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Brasileiros ciosos de suas origens suíças

Vista parcial de Fribourg com a imponente torre da catedral e a prefeitura em 1° plano swissinfo.ch

Cerca de 200 representantes da Nova Friburgo (RJ) realizaram viagem de 10 dias à Fribourg, aprofundando laços existentes entre as duas cidades. Uma história de amor, iniciada há 25 anos.

Uma banda de música (A Campesina), um conjunto musical (Tom sobre Tom), um balé (Silvana Gym) e 80 acompanhantes formaram um grupo de 200 pessoas que de 16 a 25 de maio visitaram a Suíça. Pretexto da viagem: a exposição nacional suíça (Expo.02) que permite à Suíça olhar-se no espelho e questionar o seu futuro.

Quinta vez

Este foi quinto reencontro de habitantes de Nova Friburgo com seus “primos” da Suíça. Deste país saíram, em 1891, os 2.000 colonos que num espírito de aventura e de luta pela existência iriam fundar um vilarejo, distante quase 150 km do Rio de Janeiro, e hoje uma cidade de 173 mil habitantes.

Reencontro mais uma vez emocionante. A chegada, dia 16, de barco, na cidadezinha de Estavayer, oeste, de onde saíram os suíços no séc. XIX. Discursos, cortejo, confraternização deram início a uma série de espetáculos e encontros destinados a fortalecer os laços cada vez mais estreitos entre duas comunidades.

Um dos pontos altos de muitas visitas – à cidade de Friburgo, às cidadezinhas de Bulle e Gruyères – foi a participação ativa na jornada oficial do cantão de Friburgo na Expo.02, com atuação da banda, dos músicos e dos artistas (nova) friburguenses. Não passou, por exemplo, despercebido o fato de, na ocasião, o ministro suíço das Relações Exteriores, Joseph Deiss, ter entrado no samba.

Os esquecidos

Outro momento de emoção, a abertura de uma exposição no Museu de Tavel (cerca de Fribourg) de fotos de descendentes suíços radicados na região pobre de Rio Bonito – perto de Nova Friburgo. Mostra que vai de 24 de maio a 18 de agosto.

Em 35 quadros, a fotógrafa de Nova Friburgo, Regina Lo Bianco, apresenta com “muita delicadeza e respeito” essas pessoas excluídas do progresso, que vivem hoje como viveram seus antepassados, há quase dois séculos. Basta recordar que a eletricidade chegou a Rio Bonito há apenas 1 ano.

Na época, isto é em 1819, como nos lembrou recentemente o chanceler suíço, Joseph Deiss, os suíços viviam numa “miséria total” (ele mesmo utilizou o termo de “miséria negra”).

Reverso da medalha

Deiss aludia às más condições climáticas e às seqüelas das guerras napoleônicas, em conseqüência das quais a maioria dos suíços passava fome… Naqueles tempos difíceis, o apelo do “Eldorado” era forte e muitos se lançaram na aventura da descoberta de novas terras. Entre os dois mil suíços (300 famílias), 830 dos quais eram de Fribourg que zarparam para o Brasil. Uma viagem que custou centenas de mortes.

O Museu de Tavel, como nos disse a curadora, Maria-Anne Fankhauser, quer “mostrar outro aspecto dos descendentes suíços em Nova Friburgo”.

Os excluídos

E o historiador suíço, Martin Nicoulin, autor de A Gênese de Nova Friburgo, livro publicado em 1973 e que desencadeou todo esse processo de reaproximação, nos lembra que até hoje se falava do lado positivo da cidade: de seus hotéis agradáveis, de suas faculdades, dos suíços que enriqueceram, aventurando-se no cultivo do café…

E Nicoulin realça: “Não se falava dos que se tinham perdido na floresta tropical e que não viram o progresso chegar”. O sonho do historiador suíço seria integrar esses deserdados que não se beneficiaram da prosperidade.

Esse 5° encontro pode assim ter despertado a atenção para uma realidade menos rósea. E provavelmente muitos “fribourgeois” vão querer fazer alguma coisa para tirar esses “primos” longínquos da “miséria negra”.

Realizações

Mas já fizeram muito para ajudar os brasileiros de Nova Friburo. Com boa participação de dinheiro suíço foram construídos, por exemplo, uma queijaria-escola, um museu da colonização (Casa Suíça) e escolas.

O sentimento de redescoberta e de orgulho que animou o primeiro (re)encontro de 1977, em Nova Friburgo, tem sido alimentado com o passar dos anos.

Em 1981, uma caravana de brasileiros veio a Friburgo participar dos 500 anos da entrada do cantão na Confederação Suíça. Em 1987, cerca de 200 suíços visitam Nova Friburgo. É quando se inaugura a Queijaria que iria inovar na produção de queijos tipo suíço.

Festa

Nova pedra nessa reconstrução de laços é lançada em 1996, com o Museu traçando a história da colonização do antigo Morro Queimado.

Essa viagem agora de 200 friburguenses à Suíça inscreve-se nessa linha. E foi fechada com chave de ouro: uma grande festa brasileira em Estavayer-le-Lac, no sábado, 25/5. Festa de congraçamento e festa que servirá aos brasileiros radicados na Suíça para matarem um pouco de saudades da terrinha.

swissinfo / J.Gabriel Barbosa

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