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Banco distribui bolas feitas com trabalho infantil, diz TV

Técnico suíço autrografa bola distribuída pelo banco. Keystone

O Credit Suisse distribui para crianças suíças 200 mil bolas que, segundo informações da televisão pública do país, foram costuradas em povoados paquistaneses também por crianças.

O banco suíço garante que a empresa responsável pela produção das bolas se comprometeu a pagar salários justos e a não recorrer ao trabalho infantil.

“Ingressos para os políticos, bolas para o povo”, é a manchete do jornal Tages Anzeiger, de Zurique, nesta quinta-feira (17/04). Também outros jornais estampam a foto do técnico da seleção suíça, Köbi Kuhn, entregando uma bola autografada para um menino.

Kuhn autografou as primeiras das 200 mil bolas infantis que o Credit Suisse, o segundo maior banco do país, está distribuindo em suas 183 filiais.

Com a campanha “Bolas de futebol para a Suíça”, o banco e a Associação Suíça de Futebol (ASF) querem motivar principalmente o público jovem a torcer pela seleção nacional durante a Eurocopa.

“O Euro é uma oportunidade ideal para entusiasmar crianças e jovens pelo futebol e transmitir-lhe a alegria do jogo”, disse Kuhn.

Denúncia de trabalho infantil



“Pouca alegria devem ter as pessoas que costuraram as bolas em povoados do Paquistão”, segundo o programa sensacionalista “10vor10” da Televisão Suíça SF, emissora pública e de maior audiência no país.

Os repórteres do programa garantem ter cópias de faturas emitidas pelo fabricante de bolas paquistanês Sunflex Internacional para o Credit Suisse. A firma não admitiria controle da Imac, uma organização co-financiada pelo Estado paquistanês.

Segundo a SF, a Imac inspeciona há anos sem aviso prévio 95% dos fabricantes de bolas na cidade de Sialkot. “Somos a única instância controladora independente aqui no Paquistão, mas nunca ouvimos nada da Sunflex”, disse o diretor da Imac, Nasir Dogar, ao “10vor10”.

Segundo a reportagem, a costura das bolas para a Suíça foi terceirizada, e as firmas prestadoras de serviços teriam repassado o trabalho a famílias de diversos povoados. Por bola, a família teria recebido 39 rappen (centavos de franco suíço), quase 50% menos do que o normal na região.

Um pai família confirmou a informação diante das câmeras. “Costuramos muitas dessas bolas. Todos costuraram: homens, mulheres, crianças”, disse.

Posição do Credit Suisse



O Credit Suisse repassou à swissinfo a mesma resposta que deu à TV.

“Na escolha do produtor, as condições de trabalho justo foram um critério decisivo. A empresa suíça que fez a encomenda e a contratada no Paquistão tiveram de se comprometer a pagar salários que garantam a subsistência e a não empregar crianças. O cumprimento dessas exigências foi fiscalizado várias vezes in loco. Levamos as informações a sério. Vamos verificá-las junto à empresa que recebeu nossa encomenda”, diz a nota do banco.

De acordo com as informações de que dispomos agora, a firma no Paquistão não nunca foi contatada pela Imca e, consequentemente, não pôde ser controlada, continua a nota.

Críticas do fabricante das bolas oficiais



Um das maiores fabricantes de bolas da Suíça, a Tramondi, fornece as bolas oficiais da Eurocopa à Uefa. Em sua fábrica no Paquistão, a empresa permite controles sem aviso prévio sobre as condições de trabalho.

A Tramondi foi derrotada pela empresa paquistanesa na concorrência pela fabricação das bolas do banco. “É um escândalo. Pergunto-me se ainda se pode distribuir e receber essas bolas do Credit Suisse com consciência limpa”, disse o presidente da Tramondi, Peter Mucha. O banco informou que continuará a distribuição.

swissinfo com agências e SF

Depois de vários dias de investigação, o Credit Suisse admitiu que não pode descartar completamente a possibilidade de um fornecedor paquistanês ter transgredido a legislação de proibição do trabalho infantil na produção das 200 mil bolas distribuídas na campanha “Bolas para a Suíça”.

Em nota publicada nesta terça-feira (22/04), o banco afirma que a simples suspeita de que tenha ocorrido essa transgressão é “inaceitável”. “Isso contradiz os valores e princípios do banco”, acrescenta a nota.

O Credit Suisse afirma que apóia os esforços mundiais contra o trabalho infantil. “Por isso, o banco decidiu doar 1 milhão de francos ao Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância)”, informa a nota.

O Unicef pretende investir o dinheiro em projetos de educação infantil, em parte no Afeganistão.

O Credit Suisse, com sede em Zurique, é o segundo maior banco da Suíça, depois do UBS.

A instituição atua mundialmente e tem 48 mil funcionários.

Em 2007, teve um lucro líquido de 7,8 bilhões de francos suíços.

Desde 1993, é patrocinador da seleção suíça de futebol.

O banco apóia o Global Compact, um pacto mundial entre empresas e a ONU por uma globalização que seja ecológica e socialmente justa.

Por isso, exige de seus parceiros de negócios o respeito a um código de conduta baseado, por exemplo, nas determinações da Organização Internacional do Trabalho, da ONU e da OCDE, sobre condições de trabalho e combate ao trabalho infantil.

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