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“Vamos pressionar o Japão e a Islândia”

Uma baleia pescada em nome da pesquisa cientifica no porto da ilha japonesa de Kushiro em setembro de 2013. Keystone

A Comissão Baleeira Internacional (CBI) adotou critérios mais estritos para enquadrar a caça científica praticada principalmente pelo Japão. Esse é um dos temas que ocupará seu novo presidente, o biólogo suíço Bruno Mainini.

A nomeação do natural de Zurique, que representa a Suíça na CBILink externo desde 2005, foi bem acolhida por ONGs como o WWF ou a Sociedade Suíça de Estudos e Proteção dos Cetáceos. Funcionário da Secretaria Federal da Segurança Alimentar e de Assuntos Veterinários  (OSAVLink externo), Bruno Mainini sabe o trabalho que o espera na CBI, onde metade dos 88 países-membros são favoráveis à caça.

La liberté : Em que a Suíça pode contribuir na Comissão Baleeira?

Bruno Mainini: A Suíça é vista como um país que busca soluções. Esse continuará a ser meu objetivo. Pretendo notadamente evitar que os debates não ocorram num clima agressivo, como já ocorreu às vezes. É preciso imaginar que na sala se encontram não somente delegações, mas também representantes de organizações de defesa da natureza. Quando sai o resultado de uma votação, os vencedores aplaudem, como em um jogo de futebol. Em 2012 no Panamá, já pudemos evitar esse tipo de exageros. 

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La Liberté : É preciso proibir a caça comercial?

B.M.: Há um grande mal-entendido no espírito do público sobre os objetivos da comissão e de sua Convenção para regulamentar a caça à baleia. Trata-se de um instrumento para regulamentar a caça de cetáceos, não sua proteção. É por isso que as caças comerciais são autorizadas. Não podemos a priori interditá-las, mas devemos nos empenhar para que sejam limitadas.

La Liberté : Porém, existe uma moratória sobre a caça comercial desde 1986. Qua é a situação?

B.M.: Na época, a Noruega tinha depositado uma reserva contra essa moratória. É um instrumento legal previsto na convenção. Isso permitiu aos noruegueses de retomar a caça em sua costa, em 1993. As Islândia fez o mesmo e retomou a caça em 2006. O problema é que a Islândia caça cetáceos demais, quase 200 no ano passado. Está em alta constante, não conforme às nossas quotas. Será necessário, portanto, pressionar a Islândia nos próximos anos.

La Liberté : O que o senhor acha da caça científica?

B.M. : Nossa convenção reconhece três tipos de caça: comercial, aborígene (dita de subsistência, praticada especialmente por esquimós, ndlr) e científica. A comissão não pode, portanto, proibir a caça científica ao Japão, que ele pratica há mais de 20 anos. O Japão, porém, com uma queixa da Austrália, foi condenado em março por uma decisão da Corte Internacional de Justiça, porque estava fazendo caça comercial na Antártida, com o pretexto de caça científica.

Depois dessa decisão, alguns países pedem à Comissão Baleeira para tomar providências.

Os japoneses deverão apresentar brevemente um novo programa de pesca cientifica. Eles não vão renunciar. Então, vamos tentar fazer um pouco de pressão sobre eles. Podemos particularmente reduzir o que for possível o número de cetáceos previsto no programa.

La Liberté : É possível se contentar de amostras para biópsia?

B.M. : Sempre haverá cientistas que para dizer o contrário. E não está excluído que haja pedidos em que a morte da baleia seja necessária. Mas nós não queremos mais que a caça científica leve à morte de 1.000 cetáceos por ano, como no passado. Queremos, portanto, avaliar todos os meios não letais. E só depois daremos nosso acordo, mas para um número pequeno de baleias. É nosso objetivo principal. 

“A Suíça pode mudar muitas coisas”

“Para organizações como a nossa, a nomeação de Bruno Mainini é positiva”, afirma Max-Olivier Boucoud, diretor da Sociedade Suíça de Estudo e Proteção dos Cetáceos. “A Suíça pode mudar muitas coisas em favor das baleias. Bruno Mainini traz essa esperança.”

A Suíça seria, por exemplo, favorável à criação de novas reservas de baleias em alto mar. Em contrapartida, ela não é contra a volta da caça comercial. “A Suíça acredita numa caça sustentável e planejada cientificamente. Posso compreender”, acrescenta Max-Olivier Boucoud. “Mas ela se baseia em projeções científicas especulativas. Ora, os oceanos vivem atualmente grandes mudanças (acidificação, aquecimento, plastificação, etc). Ainda ignoramos a taxa real de mortalidade das baleias devido à caça ilegal, à poluição química e sonora, às colisões.”

Em 2013, segundo a Comissão Baleeira Internacional (CBI), 1645 baleias foram caçadas, entre elas 417 com pretexto científico. Max-Olivier Bourcoud quer acreditar que a decisão da Corte Internacional de Justiça, condenando o Japão, pode mudar as coisas. “Esse tribunal obteve mais em 2014 pela proteção das baleias do que a CBI – que na base era um clube de baleeiros – em vários anos. Com seu veredicto, ditou critérios estritos de avaliação de um programa de caça científica. Podemos esperar que, no futuro, a CBI se apoiará nessas condições.”

Max-Olivier Bourcoud continua: “A caça científica é uma válvula de escape oferecida pela CBI aos japoneses para se abastecer em carne de baleia. É muito ambíguo, hipócrita. O objetivo das pesquisas explicitado pelos japoneses é de saber em que medida os cetáceos representam uma concorrência para a pesca, mas também conhecer melhor a alimentação e a reprodução delas. Ora, já faz muito tempo que os biólogos ocidentais estudaram tudo isso, sem ter necessidade de matar um único cetáceo. Resta que capturando o animal para seu estômago e seus ovários, alguns quilos vão para os laboratórios e toneladas de carne vão para os supermercados.”

Kessava Packiry, La Liberté

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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