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Balonista suíço participa de competição na Itália

Balões sobrevoam Monteví, norte da Itália. Keystone

Os balões ocupam o céu de Mondoví, cidade no norte da Itália. O encontro já é uma tradição e desta vez trouxe um convidado especial: o suíço Stefan Zeberli, 28 anos, atual campeão europeu, aceitou participar da 22a edição do evento.

O objetivo é testar a sua técnica e medir forças com os outros 37 competidores de outros países europeus.

Os moradores acordam vendo das janelas dos quartos os enormes “cogumelos” coloridos surgindo nos meios dos prédios, das casas, das praças e das ruas estreitas do velho burgo medieval. O espetáculo chama a atenção de motoristas e pedestres. Todos se surpreendem com as bolhas gigantes e altas de quase 20 metros, equivalente a um edifício de sete andares. Mas poucos imaginam o trabalho e a preparação acurada para subir ao céu e voltar dele em segurança. Antes do lançamento dos balões os pilotos, co-pilotos e navegadores participam de uma reunião preparatória com as indicações sobre a condições meteorológicas e o trajeto.

O salão do pequeno campo de pouso e decolagem já está cheio ao amanhecer. Do lado de fora, o estacionamento não tem mais vaga para os carros e seus reboques contendo os equipamentos de vôo. A sensação é que todos pertencem a uma só família, aquela formada por homens, mulheres e crianças com asas nas mentes e no coração.

“Estar lá no alto é como sentar na janela e ver o mundo passar, em silêncio”, diz o fotógrafo profissional Roberto Datone, à espera de um convite para ser passageiro, como já aconteceu em outras ocasiões. O café sai a rodo no bar adjacente, com as paredes cobertas de cartazes e fotos de homens maravilhosos e dos seus cestos voadores. No lugar de uma árvore de Natal, as luzinhas lampejantes piscam na velha armação de vime, plantada no chão e orfã da armação de nylon.

Hora do “briefing”

Os organizadores do evento explicam aos partipantes as velocidades e as direções do vento. Sim, porque essas variáveis podem ser diferentes dependendo da altura. A temperatura e a umidade do ar também são parâmetros importantes para o piloto traçar a melhor rota possível e sobrevoar o alvo, dentro do itinerário estabelecido e condicionado pelas correntes do vento.

Eles explicam que duas faixas vermelhas perpendiculares entre si foram estendidas no chão do jardim da praça da Torre do Relógio, no alto de Mondoví. Os balões, todos a ar quente, deverão passar por cima delas e lançar um peso amarrado a uma fita com o número de inscrição. Aquele que mais se aproximar do alvo vence a competição prevista para durar cerca de uma hora e meia (veja o vídeo na coluna à direita).

Stefan Zeberli escuta tudo com muita atenção, em pé, encostado na parede do fundo da sala. Ao ser chamado para buscar a fita ele recebe uma grande ovação em reconhecimento ao título. O suíço responde com um tímido sorriso. “Eu vivo na terra dos balões, perto de Saint Gallen, Thurgau. Desde os meus 6, 7 anos eu queria ter um. Assistia a decolagem e o pouso dos mais velhos, tentava sempre ajudar. Depois quando eu cresci fiz o curso de um ano para ser piloto. Posteriormente espero concluir o curso de instrutor”, diz ele à swissinfo.

Como todos os outros pilotos, Stefan Zeberli faz a fila para o gás de cozinha, em estado líquido e armazenado dentro de botijões especiais, cilindros que vão dentro da cesta. O propeno, uma vez aquecido e queimado com o lança-chamas, produz dióxido de carbono, mais leve do que o ar e responsável pelo “lastro” do balão. Com cuidado, a caravana de carros e trailers segue rumo ao ponto de decolagem numa grande área descampada.

Preparativos

A aventura começa para valer na hora de tirar tudo de dentro dos reboques, no terreno nas imediações de Mondoví. A cesta fica deitada enquanto o balão vai sendo montado na posição horizontal. Um ventilador enorme cria uma corrente de ar forte rumo ao interior da bolha. Doses “homeopáticas” de queima de propeno vão levantando o balão na linha vertical. Por precaução, um cabo amarra a cesta ao parachoque do carro.

Stefan Zeberli já perdeu a conta de quantas vezes cumpriu este ritual e voou mas, em todas elas, o cuidado em checar tudo minuciosamente se repete como se fosse a primeira vez. “Temos aqui indicadores importantes para a nossa orientação. O aparelho GPS é fundamental pois nos dá a posição exata e com ela podemos medir a velocidade de deslocamento, a do vento”, explica ele enquanto observa a chaminé de uma casa. Através do movimento da fumaça, é possível intuir e colher algumas informações da natureza que dispensam o uso da tecnologia.

Os preparativos contam com a ajuda dos pais e de um amigo. O sonho de voar passou de geração em geração. O avô de Stefan não deixou o filho ser piloto. Resultado: o pai de Stefan virou um aeromodelista e o incentivou a aprender a voar de verdade. “Dou muita força para ele”, disse o pai, Jakob Zeberli. O irmão e a irmã de Stefan também fazem parte da equipe. “Todos gostam muito de voar. A minha mãe no começo tinha medo, ficava preparando o lanche para o nosso retorno. Mas depois que voou a primeira vez, sempre voltou e já fez mais de 15 voos comigo. Voar de balão é mais seguro do que guiar automóvel”, conta Stefan, dizendo que não queria ser um dos motoristas que o viu aterrissar numa rodovia, durante um pouso improvisado, pois era o único lugar sem fiação e árvores.

Decolagem

O balão, ao contrário de um dirigível, não tem motor nem leme. A direção e a altura são decididas pelo vento e pela quantidade de ar quente dentro da bolha. “A decolagem e o pouso são os momentos mais delicados. Talvez mais o pouso pois nunca sabemos aonde iremos parar. Uma vez eu pousei num campo cheio de pequenos troncos de árvores abatidas, outra vez num terreno com três metros de neve, o balão quase afundou. O meu resgate e a recuperação do balão é quase sempre uma surpresa”, diz Stefan. Uma surpresa e um desafio para a turma de apoio em terra, ou seja, os pais do piloto. “Não sei aonde ele vai pousar e se iremos conseguir chegar. Fico esperando que ele nos telefone”, diz rindo a mãe, Silvia Zeberli, logo depois de desamarrar o cabo e deixar o filho partir para as nuvens junto com o amigo, Urs Frauchiger.

Um a um, os balões, muito próximos uns dos outros, vão subindo, sem pressa. Em poucos minutos, um enxame colorido inicia uma curiosa coreografia aérea. Todos seguem numa mesma direção, mas depois, alguns solistas entram em ação, descem e sobem procurando novas correntes e alinhamentos. Como se fossem grandes ioiôs, marionetes com fios invisíveis presos no firmamento. O espetáculo colore o céu. As manobras fazem parte deste balé para chegar o mais perto possível do alvo.

Alguns passam muito longe do perímetro da Torre do Relógio. Outro marcam posição rente aos telhados para se aproximar bem. Entre si, os balões devem manter uma distância de segurança para evitar acidentes. “Eu me lembro que numa outra competição um balão francês começou a descer sobre o meu balão. A sua cesta tocou a minha bolha e podia tê-la rasgado. Ao final deu tudo certo e ele foi penalizado com a perda de pontos”, conta Stefan Zeberli. A distração é sempre um risco a bordo.

Lançamento

Lá do alto, a paisagem e o encanto do passeio podem hipnotizar o piloto ou um dos passageiros. Durante a competição, um balão passou a poucos metros do alvo, tirando fino de árvores e construções. Mas o lançador do peso estava se esquecendo de jogar a fita. O pessoal de terra gritou e lembrou-o da missão e, rindo, o homem atirou o peso bem no alvo, em tempo. Enquanto ganhava aplausos ele se desculpava com todos, aos gritos, lá de cima. “Isto acontece de vez em quando, alguns foram parar no telhado das casas vizinhas, outros nos galhos das árvores, e teve ainda quem passou tão longe que nem chegou a jogar a fita”, conta o juiz italiano Edmondo Bongiovanni.

“ Manobrar um balão não é simples. Pois temos que pensar no que ele irá fazer, um minuto antes da execução. Ou seja, agimos antes esperando que ele responda e responda bem, dentro deste atraso regulamentar. Leva algum tempo para o balão começar a subir ou a descer dependendo das ações tomadas a bordo instantes antes e nunca temos a certeza absoluta que a manobra vai ser perfeita”, explica Stefan Zeberlini, que errou o alvo e jogou o peso muito longe da Torre do Relógio.

Jardineiro e florista de profissão, trabalhando com as mãos fincadas na terra, o suíço gosta mesmo é de voar. Ele já passou 72 horas seguidas no céu em altitudes que exigem o uso de máscara de oxigênio para respirar no ar rarefeito, a seis mil metros, por exemplo. Stefan Zeberli tem namorada, mas já avisou que não vai casar lá no alto. “Ela voa comigo, sim”, brinca ele, sabendo que para o matrimônio, mesmo tendo a cabeça nas nuvens, é melhor ter os pés no chão. No casamento, como no balão, sabe-se de onde partir mas nunca aonde chegar.

Guilherme Aquino, Milão, swissinfo.ch

Um balão custa cerca de 35 mil euros, no mínimo.

Existem modelos a gás de hidrogênio e a ar quente.

A competição de Mondoví reuniu 38 pilotos de 9 nações. Site de apoio, www.aeroclubmondovi.it

O padre brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724) e patentou, em Lisboa, em 1709, o primeiro balão.

Os franceses Annonay, Joseph-Michel, Jacques-Etienne Montgolfier voaram pela primeira vez com um balão a ar quente, preso ao solo, em 19 de outubro de 1783, em Paris.

O primeiro balão com uma fonte de calor a bordo, como conhece-se hoje, subiu apenas 22 de outubro de 1960.

O reino de Shu Han (220-280 d.C), na China, usava o balão para assinalar objetivos militares, na verdade ele era uma espécie de lanterna.

A aceleração vertical de um balão depende da diferença de temperatura entre o ar externo e aquele contido dentro da bolha.

A maioria dos balões é feito em nylon, que suporta uma temperatura de 220 graus Celsius, a temperatura do ar dentro do balão, normalmente, não supera os 120 graus.
O campeonato mundial World Air Games, vai acontecer em Turim, entre os dias 6 e 14 de junho de 2009.

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