anos um fator de enriquecimento. Este é o caso da dança contemporânea, onde elementos culturais se unem e misturam em uma arte permanentemente revitalizada pelo intercâmbio entre povos e países.

Uma prova do dinamismo atual da dança foi o sucesso de crítica e público da pequena turnê realizada no fim de outubro no Brasil pela companhia de balé do Grand Thêatre de Genève (BGTG). Nas quatro apresentações – duas no Rio de Janeiro e duas em São Paulo – o grupo formado por 22 bailarinos de 14 nacionalidades exibiu performances vigorosas e originais, misturando elementos neoclássicos e contemporâneos e utilizando recursos teatrais que agradaram em cheio ao público brasileiro.

A identificação entre o BGTG e o público no Brasil não chega a ser surpreendente, uma vez que dois brasileiros são importantes peças na companhia dirigida pelo marroquino Philippe Cohen. A bailarina carioca Fernanda Barbosa dança há dez anos no balé de Genebra, e o paulista Vitório Casarin, assistente de direção, há 20 anos faz parte da companhia, onde atuou como bailarino, assistente de produção e diretor de cena antes de chegar ao posto que ocupa atualmente.

“Ficamos muito felizes com a receptividade do público em São Paulo e no Rio, embora diferentes. Creio que conseguimos que o público saísse diferente do que entrou”, afirma Casarin. A boa impressão sobre a turnê brasileira é compartilhada por Cohen: “Eu achei o público muito atento e curioso por descobrir obras originais e muito diversificadas. As reações foram entusiasmadas e se exprimiram com o calor, a sensibilidade e a generosidade do povo brasileiro. Sob esse ponto de vista, podemos dizer que os objetivos artísticos da turnê foram alcançados”, afirma o diretor da companhia.

As apresentações do BGTG no Brasil foram compostas por quatro peças: “Blackbird”, coreografia do tcheco Jirí Kylián com música tradicional da Geórgia; “Dov’è la Luna”, do francês Jean-Christophe Maillot com música do russo Sergei Prokofiev; “Loin”, do belga Sidi Cherkaoui com música do austríaco Heinrich Franz Biber; e “Closer”, do francês Benjamin Millepied com música do inglês Philipp Glass. Esta última peça teve sua avant-première mundial executada em São Paulo, com a participação do pianista brasileiro Ricardo Peres.

“Nas quatro peças que trouxemos ao Brasil, houve um cuidado especial em sua composição, tanto no contexto musical quanto coreográfico. Procuramos trazer peças contemporâneas de grandes autores europeus que, normalmente, somente as companhias de renome podem se dar ao luxo de ter em seu repertorio”, avalia Casarin.

Elogios ao Brasil

A brasileira Fernanda Barbosa demonstra talento e versatilidade nas execuções de “Dov’è la Luna”, peça para sete bailarinos, e de “Loin”, para 22 bailarinos. Nesta última peça, encomendada pelo BGTG para tratar das diferenças culturais, Fernanda chegar a cantar e falar em português, em um momento sempre recebido com muita animação pelo público brasileiro.

Há 16 anos atuando fora do Brasil, Fernanda afirma gostar de acompanhar a evolução do cenário da dança brasileira: “Quando eu tenho oportunidade de ir a um evento de dança no Brasil, eu vou”, diz, antes de elogiar o trabalho realizado no país: “As companhias contemporâneas brasileiras têm evoluído e tido muito êxito nacional e internacional, mostrando um excelente trabalho e uma grande identidade brasileira”, avalia.

Mesmo ponderando “ser difícil de responder por morar no exterior”, Vitório Casarin afirma “só ter elogios” ao que pôde assistir da dança brasileira na Europa: “Temos companhias brasileiras que não deixam nada a desejar a nenhuma grande companhia europeia em termos de material humano, técnico e repertório”, diz.

Casarin enumera algumas apresentações a que assistiu recentemente: “Pude aplaudir o Balé da Cidade de São Paulo, o Cisne Negro, a Companhia Sociedade Masculina, o incrível Grupo Corpo e a recém-formada São Paulo Cia de Dança. Hoje, essas companhias têm em seu repertório os mesmos grandes coreógrafos que temos aqui e que não perdem a chance de colaborar com esse país onde o povo nasceu pra dançar”, diz.

Diversidade cultural

Indagado se havia encontrado durante a turnê brasileira elementos artísticos que pudessem sem incorporados pelo BGTG em seus futuros espetáculos, Philippe Cohen respondeu: “Sendo a arte de fato universal, em que pesem as diversidades culturais, os elementos artísticos pertencem a cada criador que, segundo sua história e sua sensibilidade, se exprime em função de seu projeto artístico. Para mim, um coreógrafo deve assumir sua própria linguagem e suas influências sem jamais deixar aquilo que constitui seu fundamento cultural e histórico.”

Em outras palavras, Cohen afirma que seu maior objetivo é fazer o sentido inverso, ou seja, trazer novidades ao público brasileiro: “Eu não imagino mostrar no Brasil um espetáculo fortemente inspirado de uma especificidade brasileira que, do meu ponto de vista, não seria mais do que uma pálida cópia daquilo que os artistas brasileiros farão muito melhor do que nós. Além disso, eu penso que o público brasileiro espera de nós um espetáculo que o conduzirá por uma estética e uma sensibilidade europeias. Isso não impede que eu tenha ficado sensibilizado e tocado por uma cultura brasileira onde a dimensão humana aliada a uma forte originalidade não podem nos deixar indiferentes.”

Antes de ingressar no BGTG, a bailarina carioca Fernanda Barbosa atuou em importantes companhias, como as dos teatros municipais de Lucerna (Suíça), Hagen (Alemanha) e Dortmund (Alemanha), além do Ballet de Zaragoza (Espanha).

Nos últimos anos, ela dançou em diversos teatros e festivais em países como Cingapura, Taiwan, China, Egito, Tunísia, Ilhas Reunião, México, Canadá, Austrália, Estados Unidos, Rússia, Finlândia, França, Espanha e Itália, além do Brasil.

Fernanda avalia sua atual experiência: “A companhia de Genebra representa um grande triunfo dos meus sonhos porque eu sempre quis participar de uma companhia onde eu pudesse trabalhar com vários coreógrafos diferentes e viajar o mundo todo, visitando e dançando em vários teatros”.

Feliz com sua profissão, Fernanda dá um conselho aos jovens bailarinos e bailarinas brasileiros que sonham em dançar e vencer na Europa: “Eu aconselho a nunca desistir de um sonho. Nada é impossível. Eu, por exemplo, quando tinha catorze anos falei com a minha mãe que o meu sonho era ser uma bailarina internacional e que iria fazer de tudo para conquistá-lo. Eu consegui e hoje eu ainda vivo desse sonho”.

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