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Bussaca é “vítima da política de Blatter”, diz mídia

Busacca mostra cartão vermelho para o goleiro sul-africano Itumeleng Khune: uma decisão correta, mas aparentemente "fatal" para o árbitro. Keystone

A Copa 2010 acabou para Massimo Busacca, que antes do torneio foi considerado o melhor árbitro do mundo e cotado para apitar a final. Para a mídia suíça, ele é vítima da política do presidente da Fifa, Sepp Blatter.

Depois de apitar corretamente um jogo na primeira fase, Busacca foi descartado junto com outros árbitros que cometeram erros graves. E agora Blatter admite rediscutir o uso de tecnologia a serviço da arbitragem.

Durante uma recepção na embaixada da Suíça em Pretória, antes do Mundial na África do Sul, Blatter havia elogiado Busacca como “um árbitro maravilhoso, do qual ainda se ouvirá falar muito”.

O juiz oriundo do Ticino (sul da Suíça), porém, caiu em desgraça em 16 de junho, quando apitou o jogo Uruguai contra África do Sul (3 a 0), no estádio Loftus-Versfeld, em Pretória. Ele apitou bem e sem problemas, até que, aos 32 minutos do segundo tempo, expulsou o goleiro Itumeleng Khune por ter derrubado Luis Suarez na área e marcou pênalti para o Uruguai.

Depois da partida, o técnico da equipe anfitriã, Carlos Alberto Parreira, declarou: “Não costumo falar de arbitragem, mas essa foi certamente a atuação mais fraca de toda a Copa. Quando estávamos melhor na partida, ele descobriu um pênalti e expulsou injustamente nosso goleiro. Também inverteu faltas, foi irônico, pareceu muito injusto desde o início e isso irritou todo mundo. Espero que ele não se comporte mais assim em nenhum jogo. Aliás, espero nunca mais ver a cara dele, porque ele provou que não merece estar aqui”, atacou Parreira.

A pressão exercida pelo país anfitrião parece ter sido grande e surtiu efeito, presume o jornal Tagesanzeiger.ch, de Zurique. Busacca foi descartado pela Comissão de Arbitragem da Fifa e mandado para casa junto com outros árbitros que, de fato, cometeram erros graves.

Entre os 19 que ainda têm chances de apitar a final está o saudita Khalil Al Ghamdi, que distribuiu nove cartões amarelos e um vermelho na partida entre Chile e Suíça (1 a 0).

Busacca, que antes da Copa era um dos cotados para apitar a final, engoliu as críticas de Parreira. “Não respondo a críticas. Todo mundo viu o que aconteceu”, disse ele, segundo o Le Matin, de Lausanne.

O jornal questiona: será que ele pensou que a eliminação do país organizador, que lhe foi atribuída na imprensa, o poderia penalizar? “Se este fosse o caso, isso seria grave. De fato, o árbitro suíço foi sacrificado para atenuar a decepção dos sul-africanos, primeiro país organizador a ser eliminado na primeira fase”, afirma o Le Matin.

Parreira procurou bode expiatório

O jornalista Nicolas Jacquier, do mesmo jornal, pergunta qual foi o crime cometido pelo número 1 mundial da arbitragem para merecer tal punição? E responde: “O de ter apitado muito honestamente a única partida para a qual foi escalado, justamente o jogo que precipitou o fracasso esportivo da África do Sul. Nesse aparente acerto de contas políticas, o suíço teve de se curvar diante de Carlos Alberto Parreira, que procurou um bode expiatório.”

Segundo Jacquier, “já envolvida no escândalo dos erros repetidos de arbitragem, a Fifa vê assim sua credibilidade ainda mais arranhada. Em vez de expulsar Busacca, deveria dar um cartão vermelho a Parreira”.

Urs Meier, chefe dos árbitros suíços, disse esperar “que Massimo não seja vítima de um jogo de influência malsão, mas, na verdade, não estou muito seguro disso. Busacca fez um jogo perfeito entre África do Sul e Uruguai. Tudo esteve OK, apesar de algumas situações quentes. Somente as críticas de Parreira estavam fora de lugar.”

Meier criticou a Comissão de Arbitragem da Fifa por não ter escalado novamente Busacca logo depois do jogo Uruguai x África do Sul, “a fim de desestabilizar seus críticos. Não deixá-lo arbitrar é como se a Argentina deixasse Messi no banco de reservas.”

Comentarista da rede de televisão alemã ZDF, Meier disse que a “final da Copa deveria ser apitada pelo melhor árbitro, e o melhor é Massimo. Se há alguém que não deveria voltar para casa, é ele.”

“Expulsão tem fundo político”

O jornal Tagesanzeiger.ch cita outros árbitros que nesta quinta-feira (1°/7) voltam para casa, como Jorge Larrionda, Roberto Rosetti, Koman Coulibaly e Stéphane Lannoy. “A decisão contra eles é compreensível devido ao fraco desempenho. Mas o caso de Busacca tem um fundo político.”

O diário de Zurique acrescenta que as declarações de Parreira sobre o árbitro suíço “normalmente são inaceitáveis, mas a Fifa calou, Blatter calou. E ele fez isso com um bom motivo. Ele não quis irritar os anfitriões.”

“Eles precisam dele, como ele precisa de todos os africanos: ele não quer arranhar a imagem de homem que levou a primeira Copa do Mundo para o continente africano. Sobretudo, ele quer se reeleger presidente pela terceira vez no ano quem vem – e aí os votos dos 53 países africanos só lhe podem fazer bem”, conclui o Tagesanzeiger.ch.

Contatado pela imprensa suíça, Busacca não quis comentar sua “expulsão” do quadro de arbitragem que continua no Mundial. Antes de embarcar de volta à Suíça, ele disse: “Que ao menos me digam porque não apito mais.”

Tecnologia para arbitragem

Blatter não quis comentar a “expulsão” de Busacca na terça-feira. Em vez disso, admitiu rediscutir o uso da prova de vídeo para ajudar a arbitragem, o que antes da atual Copa do Mundo considerava impraticável.

Diante dos erros graves cometidos pelos árbitros nos jogos entre México e Argentina e Alemanha e Inglaterra, o dirigente admitiu que o uso da tecnologia a serviço da arbitragem deverá ser rediscutido em julho, em uma reunião em Cardiff, no País de Gales.

“É óbvio que depois do que vivemos até agora seria um absurdo não reabrir a discussão sobre o uso da tecnologia. A princípio, só vamos voltar a discutir o uso na linha do gol”, disse.

Questionado sobre o assunto, Busacca mostrou-se cético. “O homem não deve perder o controle e tornar-se escravo da tecnologia. Se queremos suprimir os erros, é preciso suprimir o ser humano que os comete e programar um robô para substituí-lo. Que seria do futebol se cada jogo fosse interrompido em meio à dúvida. Às vezes, os especialistas não chegam a um acordo mesmo após ver as imagens. Isso poderia levar a discussões intermináveis e a uma multiplicação das pausas. O que nós faríamos enquanto isso?”, questionou.

“Enjoy the game”

Em conversa com swissinfo.ch, antes de viajar para a África do Sul, Busacca já havia demonstrado esse ceticismo em relação ao uso da tecnologia a serviço da arbitragem, à exceção do chip na bola.

“Nós admitimos que jogadores de futebol, que ganham milhões e milhões, cometam erros. Porque não aceitar que um árbitro, em dez decisões importantes, também possa cometer um erro”, disse.

Ele disse que seu slogan para este Mundial era “enjoy the game. Desejo que os jogadores e milhões de torcedores simplesmente possam desfrutar o torneio – e que vença o melhor”. Busacca não podia prever que não teria muito a desfrutar.

Na ocasião – na “noite do futebol suíço”, em Berna (24/5) – só “lamentou” que não poderia apitar a final porque a Suíça chegaria lá. Mas ambos foram eliminados na primeira fase: a seleção suíça por sua “incapacidade” e Busacca – segundo a mídia de seu país – por sua “honestidade e pela política de Blatter”.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)

A Fifa diminui o número de árbitros à medida em que a Copa se aproxima do final. Normalmente, para isso é considerado o desempenho anterior dos juízes. Estes são os 19 que continuam na África do Sul:

Héctor Baldassi (Argentina)
Pablo Pozo (Chile)
Oscar Ruiz (Colômbia)
Carlos Eugênio Simon (Brasil)
Olegário Benquerença (Portugal)
Frank De Bleeckere (Bélgica)
Viktor Kassai (Hungria)
Wolfgang Stark (Alemanha)
Alberto Undiano (Espanha)
Howard Webb (Inglaterra)
Michael Hester (Nova Zelândia)
Benito Archundia (México)
Carlos Batres (Guatemala)
Marco Antonio Rodríguez (México)
Jerome Damon (África do Sul)
Eddy Maillet (Seychelles)
Khalil Al-Ghamdi (Arábia Saudita)
Ravshan Irmatov (Uzbequistão)
Yuichi Nishimura (Japão)

Os dez melhores árbitros do mundo em 2009, segundo o ranking da Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS), sediada em Bonn (Alemanha):

1. Massimo Busacca(SUI) 225 pontos.
2. Roberto Rosetti(ITA) 147.
3. Howard Melton Webb (ING) 52.
4. Jorge Luis Larrionda (URU) 47.
5. Frank De Bleeckere (BEL) 45.
6. Luis Medina Cantalejo (ESP) 25.
7. Manuel E. Mejuto González (ESP) 22.
8. Carlos Luis Chandía Alarcón (CHI) 19.
9. Wolfgang Stark (ALE) 19.
10. Héctor Walter Baldassi (ARG) 17.

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