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Cada vez mais “mulas” de drogas presas no aeroporto

Um policial suíço avalia radiografia de uma "mula" presa em fevereiro de 2010 no aeroporto de Genebra. A radiografia mostra as cápsulas contendo 1,7 quilos de cocaína no seu estômago. Keystone

Cada vez mais pessoas são presas ao transportar drogas no corpo quando desembarcam no aeroporto de Zurique.

As chamadas “mulas” colocam em risco a vida em troca de pequenas somas em francos, como explica um policial em entrevista à agência suíça de notícias ATS.

Somente nos primeiros sete meses do ano corrente já foram presos 24 mulas no aeroporto da maior cidade suíça. O número corresponde à totalidade dos que foram presos durante 2010 (26). Há dois anos, apenas nove pessoas foram detidas, sendo que em 2008 o número chegou a 18. “A tendência é de ter cada vez mais casos”, afirma o chefe da polícia no aeroporto, Stefan Aepli.

Em sua grande maioria, as mulas transportam cocaína em cápsulas introduzidas nos seus corpos. A maioria das pessoas engole as cápsulas. “Porém existem os que transportam no ânus ou na vagina.”, explica o policial. (ler artigo “Um brasileiro nas prisões suíças”, em matéria relativa, à esquerda).

Segundo Aepli, cada cápsula contém uma média de 12 gramas. As mulas costumam transportar “apenas” um quilo de cocaína. Por essa razão não ocorre um aumento automático da quantidade de droga apreendida, apesar do maior numero de detenções.

Posteriormente essas pessoas preenchem o estômago com várias das cápsulas: Aepli lembra o caso de um nigeriano, que entrou em um avião neste ano com 94 cápsulas no seu corpo. No total, ele transportava 1,7 quilos de cocaína. Porém o recorde foi batido por um homem há seis anos: 140 cápsulas.

Missionário “esquece” a Bíblia 

Frequentemente as mulas chegam de avião de diferentes pontos de partida na América do Sul, onde se planta a coca. Como explica Aepli, não existe um perfil típico dessas pessoas, mas a maioria é do sexo masculino, tem entre 25 e 50 anos e apresenta um comportamento diferenciado dos outros passageiros como um certo nervosismo.

Pistas sobre a passagem de possíveis “mulas” são transmitidas por fontes internas da polícia. “Trabalhamos em conjunto com os agentes da alfandega”. Ao mesmo tempo, muitos policiais tem um “nariz farejador” e sabem fazer as perguntas certas aos suspeitos. Em maio de 2011, um suposto missionário batista acabou sendo revelado como um transportador de drogas: ele havia “esquecido” sua Bíblia e foi convidado a ir à delegacia mais próxima.

Ali os agentes pedem um exame de urina. Se este der positivo, a polícia solicita automaticamente ao procurador uma ordem de investigação. Então o médico de plantão faz uma radiografia em que as cápsulas de droga podem ser reconhecidas. Finalmente a mula é levada a uma cela especial sem toalete.

Quando a pessoa necessita fazer suas necessidades, elas são obrigadas a utilizar um sanitário especial que “engole” as fezes. Um cano leva o material a uma caixa localizada em uma segunda sala. Os policiais limpam então as cápsulas e elas são apreendidas. Até os anos 1980, os suspeitos precisavam defecar em uma simples bacia.

Cinco mil francos pelo transporte perigoso 

As mulas não permanecem durante a noite no aeroporto, mas em uma cela da prisão na cidade de Zurique. A Promotoria precisa decidir em 48 horas após a detenção, se irá solicitar ao Juiz a prisão em custódia para o suspeito. Se este não for reincidente, a pena vai de dois a três anos, ressalta Aepli.

Além da prisão, o transporte das cápsulas também podem ter graves consequências para a saúde da mula: a ruptura de uma das cápsulas provoca a morte quase certa da pessoa. “Elas colocam sua vida em risco por questões financeiras. O pagamento pelo transporte vai de três a cinco mil francos”. Porém as mortes são extremamente raras. Aepli se lembra de apenas um falecimento nos últimos dois anos.

Porém um agente policial não pode se deixar influenciar pela situação pessoal dos suspeitos, lembra o chefe. “É preciso ter muita sensibilidade no interrogatório, pois nosso objetivo é descobrir os responsáveis”. As mulas são apenas os chamados “pequenos peixes”, mas que são responsáveis pela grande quantidade de entorpecentes apreendidos no aeroporto de Zurique: 287 quilos dos 352 apreendidos em todo o cantão em 2009. Em 2010, foram 107 quilos de 157. 

Segundo o Departamento Federal de Estatísticas, em 2010 foram cometidos 50.446 delitos relacionados ao consumo ou tráfico de entorpecentes, na Suíça.

Desses, 49,4% eram crimes ligados ao consumo de drogas, 39,1% a posse de entorpecentes, 8,6% ao tráfico, 1,7% à produção e 1,2% aos transporte de drogas.

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