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Câmara reconhe o genocídio armênio

Massacre de armênios em Alep (Síria) em 1919. Keystone

a Câmara suíça dos deputados aprovou, terça-feira, o reconhecimento do genocídio armênio de 1915.

O governo era contra mas a maioria dos deputados privilegiu as considerações históricas e humanitárias. O governo turco reagiu imediatamente.

A decisão foi tomada por 107 votos a 67 e 11 abstenções na Câmara dos Deputados. Os socialistas e os verdes votaram em bloco a favor. Os outros votos foram de parte dos democratas-cristãos, radicais e até da UDC (partido mais a direita entre os 4 maiores partidos suíços).

A moção aprovada foi apresentada pelo deputado do Partido Democrata-Cristão, Jean-Claude Vaudroz, de Genebra. O texto solicitava à Câmara o reconhecimento do genocício armênio de 1915 e o encaminhamento da decisão pelo governo suíço às autoridades turcas, pela via diplomática.

Ela não implica, portanto, o reconhecimento do genocídio armênio pelo governo suíço, como era o caso de outra moção parlamentar rejeitada em 2001.

Primazia da realidade histórica

Os defensores do reconhecimento argumentaram que foi a “realidade histórica” do genocídio armênio que motivou a elaboração da Convenção da ONU contra o genocídio.

Vários deputados insistiram que a precupação com a coerência e em evitar outros crimes do gênero levou a Suíça a aderir à Convenção da ONU, em 2000, e que por isso ela deve reconhecer o genocídio armênio.

A verdade histórica, o dever de memória e de justiça em relação à vítimas e sobreviventes devem ser reconhecidos, sem que isso represente uma condenação à Turquia, sublinharam vários deputados.

Privilegiar o diálogo

Os adversários do reconhecimento apresentaram principalmente argumentos econômicos, afirmando que a Turquia é um Estado amigo e importante parceiro comercial da Suíça.

Não se deveria, portanto, tornar o diálogo com a Turquia mais difícil e debilitar as relações econômicas.

Até agora, 13 parlamentos nacionais, entre eles o da Rússia, Canadá, França e Itália já reconheceram o genocídio armênio e Ankara não rompeu relações diplomáticas nem comerciais com esses países.

Governo reticente

O governo teria preferido que a moção fosse rejeitada. É importante para cada Estado a memória coletiva mas as declarações políticas vindas do estrangeiro não têm obrigatoriamente o efeito desejado, lembrou a chanceler suíça Micheline Calmy-Rey.

Disse que ainda que a moção pode levar a Turquia a reforçar sua atititude defensiva. A ministra citou o exemplo da moção adotada pela Assembléia Legislativa do Cantão de Vaud, que provocou a anulação de sua viagem a Ankara, no início de outubro.

Reação previsível

O Ministério turco das Relações Exteriores condenou veementemente e rejeitou a decisão da Câmara.

Para a Turquia, “é inaceitável apresentar unilateralmente como um genocídio (…) esses acontecimentos ocorridos nas condições muito particulares da Primeira Guerra Mundial”.

“O Parlamento suíço tomou essa decisão por razões de política interna e sem considerar as relações entre a Suíça e a Turquia nem os sentimentos dos turcos nesse país. Ele tem, portanto, a responsabilidade das conseqüências negativas que essa decisão pode acarretar”, precisa o comunicado do Ministério turco.

ONGs satisfeitas

Por outro lado, a Associação Suíça-Armênia e Sociedade pelos povos ameaçados reagiram “com grande satisfação” à decisão da Câmara dos Deputados.

“A Suíça deu um sinal claro de justiça pelas vítimas do genocídio e seus descendentes”, afirmaram em comunicado. “Assim, ela dá uma contribuição importante para a prevenção de outros crimes contra a humanidade”.

swissinfo com agências

Historiadores datam a noite de 24 a 25 de abril de 1915 como o início da deportação de milhares de armênios da Anatólia para o deserto da Mesopotânia.
Em dois anos, as deportações e massacres causaram entre 500 mil a 1,5 milhão de mortos, sobre uma população estimada em 2 milhões de pessoas.

– Até agora, a Suíça não reconhece oficialmente o genocídio como tal, apesar de várias intervenções parlamentares.

– A última que havia sido rejeitada pela Câmara, foi a do deputado federal Joseph Zisyadis, em março de 2001.

– Em 2002, o deputado federal Jean-Claude Vaudroz, apresentou outra moção solicitando que Câmara reconhecesse o genocídio e que o governo a transmitisse pela via diplomática.

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