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Chávez está interessado na democracia suíça

A visita à Suíça poderá ocorrer em julho próximo. Keystone

O presidente Hugo Chávez poderá vir à Suíça brevemente, país cujo sistema democrático desperta um interesse particular no líder venezuelano.

Convidado pelo Instituto do Federalismo da Universidade de Fribourg, Hugo Chávez seria recebido pela presidente suíça em exercício, Micheline Calmy-Rey, conforme carta enviada ao presidente Chávez.

“É possível que a visita ocorra no início de julho, porém ainda não houve confirmação do presidente Chávez”, afirmou o embaixador da Suíça em Caracas, Walter Suter, em entrevista por telefone a swissinfo.

Duas semanas atrás, o Instituto do Federalismo de Fribourg enviou um convite ao presidente venezuelano, missiva que foi acompanhada de uma carta da presidência em exercício e ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, em que afirma que gostaria de encontrá-lo, caso venha à Suíça.

A eventual visita do presidente de um país com abundantes recursos naturais, sobretudo petróleo e atualmente com uma linha política de esquerda das mais representativas da região, tem provocado uma série de reações na Suíça.

Diferentes jornais têm abordado o assunto: “Veremos brevemente o presidente Chávez degustar uma ‘fondue’ de queijo em Gruyére?”, questionava o diário Le Temps, de Genebra. “A esquerda e os certos círculos econômicos se regozijam com uma eventual visita de Chávez”, escreveu o diário Basler Zeitung, de Basiléia.

Intercâmbio político

Até agora não confirmada, a visita ocorreria no princípio de julho e traduziria o interesse de Chávez pelo sistema político suíço, em particular pela instituição do referendo e da iniciativa popular.

Walter Suter lembra que há anos as autoridades venezuelanas manifestaram interesse em trocar experiências. “A democracia direta, participativa e referendária está inscrita na Constituição venezuelana desde 1999 e eles querem trocar experiência conosco, que temos mais de 100 anos de experiência”.

Nesse contexto, já ocorreram diversos encontros entre representantes suíços e autoridades eleitorais venezuelanas. O mais recente foi no mês passado, quando o diretor do Instituto do Federalismo de Fribourg, Thomas Fleiner, esteve na Venezuela.

De fato, com o sem a visita do presidente Chávez, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela e o Instituto do Federalismo assinarão nos próximos dias um acordo de cooperação.

Participação cidadã, tema central na Venezuela

Para Caracas, a participação cidadã é um tema central da política interna. Lá funcionam conselhos comunais através dos quais os membros da Assembléia Nacional têm de discutir projetos de lei com o eleitorado de suas circunscrições. Essa prática está amparada em lei.

“Trata-se de concretizar uma participação cidadã muito mais profunda e aí dividem conosco um princípio fundamental: a cultura política”, destaca o embaixador.

Explica que a cooperação vai começar com consultas entre juristas para a elaboração de uma nova lei dos direitos políticos, fundada no artigo constitucional sobre a democracia direta. “É aí que eles pedem a assessoria de juristas suíços”.

Caso Hugo Chávez venha à Suíça, esse seria um dos temas de sua agenda. Outro, sem dúvida, seria o interesse das empresas suíças na Venezuela.

Não existe temor temor por nacionalizações

“Existem empresas multinacionais suíças estabelecidas há muitos anos na Venezuela que continuam trabalhando e querem cooperar também com este governo e sua política econômica”, acrescenta Walter Suter.

Ele insiste que o intercâmbio comercial poderia aumentar, além de outros aspectos bilaterais, que poderiam ser estimulados por uma visita de alto nível. Ele acha que um dos pontos enfatizados deveria ser a implantação de novas empresas suíças interessadas.

“Aqui também se busca a cooperação de indústrias estrangeiras para os projetos de infra-estrutura como o plano nacional ferroviário iniciado há dois ou três anos e que prevê construir 13 mil km nos proximos 25 ou 30 anos. Muitas empresas suíças são especializadas em ferrovia e têm interesse em trabalhar na Venezuela”.

Questionado sobre a possibilidade que uma política de nacionalizações cause temores nos empresários suíços, o embaixador Suter sublinha que as grandes empresas trabalham na Venezuela há 50 ou 60 anos e nunca manifestaram temores desse tipo. Ao contrário, manifestaram o desejo de continuar trabalhando com a política econômica atual.

Suter citou as recentes declarações de Hugo Chávez a agência estadunidense de notícias Associated Presse, dizendo que as nacionalizações se limitariam aos setores estratégicos do petróleo, telefonia e eletricidade.

swissinfo, Marcela Águila Rubín

As relações bilaterais entre a Suíça e a Venezuela são muito antigas e sólidas, especialmente na área econômica.

Há seis décadas, importantes empresas suíças estão implantadas na Venezuela como Nestlé, Holcim, Zurich Seguros, Novartis, Roche, Schindler e Sika.

Mesmo ausentes do setor petroleiro, a Suíça é o quarto maior investidor estrangeiro na Venezuela, com volume estimado atualmente em torno de 1 bilhão de dólares.

A Venezuela é o 5o. exportador mundial de petróleo.
Suas vendas representam 40% do PIB e 90% das exportações.

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