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Bufões e piratas também brigam por votos

O vice-presidente do Partido Pirata Pascal Gloor, à esquerda, e o presidente Denis Simonet. O partido vai apresentar 57 candidatos nas eleições federais. Keystone

Anti PowerPoint, Piratas, sem partido, Animais, Bufões: na Suíça, todos estes grupos e ainda outros têm partidos políticos dedicados a sua causa.

As eleições legislativas da Suíça deste ano, em 23 de outubro, terão cerca de 3600 candidatos concorrendo às mais de 200 cadeiras para o Senado e a Câmara dos Deputados atribuídas aos 26 cantões do país.

No cantão de Zurique, cerca de 20 diferentes partidos estão representados na lista eleitoral.

Ao lado dos partidos tradicionais, com dezenas de milhares de membros, estão o Partido dos Bufões da Suíça, fundado em 2011 e que tem 19 pessoas que “curtem” na sua página do Facebook; o Partido dos Sem Partido, fundado em junho e que tem cerca de 200 membros; Subitas, antigo Partido dos Homens da Suíça; e o Partido Pirata da Suíça, um desdobramento do partido sueco que se tornou um movimento internacional com partidos ativos em mais de 50 países.

Seria fácil considerar esses partidos como uma brincadeira, um pouco de humor para aliviar uma longa campanha eleitoral que, no final das contas, não deve provavelmente mudar grande coisa no Congresso suíço.

Mas, enquanto esses partidos trazem nomes estranhos ou causas incomuns, a maioria está falando sério sobre o impacto que desejam ter.

Com 1400 membros, o Partido Pirata da Suíça defende a liberdade da Internet e a proteção de dados e da privacidade e está lançando, em outubro, 57 candidatos em sete cantões.

“Acreditamos que vamos conseguir um bom resultado, e que seria bom para a Suíça que conseguíssemos algumas cadeiras, mas mesmo se não conseguirmos é importante que as pessoas entendam a nossa causa”, declarou à swissinfo.ch Denis Simonet, presidente do partido.

Presidente do Partido Sem Partido (Parteifrei, em alemão) Hans-Jacob Heitz disse que fundou o partido porque os grandes partidos gastam mais tempo discutindo do que resolvendo os problemas que afetam os cidadãos comuns.

“A globalização mudou a situação, mas nossos partidos na Suíça não fizeram nenhuma alteração estrutural, eles ainda são os mesmos que no século passado e isso significa que o trabalho que eles fazem é mais ideológico. Eles estão lutando uns contra os outros ao invés de resolver os problemas”, disse Heitz.

Cantões grandes, partidos pequenos

A Suíça tem uma longa tradição de partidos pequenos e incomuns que conseguem pegar uma fatia do poder político. Atualmente há 12 partidos representados no parlamento e cinco deles – Esquerda Alternativa, Lega dei Ticinesi, União Democrática Federal, Partido Social Cristão e Verdes Liberais – têm apenas 3000 membros ou menos.

Andreas Ladner, do Instituto Suíço de Pós-Graduação em Administração Pública (Idheap, na sigla em francês) diz que o sistema eleitoral da Suíça – onde cada cantão recebe cadeiras na Câmara dos Deputados de acordo com o tamanho da população – é que impulsiona o nascimento de novos partidos.

“Não faz sentido ter um pequeno partido em um cantão onde existem muito poucos lugares para ganhar e você precisa de muita votos para ter uma chance”, disse.

“Mas se você olhar para cantões como Vaud, Zurique ou Berna, é muito mais fácil porque dois ou três por cento dos votos seriam suficientes para um assento.”

Conscientes disto, os partidos estão concentrando seus esforços nos cantões maiores. Simonet disse que o Partido Pirata tem grandes chances de ganhar assentos em Zurique e Berna.

Táticas e estratégias

Heitz disse que o maior desafio para o partido é mostrar sua existência. “Porque o Partido Sem Partido não é um partido tradicional, ele não tem espaço na mídia e não é convidado a participar de eventos eleitorais”, acrescentou.

Para contornar essa situação, Heitz disse que o partido estava se concentrando no contato com os eleitores através da mídia social e da distribuição de folhetos fora dos eventos de campanha.

Presidente do Partido Anti PowerPoint (APPP), que tem 2170 membros, Matthias Pöhm disse fundou seu partido como ferramenta de marketing para a venda de seu livro de auto ajuda para aprender a falar em público.

“Um partido político é algo que a mídia acompanha de perto. Se eu tivesse fundado uma associação, você não teria me chamado”, justifica Pöhm.

Segundo ele, com um “orçamento de nada”, a campanha do APPP seria projetada para atrair mais a atenção da mídia.

“Não adianta ficar distribuindo panfletos pelas calçadas. Deve ser algo fora do padrão para atrair a atenção da mídia e nos tornar conhecidos, aí então podemos ter uma pequena chance de conseguir o voto das pessoas.”

Questões específicas

Uma pergunta óbvia para os partidos que abordam um problema específico, como o Partido Pirata ou o APPP, é a forma como os seus candidatos, se eleitos para o congresso nacional, votarão as questões que não fazem parte de sua plataforma, como questões de política externa ou fiscal.

Presidente da SecondosPlus, um grupo de interesse fundado para promover a questão dos imigrantes, Ylfete Fanaj disse que, embora o grupo esteja representado para as eleições de outubro, a maioria dos membros Secondos já são candidatos de outros partidos maiores.

“Só somos um grupo de interesse porque só temos o tema das questões de integração e migração”, disse Fanaj. “Se fôssemos um partido deveríamos também tomar posições sobre outros temas como a economia ou o meio ambiente.”

Simonet disse que os candidatos piratas postam suas opiniões on-line para que as pessoas “se informem” sobre a posição de cada membro do partido sobre outras questões.

“Quem vota pirata, vota em uma pessoa. Os Piratas vão agir com suas melhores intenções, eles vão votar o que eles acham que é melhor”, garante Simonet.

Partido Anti-PowerPoint: “Queremos que as apresentações chatas em PowerPoint* desapareçam do planeta e que o programa se torne mais emocionante e mais interessante”.

Partido Sem Partido: “A plataforma do partido não é nem de esquerda, nem de direita e permite que os candidatos decidam. De acordo com os estatutos do partido, os candidatos têm um consenso de um estilo político orientado em fatos”.

Partido Pirata da Suíça: “A revolução digital tem afetado todas as áreas da vida. Controle pessoal de informações pessoais, acesso livre ao conhecimento e à cultura, bem como a proteção da esfera privada são as bases de uma futura sociedade da informação”.

Partido dos Animais da Suíça: “… é composto de pessoas que estão empenhadas em defender os interesses dos animais na política, na economia e na sociedade. O partido fundamenta suas ações na ética, sustentabilidade e respeito.”

Partido dos Bufões da Suíça: “O Partido dos Bufões sabe que não sabe nada. Pelo menos somos honestos, não pretendemos ter respostas para tudo. Não temos uma plataforma que iremos contradizer mais tarde. Baseamos nossas decisões sobre o agora.”

SecondosPlus: Para avançar os interesses dos imigrantes dentro do processo político. A liberalização do processo de naturalização, direitos de voto para os imigrantes.

Fonte: sites de partidos

Adaptação: Fernando Hirschy

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