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Buscando uma agricultura mais aberta e inovadora

Bernard Lehmann diz que os agricultores suíços devem investir agora para conquistar novos mercados. Keystone

Os agricultores suíços são contra a concorrência externa, mas o novo Secretário da Agricultura da Suíça fala à swissinfo.ch das oportunidades que existem no exterior.

Bernard Lehmann, professor de economia agrícola, assumiu um dos postos de alta responsabilidade do governo, dia 1° de julho. Ele terá que convencer um dos mais fortes lobbies do parlamento de que mudanças e mercados mais abertos trarão mais benefícios a todos.

swissinfo.ch: Qual será sua prioridade na Secretaria de Agricultura?

Bernard Lehmann: Estou assumindo ao mesmo tempo em que a legislação agrícola está sendo reformulada, com uma reforma do sistema de pagamento direto (veja ao lado), e que deve entrar em vigor em 2014. Implementar essa mudança será uma das minhas prioridades.

Alguns grupos influentes também se opõem à abertura da agricultura suíça para o mercado europeu. Outros acreditam que não temos escolha a não ser seguir esse caminho. Acho que precisamos preparar o setor agrícola para essas mudanças, e isso vai ser outra de minhas prioridades. Mas não com ameaças ou pressões, como aconteceu nos últimos 20 anos. Sim, temos que incentivar os profissionais da agricultura para que implementem mudanças em suas estruturas, ofertas e posicionamento de seus produtos. Tem que haver o desejo de abrir o mercado e menos medo dessa liberalização.

swissinfo.ch: A Câmara dos Deputados pediu recentemente o fim das negociações agrícolas com a União Europeia. Isso pode ser um problema para vocês?

BL: Teremos que encontrar um meio termo entre os diferentes grupos de interesse envolvidos no debate agrícola com o ministro da Economia, Johann Schneider-Ammann. A Câmara dos Deputados pediu que as negociações fossem interrompidas, mas o Senado ainda precisa discutir o assunto. E como o governo é responsável pelas negociações, ele irá decidir se leva em conta este pedido. Pode ser que o parlamento influencie o governo.

Mas os nossos objetivos a longo prazo já estão definidos, e a tarefa será administrar a transição da melhor maneira possível, talvez um pouco mais do que o planejado.

swissinfo.ch: Quais são os pontos fortes do setor agrícola suíço no estrangeiro?

BL: Os consumidores na Europa e em todo o mundo estão cada vez mais cientes dos riscos de comprar produtos anônimos ou que são muito baratos. O posicionamento dos produtos suíços em mercados estrangeiros depende de nossa política ambiental e sanitária que é muito restritiva. No entanto, as restrições de hoje podem muito bem se tornar os padrões de amanhã. Os investimentos realizados agora pelos agricultores suíços poderiam permitir-lhes conquistar mercados antes de outros.

swissinfo.ch: O custo da agricultura na Suíça significa que o setor nunca poderá ser competitivo como as grandes nações agrícolas. Como justificar a progressiva liberalização e globalização da agricultura?

BL: Temos que ver as vantagens desta competição global. Ela aguça as competências empresariais e incentiva a inovação, enquanto que o protecionismo paralisa tudo. A globalização significa que, para se destacar, você deve produzir algo específico para evitar de ser engolido por um oceano de produtos similares. Antes, quem era protegido conseguia obter bom preço, sem necessariamente fornecer o melhor produto. No futuro, os melhores produtos irão obter os melhores preços.

Mas as forças do mercado devem ser mantidas em xeque por critérios como sustentabilidade econômica, ambiental e social. Na Suíça, trabalhamos muito para garantir que as normas ambientais e sociais sejam respeitadas.

swissinfo.ch: O senhor mencionou o meio ambiente. O senhor come produtos orgânicos?

B.L.: Cerca de 30 a 40%, em casa. Mas como cientista, é difícil argumentar a favor ou contra a agricultura orgânica. Ela tem aspectos interessantes, mas não é uma “bala de prata”.

Por exemplo, há três biliões de famílias que atuam no setor agropecuário, dos quais dois e meio bilhões são orgânicos por força da situação, pois não podem pagar fertilizantes ou pesticidas.

Muitas pessoas compram produtos que são rotulados como orgânicos porque associam isso com uma forma mais “humana” da agricultura, mais artesanal. Mas para mim as vantagens da agricultura orgânica e da convencional devem ser combinadas.

Quanto à possibilidade dos organismos geneticamente modificados (OGM) poderem desempenhar um papel, eu não sei. Estou preocupado porque teremos que decidir se vamos continuar com a moratória sobre os OGM na agricultura.

Do ponto de vista econômico, eu diria que as empresas agroquímicas não conseguiram demonstrar nenhuma vantagem comercial dessa tecnologia que faria valer a pena tê-la no setor agrícola suíço. Mantê-la longe de nossa produção poderia ajudar os nossos agricultores a conquistar novos mercados.

O setor agropecuário suíço ocupa um terço do território do país, mas representa o ganha-pão de menos de 3% da população e 1% do PIB.

Os agricultores suíços produzem cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população e pelos animais no país.

Cerca de 10% das fazendas do país são consideradas orgânicas.

A agricultura e a silvicultura são o quarto maior grupo profissional no parlamento suíço.

A política agrícola suíça inclui pagamentos diretos como compensação por serviços comunitários e ambientais prestados pelos agricultores.

Estes pagamentos foram introduzidos em 1993 como parte de um pacote de reforma abrangente.

O núcleo dessas reformas foi a eliminação gradual da intervenção no mercado. Durante a década de 1990, as garantias estatais para os preços e mercados foram gradualmente eliminadas, fazendo com que os ganhos dos agricultores diminuissem substancialmente.

Desde 1999, todos os pagamentos diretos (cerca de 2,8 bilhões de francos por ano) têm sido baseados no desempenho ecológico. Isso garante que os métodos ecológicos sejam utilizados em todo o país.

O sistema está sob escrutínio, com a nova legislação proposta. Se aceito, serão implementados cinco tipos de pagamentos:

Cultivo da paisagem

Segurança alimentar

Manutenção e promoção da biodiversidade

Qualidade da paisagem

Bem-estar animal além das normas legislativas.

Adaptação: Fernando Hirschy

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