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Centro futurístico para estudantes abre suas portas

A nova biblioteca pretende revolucionar a vida no campus. Keystone

O Centro Rolex de Ensino Experimental, uma obra arquitetônica debatida mundialmente, abre finalmente suas portas aos estudantes da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL).

O prédio radical, aberto e ondulado, desenhado pela renomada equipe japonesa de arquitetos SANAA, propõe se tornar o coração do campus universitário e simbolizar as ambições de longo prazo da EPFL.

“É muito audacioso, mas esse era o objetivo. Precisávamos inventar novos espaços”, explica o presidente da EPFL, Patrick Aebischer. “Queremos nos tornar um dos melhores institutos de tecnologia do mundo. Por isso necessitávamos desse tipo de edifício simbólico.”

Estendendo-se por um único espaço fluído de 20 mil metros quadrados – o dobro do tamanho de um campo de futebol – o prédio de concreto e vidro localizado a oeste de Lausanne abriga a nova biblioteca principal e suas 500 mil obras impressas.

Quatro grandes áreas de estudo para cerca de 900 estudantes, escritórios, um anfiteatro para conferências, biblioteca multimídia online, restaurantes, cafés e pátios externos completam o Centro Rolex de Ensino, como é conhecido o campus. O prédio fica aberto das sete horas da manhã até meia-noite, diariamente, desde segunda-feira (22 de fevereiro).

A estrutura branca e cinza ondulada, que mais lembra um pedaço de queijo Emmental, teve o custo orçado em 100 milhões de francos (US$ 92,5 milhões). A metade desse valor foi financiada pelo governo suíço e a outra metade, por investidores privados. Seu conceito arquitetônico pretende encontrar novos caminhos de estudo e interação entre os estudantes.

“De alguma forma imaginamos um parque, um espaço onde as pessoas possam se comunicar”, acrescenta o arquiteto Kayuyo Sejima.

Montes e vales

Embora retangular visto de cima, ao nível dos olhos o espaçoso centro dá uma impressão mais orgânica. No interior, ao invés de escadarias e andares, as suaves formas onduladas do pavimento formam pequenas colinas, vales e planaltos, atuando como barreiras sem muros entre as áreas de trabalho.

“Movimentos humanos não são lineares como em um trem, mas curvos em uma forma mais orgânica”, define Ryue Nishizawa para explicar o desenho da construção. “Com linhas retas nós apenas criamos encruzilhadas. Mas com curvas é possível criar interações mais diversas.”

Esse tipo de desenho original, que enfatiza a colaboração interdisciplinar em pesquisa e sociabilidade, encorajando encontros informais durante um café, deve ajudar a “quebrar as barreiras entre as áreas do conhecimento”, declara o presidente da EPFL.

O especialista em arquitetura Francesco della Casa, editor da revista suíça de desenvolvimento urbano Tracés, elogiava intensamente o audacioso prédio com características “muito femininas e não hierárquicas”.

“Há uma incrível riqueza espacial”, afirma. “Você está em um espaço confinado, mas ao mesmo tempo tem contato visual com o exterior e seus vizinhos.”

Aventura técnica

Mas a simplicidade orgânica do centro é enganosa. Por trás das bonitas e leves curvas e pisos inclinados e tetos ocultos, descritos pelo chefe de projeto Eric Maino como “um mil folhas (pastelaria) de complexidade”, exigindo soluções sob medida para cada elemento individual.

Os engenheiros disseram que inicialmente a gigantesca estrutura ondulada, com 14 “vãos” abertos no teto para permitir a entrada de luz, não era possível de ser construída. Explicação: a altura e capacidade de carga já indicavam que esta não seria capaz de suportar seu próprio peso. Mas após muitas reflexões, especialistas em construção de pontes trouxeram uma solução viável.

“Trata-se de um prédio construído em pontes”, revela Maino.

A construção de aço, madeira e concreto é feita de duas armações interiores, formadas por 11 arcos inferiores. A menor armação tem uma estrutura de quatro arcos, de 30 a 40 metros de comprimento, enquanto a maior armação é de sete arcos, com 55 a 90 metros de comprimento. Os arcos são mantidos por 70 cabos subterrâneos protendidos.

“Na minha experiência, esses são os arcos de concreto mais planos já construídos até hoje”, reforça o chefe de projeto.

Como o prédio é uma estrutura única, todos os elementos, incluindo o teto, têm de ser flexíveis para se adaptar a movimentos de minuto. Os tetos internos são articulados e as 700 fachadas curvas de vidro, a maior parte delas únicas, têm de se mover independentemente em quadros articulados.

Energia eficiente

O centro também é altamente eficiente no seu consumo de energia, tendo ganhado por isso até o cobiçado selo de qualidade ambiental. Durante a maior parte do dia é iluminado através de um sistema controlado de ventilação natural. Janelas com vidros duplos de alta qualidade e isolamento de teto e piso ajudam também a economizar energia.

“No entanto o projeto é criticado e mal compreendido por alguns arquitetos”, explica della Casa. “Eles necessitam tempo para descobrir que não existe nenhum modelo prévio desse tipo de construção. A Torre Eiffel foi muito criticada nos seus dias. Arquitetos trabalham muito com referências.”

Como os mais de quatro mil pesquisadores da Escola Politécnica e sete mil estudantes irão utilizar a sua nova biblioteca e área de estudo ainda precisa ser visto.

“O risco é que eles se sintam como em uma catedral”, reflete o editor. “O prédio é tão mágico que as pessoas necessitam de tempo para se acostumar nele.”

Simon Bradley, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Kazuyo Sejima (nascido em 1956) e seu parceiro (dez anos mais novo) Ryue Nishizawa, juntamente com Toyo Itu, Shigeru Ban e Tadao Ando, são os mais conhecidos arquitetos japoneses no mundo.

Em 1995 os dois fundaram o escritório de arquitetura Sanaa.

Sua primeira construção fora da Ásia foi feita em Essen, Alemanha (2006: Zollverein School of Management and Design) e em Nova Iorque (2007: New Museum of Contemporary Art).

De 2005 a 2006 foram professores visitantes na Escola Politécnica de Lausanne.

A primeira construção da Sanaa na Suíça foi concluída em 2006 dentro do campus da multinacional farmacêutica da Novartis na Basiléia.

Atualmente os arquitetos estão construindo em Weil am Rhein (Alemanha) um pavilhão industrial para o fabricante de móveis Vitra.

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