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Cada vez menos padres na Igreja católica

Cadeiras vazias no Seminário da capela de Sion. swissinfo.ch

O número de padres da Igreja Católica Romana na Suíça declinou em um quarto nos últimos quinze anos, uma realidade que chega a colocar em jogo a viabilidade da Igreja no país.

Apesar da crise de vocações, alguns jovens ainda sonham em trajar a batina de padre. swissinfo visitou o Seminário de Sion e encontrou aqueles que ainda se mantém firmes na fé.

Construído em 1975, o Seminário de Friburgo, cidade localizada na parte oeste da Suíça, teria a capacidade para abrigar 28 candidatos ao sacerdócio. Atualmente, apenas nove dos simples quartos são ocupados pelos estudantes.

Porém seu diretor, o frade Pierre-Yves Maillard, cuja formação foi realizada no Seminário de Sion, se recusa a perder a batalha dos novos tempos. “A situação era pior no século XIV”, lembra-se.

Maillard vê o problema como o reflexo da sociedade que se distancia das igrejas. “É lógico que o fato de ter menos casamentos, batismos, fiéis e cristãos, diminua o espaço para que as novas vocações possam surgir”, conclui.

O declínio das vocações na última geração é um fenômeno dos países desenvolvidos, como Maillard ressalta. Partes da África, Ásia e América do Sul teriam na atualidade um número recorde de padres e seminarista. As estimativas vivem o seu ápice.

A duração normal de uma formação no Seminário de Sion é de sete anos, incluindo a combinação de estudo interno e universitários na área de teologia, liturgia, filosofia, psicologia e trabalho pastoral.

Apoio familiar

Como explica Maillard, os poucos candidatos suíços que se candidatam para a formação são originários de famílias praticantes e religiosas, que apóiam fortemente sua decisão.

“No meu caso, minha família era bem religiosa. Quando disse que gostaria de me tornar padre, eles reagiram de uma forma muito positiva e como uma grande alegria para todos. Meus pais também me ajudaram a encontrar meu caminho. Ao tomar a decisão final, eles ficaram super-alegres”, conta Pierre-Yves Pralong, estudante no segundo ano.

“Um aspecto estar entre poucos é que somos realmente como uma família. Nós estamos muito próximos e conhecemos bem um aos outros. Esse é o lado positivo do número reduzido de estudantes”, acrescenta.

A atmosfera na hora do almoço é convivial. Depois de dez minutos de reza e cantos na capela, os seminaristas e seus professores sentam juntos e começam a conversar.

Quando os debates chegam à questão da escassez de vocações, os jovens falam sobre o seu otimismo e a confiança no futuro.

“Uma coisa não podemos esquecer: a Igreja começou com 12 pessoas e eu estou esperançoso de que a situação irá melhorar. Um dia esses seminários estarão cheios de novo. Eu acredito nisso”, diz o estudante Jacques Papaux.

Fusão de paróquias

Os bispos, porém, estão menos convencidos da reversão dessa tendência já fortemente estabelecida. Algumas dioceses já começaram a fusionar as paróquias e formar equipes pastorais para cobrir áreas que, no passado, eram servidas por até sete padres.

As equipes dispõem de um padre e o resto do grupo é formado por diáconos, teólogos leigos e assistentes pastorais. Essas pessoas podem exercer diversas, mas não todas as funções de um padre.

“Quando menos padres tivermos, mais difícil será para assegurar os serviços semanais de domingo”, lamenta-se Judith Könemann, do Instituto Sociológico Pastoral Suíço.

O instituto publicou recentemente um relatório sobre a situação geral da Igreja católica na Suíça. Este mostra que o declínio no número de padres é muito mais pronunciado que o declínio do número de fiéis.

“Quando a taxa de mortalidade entre os padres diocesanos ultrapassa da longe o número de ordenações, a continuação do declínio do número de colaboradores é uma realidade esperada”, conclui o relatório.

O obstáculo do celibato

Könemann vê três razões para a escassez de padres: celibato, a perda do status social e o aumento exponencial do trabalho para o número reduzido dos padres que sobram.

“O celibato é uma escolha radical que pode ser um obstáculo para muitas pessoas”, concorda Maillard. Porém ele lembra que igrejas cristãs que permitem o casamento dos seus pastores também estão vivendo o mesmo problema de queda no número de vocações.

Maillard prefere uma análise de longo prazo frente à questão. “Estamos vivendo atualmente um período de recessão, que deve nos preocupar e ser causa para a uma reflexão mais aprofundada. Porém isso não significa uma catástrofe e também não é a primeira vez que ocorre”.
 

O Instituto Sociológico Pastoral Suíço publicou recentemente um estudo sobre a situação atual da Igreja católica: “A Igreja Católica na Suíça – números, fatos e desenvolvimento. 1996–2005”.

O relatório ressalta que, em 1970, praticamente a maioria dos suíços pertencia a uma das duas principais religiões, a Igreja Católica Romana ou a Igreja Reformada.

A partir dos anos 80, a maioria dos imigrantes era originária de países católicos, o que freou a queda do número destes fiéis no país.

No censo do ano 2000, apenas 3/4 da população se declaravam membros de uma das duas principais igrejas cristãs.

Entre 1991 e 2005, o número de padres católicos diocesanos na Suíça teve uma redução de 24,6%, de acordo com o relatório.

No mesmo período, o número de seminaristas caiu consideravelmente de 158 para 64 (sem incluir a diocese de Lugano).

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