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Suíços temem que medidas contra a Covid-19 cercearão sua liberdade

Banco numa estação de ônibus fechado por uma cerca
As pessoas na Suíça parecem apoiar as medidas do governo contra a Covid-19, mas expressam também preocupação a respeito das restrições à liberdade individual a longo prazo. Keystone/Peter Klaunzer

A preocupação com a perda das liberdades pessoais parece estar crescendo na Suíça após semanas de restrições à vida pública com o objetivo de frear a pandemia do coronavírus.

Uma pesquisa de opinião publicada na quinta-feira também constatou que a atitude em relação à crise se tornou geralmente mais semelhante entre as três principais regiões linguísticas do país.

“Há um mal-estar impressionante sobre uma possível perda de liberdades pessoais a longo prazo”, diz Michael Hermann, chefe do instituto de pesquisa SotomoLink externo, que realizou a enquete.

Um número crescente de entrevistados está preocupado porque acreditam que as restrições podem permanecer no local por pelo menos mais 12 meses, diz ele.

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Esta última pesquisa contrasta com uma avaliação muito mais otimista em abril, quando quase 30% dos pesquisados esperavam que as medidas de confinamento fossem todas levantadas no início do verão. 

Os receios de um impacto negativo da pandemia na economia suíça continuam altos, enquanto as preocupações sobre o sofrimento com problemas de saúde relacionados ao vírus desceram na lista.

Super férias?

A pesquisa – a terceira do gênero desde março, quando o governo ordenou medidas de restrição à vida pública e à economia – constatou que as pessoas têm lidado bem com o confinamento. 

“Um fator é, sem dúvida, que não houve toque de recolher geral. Ao contrário dos residentes de outros países, as pessoas na Suíça ainda podiam deixar suas casas, e o fizeram, como mostra a pesquisa”, diz Hermann. 

Talvez haja alguma verdade quando se diz que a pandemia de Covid-19 é a Grande Depressão para os Estados Unidos, enquanto na Suíça parece mais um grande feriado, pensa ele. 

Hermann também ressaltou que a força total da crise ainda não bateu, já que a maioria das pessoas na Suíça, independentemente da região linguística, ainda não está plenamente consciente do impacto econômico.

Até agora, muitos têm se beneficiado do esquema de desemprego e do sistema de seguridade social da Suíça.

Relaxando o lockdown

A maioria dos entrevistados disse que concordava com a política escalonada do governo de aliviar o confinamento. A segunda fase entra em vigor na próxima segunda-feira com a reabertura de todas as lojas, escolas primárias retomando as aulas e o transporte público voltando ao serviço regular.

Entretanto, as fronteiras permanecem fechadas e os eventos de massa são proibidos pelo menos até o final de agosto, diminuindo as esperanças de umas longas férias no exterior ou de eventos musicais e esportivos com a presença da multidão.

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Regiões lingüísticas 

As respostas diferem entre as três principais regiões linguísticas do país, mas Hermann diz que, em geral, as diferenças se estreitaram, especialmente entre a maioria das regiões de língua alemã e a de língua francesa. 

Mas a região de língua italiana, que faz fronteira com o norte da Itália – um ponto crucial para a pandemia na Europa – é claramente mais favorável a restrições e a um abrandamento mais lento das medidas. 

O uso de máscaras protetoras para os consumidores, a reabertura de escolas obrigatórias, assim como restaurantes e bares, são apenas três potenciais áreas de conflito, destacando a estrutura federalista da Suíça. O sistema dá a cada um de seus 26 cantões um grande grau de autonomia, notadamente em matéria de saúde e educação. 

Praticamente inalterada é a alta confiança das pessoas no governo, como mostra o gráfico abaixo.

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Em comparação com as pesquisas anteriores relacionadas à Covid-19, a região francófona tornou-se um pouco menos crítica em relação à política oficial. 

Entretanto, uma pequena maioria dos entrevistados concorda que o governo deve manter seus poderes extras durante a pandemia da Covid-19, incluindo o direito de impor medidas de emergência sem dar a voz ao Parlamento – ou ao povo. 

Isso pode ser uma surpresa em meio ao sistema político da Suíça, muitas vezes retratado como um modelo de democracia direta.

A pesquisa online é baseada em respostas de 32.485 entrevistados com mais de 15 anos de idade em todo o país. 

Ela foi realizada entre 2 e 5 de maio. 

A margem de erro é de +/-1,1%. 

Esta enquete é a terceira de uma série realizada pelo instituto de pesquisa Sotomo para a Sociedade Suíça de Rádio e Televisão, empresa matriz da swissinfo.ch. 


Adaptação: Eduardo Simantob

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