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Brasileiros na Suíça: por que deixam o Brasil?

Safira e Paul na sala de exposição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (foto: cortesia do autor) swissinfo.ch

Por Safira Bezerra Ammann, Natal-RN, Brasil. Causas das migrações: fatores de atração e expulsão

As causas das migrações podem ser classificadas em três categorias. A primeira diz respeito aos migrantes que deixam o país movidos pelos fatores de atração de outras regiões: são principalmente jovens que desejam estudar numa determinada universidade estrangeira ou participar de pesquisas que não são realizadas no seu próprio país.

Neste grupo podem ser incluídos aqueles que querem aprender línguas estrangeiras ou conhecer outros países, apreciar culturas diferentes. Qualidade dos serviços públicos, percepção de segurança, mercado de trabalho bem organizado e salários dignos são fatores que exercem forte atração.

Os migrantes do segundo grupo não sentem atração por outras regiões, mas são forçados a sair do país porque são banidos ou perseguidos e ameaçados. Trata-se de fatores de expulsão política que ocorrem nas ditaduras militares, civis ou teocráticas. A este grupo pertenciam os exilados políticos brasileiros: muitos deles encontraram refugio na Suíça. Um dos mais conhecidos refugiados foi o educador Paulo Freire que morou onze anos em Genebra.

O terceiro grupo de migrantes é constituído por pessoas não forçadas por pressão política a deixar sua terra nem atraídas por outro país específico. São principalmente jovens formados e bem informados que, na verdade, gostariam de morar na pátria para trabalhar e desenvolvê-la, mas sentem-se excluídos em seu próprio país, seja em razão de estruturas injustas e de políticas públicas inadequadas. É o caso, por exemplo, da reserva do mercado de trabalho – o chamado nepotismo -, da escassez de oferta de educação de qualidade, da falta de saneamento básico e de atendimento à saúde.

Pesquisa sobre os brasileiros na Suíça

A maioria dos brasileiros residentes na Suíça pertence a este terceiro tipo de migrantes. O novo fluxo de emigração do Brasil iniciou-se a partir de 1985 e afigura-se muito mais intenso e persistente do que o das décadas de 60 e 70. Para conhecer com mais profundidade as razões que levaram os migrantes a deixarem sua pátria, entrevistamos brasileiros que moram na Suíça. Trata-se de uma amostra selecionada de residentes legais, com um perfil sociodemográfico que corresponde ao universo dos brasileiros na Suíça.

A pesquisa foi realizada em 2000 e 2001 em vários centros urbanos e em algumas zonas rurais. Os resultados da pesquisa foram publicados no livro “Cidadania, exclusão, migração: Brasileiros na Suíça”, Ed. Liber Livros, lançado em 18.08.2006 em Natal-RN.

Aleatoriedade das políticas públicas

Um dos motivos de emigração mencionados é a insegurança econômica e política reinante no Brasil, quando por exemplo Collor – o primeiro presidente da República democraticamente eleito após o regime militar – no dia seguinte ao da sua posse decretou o confisco monetário.

Em vez de promover ou no mínimo proteger a poupança do povo, base do desenvolvimento econômico de cada país desenvolvido, Collor confiscou as economias populares. Durante a campanha eleitoral ele prometeu acabar com a inflação e a corrupção (“moralização da política”) e promover o crescimento econômico.

Entretanto, suas políticas econômicas produziram efeitos contrários: a inflação anual chegou a 1.477%, a economia entrou em profunda recessão, com um crescimento negativo da renda per capita da ordem de -6% em 1990, enquanto a corrupção atingiu níveis que levaram o parlamento a depor o presidente.

Os governos seguintes conseguiram segurar a inflação, mas o crescimento econômico permanece fraco, incapaz de oferecer um número suficiente de novos empregos.

Além disso, a corrupção aumentou consideravelmente, sobretudo no parlamento. O que mais preocupa é a ausência de um plano de desenvolvimento de longo prazo que ofereça à população, sobretudo aos jovens, a perspectiva de um desenvolvimento econômico e social sustentável e sólido. A falta dessa perspectiva, muitas vezes, é motivo para a emigração.

Em busca do mercado de trabalho com salários dignos

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 define de forma clara o que é um salário digno. O salário do trabalhador deve ser “capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social” (art. 7º). O valor desse salário, chamado pelos sindicatos de “salário necessário” é calculado mês por mês, conforme o preço da cesta básica; ele é aproximadamente cinco vezes mais alto do que o salário mínimo oficial pago pelos empregadores públicos e privados no Brasil.

A discrepância entre os salários efetivamente pagos e os preceituados pela Carta Magna é responsável pela pobreza e o desânimo de parte dos trabalhadores e de suas famílias. Como muitos jovens conhecem bem os direitos do cidadão, sobretudo os referentes à remuneração, o não cumprimento dos mesmos pelos empregadores constitui-se mais uma razão para procurar um país onde a remuneração do trabalho iguale ou supere o salário necessário.

A pesquisa mostra que graças a essa remuneração muitos brasileiros gradativamente conquistaram uma estabilidade econômica que permite, em vários casos, enviar regularmente parte de suas economias aos familiares no Brasil.

Safira Bezerra Ammann, socióloga e assistente social, é natural de Caicó-RN, Brasil.

Obras, entre outras: “Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil”, Editora Cortez, 1987;

“Participação Social”, Editora Cortez, 1980

Co-autora, com Paul Ammann, de: “Cidadania, Exclusão e Migração”, publicação oficial dia 18 de agosto pela Liber Livros, Brasília.

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