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Bloqueio da Swissair foi desnecessário

O "grounding": em 2 de outubro de 2001, os aviões da Swissair permanecem parados no aeroporto de Zurique. Keystone

Relatório preparado pela empresa de auditoria Ernst & Young mostra que a interrupção dos vôos da Swissair foi uma ação inútil, já que a empresa ainda tinha liquidez.

Antigos dirigentes da empresa “não tinham experiência na administração de uma companhia aérea internacional”.

As imagens percorreram o mundo: em 2 de outubro de 2001, os aviões da Swissair estavam parados nos aeroportos. Ao mesmo tempo, vários vôos haviam sido cancelados, passageiros não sabiam o que fazer com seus bilhetes e os funcionários estavam desorientados.

O “grounding” (aterragem) da companhia aérea que, como nenhuma empresa no país simbolizava o orgulho nacional suíço, mostrava que a Swissair havia sonhado alto de mais: em ser um pequeno país detentor de um “global player” da aviação internacional.

Hoje foi publicado um relatório da empresa de auditoria Ernst & Young, que analisa todo o processo de ascensão e queda da Swissair. Os resultados mostram um quadro deplorável da capacidade administrativa dos antigos dirigentes da empresa.

Fracasso dos chefes

De acordo com o trabalho de mais de três mil páginas da Ernst & Young, “a aterragem forçada dos aviões da Swissair foi, do ponto de vista financeiro, desnecessário. A versão oficial dada no momento foi de que a paralisação havia sido necessária devido à falta de dinheiro em caixa”.


“Nesse dia, Mario Corti, antigo presidente da Swissair, poderia ter pedido um crédito de US$ 90,3 milhões (Fr. 123 milhões), mas só solicitou US$ 10,6 milhões (Fr. 14,5 milhões)”.

Ao mesmo tempo, a empresa ainda teve gastos de US$ 110 milhões (Fr. 150 milhões), que segundo o relatório da Ernst & Young não eram necessários para a continuação dos vôos. “Na questão da falta de liquidez na empresa, descobrimos que a empresa poderia ter mantido seus aviões no ar”, afirma Ancillo Canepa, auditor da Ernst & Young.

“A crise financeira da Swissair já se anunciava com muita antecedência, antes de ter ocorrido a paralisação dos aviões. Porém o conselho administrativo e a direção da empresa fracassaram ao não adotar medidas de saneamento antes do “grounding”. Eles acreditavam que a empresa seria apoiada, no último momento, pelos bancos e o governo suíço”.

A direção escondeu os problemas da Swissair

Os auditores da Ernst & Young mostram também que, já no final do ano 2000, o grupo SAirGroup (onde estava integrada a Swissair) estava completamente endividado. Porém a direção tentou esconder até o último momento a situação grave em que a empresa se encontrava. “A real situação financeira da Swissair não havia sido demonstrada corretamente, durante a apresentação dos balanços em 1999 e 2000”.

Os auditores dão exemplos: nas contas de 2000, a direção não revelou uma conta a pagar de quase US$ 810 milhões (Fr. 1,1 bilhões).

Erros do passado

O “grounding” foi apenas o ápice de uma história trágica de erros empresariais que levaram a Swissair à falência. Os auditores da Ernst & Young analisam no seu trabalho os últimos anos da empresa e descobriram que os problemas na administração da empresa ocorriam desde 1997.

O plano original de expansão da empresa previa a participação de até 30% no capital de outras empresas aéreas, em mercados de potencial para a Swissair como Bélgica, Áustria, Finlândia, Hungria, Portugal e Irlanda. Também estava previsto que a empresa iria investir no máximo US$ 220 milhões (Fr. 300 milhões) em cada uma dessas companhias aéreas.

Porém entre 1998 e 1999 a empresa investiu mais do que a soma planejada em empresas como a Sabena (Bélgica) e LTU (Alemanha), em mercados saturados da Alemanha, França, Inglaterra e Itália.

No final desse processo, o investimento total do grupo SAirGroup foi de US$ 4,3 bilhões (Fr. 5,9 bilhões), sendo que a empresa só conseguiu pagar US$ 3 bilhões (Fr 4,1 bilhões). Assim as dívidas passaram de US$ 2,4 bilhões (Fr. 3,3 bilhões) em 1996 para US$ 6,9 bilhões (Fr. 9,4 bilhões) em 2000.

Na conta da empresa caíam as despesas de empresas deficitárias como a Bélgica Sabena, as francesas AOM, Air Liberte e Air Littoral e a alemã LTU. AirGroup.

Dos sonhos de sobrevoar todos os céus do mundo, só sobraram os materiais de uso nos aviões, que foram recentemente leiloados para os fãs da empresa.

swissinfo com agências.

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