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Biblioteca associa Da Vinci a relógios suíços

Uma das salas da Biblioteca Ambrosiana, com a exposição“Da Vinci entre a mecânica e o tempo”. swissinfo.ch

A Veneranda Biblioteca Ambrosiana, um verdadeiro museu de livros raros e antigos, fundada no começo do século 15, abre as principais salas de leitura para uma exposição sobre o tempo.

Da Vinci entre a mecânica e o tempo”, reúne algumas das páginas históricas do famoso Código Atlântico aos raros exemplares de relógios da coleção do museu suíço Louis-Ulysse Chopard.

A praça Pio XI, no centro de Milão, tornou-se uma esquina onde se encontram a sabedoria intuitiva do gênio de Leonardo da Vinci e a habilidade dos artesãos na construção acurada de peças de arte capazes de aprisionar e indicar os movimentos do tempo, desde o século 16 até os dias de hoje.

O estudo das engrenagens e dos movimentos foi uma constante na obra de Leonardo da Vinci. As transmissões helicoidais, as funções da mola, princípios fundamentais para a elaboração de um relógio, estão descritas em algumas das quase duas mil folhas do Código Atlântico. Nunca antes exibidas ao grande público, elas agora são mostradas na Sala Federico Borromeu. Desta vez, por um curto período de tempo, as páginas “leonardescas”, por si só documentos importantes de valor inestimável, chegam acompanhadas de verdadeiras obras de arte do mundo da relojoalheria.

Reflexões sobre a passagem do tempo também fazem parte desta exposição. “ Não faltam modos de repartir nem de medir estes nossos míseros dias…”, afirma um dos textos de Leonardo da Vinci ao lado do projeto de um relógio mecânico. Os desenhos do gênio e as suas observações servem de moldura para os relógios raros da coleção suíça à altura da monumental sala da Biblioteca, submersa de livros e forrada com um tapete vermelho, num ambiente de outros tempos. Mais do que tudo, eles servem como lição e aprendizado de vida para os futuros relojoeiros.

Religião

“Teria sido fantástico se Leonardo trabalhasse conosco, mas temos que deixar Leonardo da Vinci no seu tempo, ele foi um dos únicos gênios universais…mas acho que podemos continuar a aprender muito dele, a inspiração..esta è, no fundo da idéia das nossa coleção, tentamos dar inspiração aos nossos jovens artesãos. No começo, tem apenas a criatividade, temos que ter idéias, e isso è algo que cultivamos muito, temos muita atenção com design, pesquisa porque isto é a base do sucesso, disse para a siwssinfo, o presidente de Chopard, Karl-Friederich Scheufele.

O projeto do mecanismo de um relógio a água, na folha 45, baseado em vasos inclinados conectados entre si, está bem na frente de um do exemplares únicos desta mostra: um relógio de correia, com a forma de crucifixo, de 1610, com um pingente em cristal de rocha capaz de revelar o movimento interno. Os primeiros exemplares portáteis “religiosos” apareceram em 1580 e duraram até 1675. Eles demonstravam o status social, a fé e refletiam a influência da igreja na sociedade.
Não por acaso, as torres dos sinos abrigavam os maiores relógios mecânicos já fabricados, no começo do século 14, em cidades como Paris,Milão, Florença. As badaladas marcavam o início e o fim das atividades no campo e nas cidades. “Os esboços do relógio mecânico, aquele de água, o fascínio do tempo e da medição do tempo não eram estranhos para Leonardo. E na coleção encontramos peças que são verdadeiras jóias, a medida do tempo que marca os dias e as obras dos homem… temos um maravilhoso relógio inciso em um crucifixo como a significar que seja Cristo, com o seu nascimento, a assinalar o início do tempo” disse para a swissinfo, monsenhor Franco Buzzi, prefeito da Biblioteca Ambrosiana.

Política e comércio

O relógio percorre a história e os encontros das civilizações. Ele foi um instrumento importante nas missões dos jesuítas pelo mundo, por exemplo. Os religiosos chegavam com a bíblia numa das mãos e um relógio na outra no tempo em que o imperador da China, em 1585, no reino de Chia- Ching, abria as portas para a religião cristã em troca de modelos de bolso, esmaltados, em caixas de ouro.

Matemáticos e astrônomos, os padres ensinavam aos súditos regras de manutenção e reparação dos relógios caso eles apresentassem algum defeito. Com receio de falhar no futuro, os membros da corte chinesa tentavam, ao máximo, esticar a permanência dos jesuítas nas dependências do Palácio imperial.

Duzentos anos depois, os relógios europeus, suíços, principalmente, continuavam a seduzir a nobreza e a burguesia chinesas. Eles eram embarcados nas caravelas, no porto de Lisboa. O comércio com este mercado rendeu famosa no mundo inteiro a região de Fleurier, presente na coleção com um modelo dos irmãos Edouard e Léo Juvet. Os dois artesãos suíços ganharam uma grande projeção e importância com os pioneiros Piguet et Meylan e Jaquet Droz. Muitos chegaram a produzir relógios na China, anticipando os tempos de hoje. Visonário, Edouard Bovet abriu uma fábrica em Cantão, em 1818.

Grandes eventos da história trouxeram consequências na medida do tempo. A revolução francesa impôs o sistema decimal das horas. A dissolução da monarquia, em 22 de setembro de 1792, marcou o novo calendário, aposentando o tradicional gregoriano, e resgatou uma diferente divisão do tempo em dez horas. Cada hora teria cem minutos. Cada minuto era composto uma centena de segundos.

Um cronômetro naval L. Berthoud, presente na mostra, é uma testemunha desta imposição. Louis Berthoud era sobrinho de Ferdinand Berthoud, nascido em Plancemont, Suíça, e conhecido como o “Relojoeiro Mec ânico do Rei e da Marinha”, título conferido em Paris, em 1770, após ter descoberto os segredos de um cronômetro inglês e de ter publicado muitos ensaios sobre a evolução dos relógios.

Muitos tinham multifunções e serviam de instrumentos para a navegação, com acessórios e soluções criativas capazes de medir a longitude e a latitude. Alguns raros relógios de bolso sobreviveram ao passar dos séculos. Um deles, presente na mostra, foi feito por Jacob Auch, em 1798, e traz um exemplar com um planetário heliocêntrico, com dois quadrantes de duas cores diferentes, o movimento do céu e o zodíaco de um lado e as horas, os dias e os meses do ano na outra face.

Tempos Modernos

Segundo os historiadores, os chineses foram os primeiros a “capturar” a passagem do tempo. O relógio de sol teria nascido por volta de três mil anos antes de Cristo. Um pau fincado na terra projetou o primeiro meridiano. O movimento da sombra sobre o solo refletia a rotação do planeta ao redor do próprio eixo e o de translação, em volta do sol.

Foi preciso Galileu Galilei (1564-1642 A.C), confirmar e, depois negar -sob pena de ir para a fogueira da Inquisição- que a Terra não era o centro do mundo para fundar a astronomia moderna e, com ela, dar início a um gigantesco passo para humanidade rumo ao conhecimento dos mistérios do tempo.

Se no universo as mudanças pareciam mais lentas e harmoniosas, na terra as transformações eram velozes. A evolução e a organização da vida urbana exigiam a divisão de tempo cada vez mais atenta. Os limites da técnica e os avanços dos conhecimentos serviam de mola propulsora para a criação de novos modelos. O limiar do relógio mecânico marcaria os primeiros passos da era do quartzo e, mais tarde chegaria o modelo atômico usado para subdividir o tempo em intervalos ínfimos.

A invenção do “turbiollon”, por Abraham-Louis Breguet (1747-1823), revolucionou a indústria relojeira. Mas tantos artesãos deram uma importante contribuição, como se fossem partes integrantes das engrenagens de um gigantesco mecanismo, até hoje, em constante movimento.. Charles-Ulysse Chopard, Louis Brandt, J. Huguenin Droz, H.Grosclaude, Edouard Bovet, R. Joseph Barth em Fleurie, Le Locle, Genebra, Chaux-de Fonds, são alguns nomes suíços que fizeram da relojoaria uma arte à frente, cada um ao modo próprio, do seu tempo.

Guilherme Aquino, swissinfo.ch, Milão

A hora decimal durou 15 anos e foi revogada por Napoleão.

Em 1967, os físicos estipularam que um segundo representa 9.192.631.770 vezes o tempo de vibração de uma específica radiação emitida por um átomo de césio.

Theodor W. Hansch(1941- ), prêmio Nobel de Física de 2005, construiu o relógio atômico mais acurado do mundo, baseado na frequência do hidrógeno que vibra 2.466.061.413.187.103 vezes por segundo.

O século 14 marcou a disseminação dos relógios mecânicos na Europa.

O nascimento das Academias de Ciência, no século 17, como a Royal Society, em Londres, em 1660, possibilitou aos cientistas o intercâmbio de informações e deu grande impulso às novas descobertas no campo da medição do tempo.

O “turbiollon” é um mecanismo altamente complexo que elimina os efeitos da força da gravidade sobre as engrenagens do relógio, garantindo a precisão, não importando a sua posição.

Leonardo da Vinci, em muitas folhas do Código Atlântico, Codex Atlanticus, como era conhecido, anotava a agenda de encontros e recados com pessoas ao lado de estudos e desenhos técnico, além de reflexõe filosóficas e as suas fontes de leitura.

Nas páginas do manuscrito, da Vinci ensinava a construir uma bicicleta, armas de guerra, e desenhava o primeiro helicóptero.

No Código Madri e no Código Atlântico,obras de Leonardo da Vinci, o estudo dos movimentos são uma constante.

A mostra da coleção Chopard, na Biblioteca Ambrosiana, contribui para o financiamento de instituições, entre as quais, a Associação Italiana para Pesquisa do Câncer (AIRC).

A exposição dos desenhos de Leonardo é curada por Edoardo Villata.

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