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Cidade se arma para a seleção brasileira

Weggis é um pequeno paraíso no lago dos Quatro Cantões. swissinfo.ch

A vinda da seleção brasileira para duas semanas de treinamento na Suíça coloca Weggis de pernas para o ar.

Para empresários, hoteleiros e gastrônomos, a presença dos brasileiros na cidadezinha suíça localizada nas margens do Lago dos Quatro Cantões promete milhões em negócios.

Em março, durante sua última visita à Suíça, Carlos Alberto Parreira não poupou adjetivos para elogiar as belezas naturais de Weggis.

– É um local paradisíaco com essa tranqüilidade, o lago e essas montanhas – disse ele, confirmando o acerto da decisão de levar a seleção pentacampeã para uma estadia de duas semanas no país dos Alpes, pouco antes do início da Copa.

Aos jornalistas helvéticos presentes, o técnico da seleção brasileira prometeu que irá partilhar seu entusiasmo oferecendo aos jogadores um passeio no famoso lago dos Quatro Cantões, um dos cartões postais mais imponentes da Suíça central.

Os torcedores da seleção canarinho não precisam se preocupar. Esse passeio não está reservado apenas a convidados VIPs. Qualquer turista pode pegar os barcos de linha, que saem diariamente do porto de Lucerna e levam meia hora para chegar no pequeno porto de Weggis. A passagem custa apenas 14 francos (11 dólares).

Ao saltar, o turista descobre um balneário cinematográfico, repleto de hotéis de estilo vitoriano construídos entre os séculos XIX e XX, cafés na beira do lago e pequenos jardins. Seu clima ameno possibilita a existência de 36 espécies de orquídeas, além de palmeiras, figos, uvas e castanhas. Ruas limpas e arborizadas com palmeiras e pequenos comércios dão o toque final para uma típica cidade suíça como os estrangeiros esperariam.

Taça para o Brasil

Para muitos habitantes de Weggis, a chegada da equipe esportiva mais famosa do mundo, formada por estrelas internacionais como Ronaldinho, Ronaldo e outros, é como um presente dos céus.

A felicidade foi tanta que, depois da confirmação, um grupo de jovens anunciou que colocaria uma taça de cinco metros de altura de fibra nas margens do lago – uma homenagem aos jogadores brasileiros. Os animados fãs do Brasil foram obrigados a abandonar a idéia devido à oposição da FIFA e da agência suíça que organizou a vinda da seleção. Isso, porém, não tirou o ânimo do prefeito de Weggis.

– A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escolheu Weggis, pois gostou muito da sua localização e infra-estrutura – explica Josef Odermatt a swissinfo.

Porém essa é apenas a meia-verdade. A seleção brasileira também veio atraída por rios de dinheiros que foram oferecidos por um consórcio de interesses dividido entre política e empresas.

Em primeiro lugar o hotel. A estadia no cinco estrelas Park Hotel Weggis não irá custar nenhum centavo à equipe de cinqüenta pessoas, sejam jogadores, dirigentes ou massagistas. Tudo será financiado por uma associação formada na região por pequenos empresários, hoteleiros e gastrônomos, que sonham colocar o nome de Weggis nos anais históricos do futebol e assim atrair turistas a longo prazo.

Direitos de imagem é o outro capítulo. Com a decisão de organizar a estadia de duas semanas em Weggis, a CBF deve receber da agência suíça de marketing esportivo Attaro AG mais de um milhão de francos em dinheiro vivo. Seu diretor, Martin Blaser, declarou à imprensa helvética que a soma declarada pelos jornais brasileiros de dois milhões de dólares seria “um exagero”. Discreto, o empresário prefere falar de um “engajamento de milhões” e lembra que o valor não é alto em comparação com a imagem de jogadores como Ronaldinho. Ele lembrou também que outras quarenta localidades disputaram acirradamente o direito de hospedar a seleção.

Outro presente dado aos brasileiros será o estádio de futebol de Weggis. Ele pertence à equipe da cidade, um time que joga na terceira divisão do futebol helvético. Hoje o terreno é um gigantesco canteiro de obras.

Quando elas terminarem, o local irá se transformar num luxuoso estádio de futebol, com as dimensões oficiais da FIFA e espaço para abrigar até cinco mil fãs. O custo da obra é orçado em 1,6 milhões de francos. O maior financiador, com 1,2 milhões de francos tirados do próprio bolso, é o empresário Domenic Steiner, dono da Thermoplan AG, empresa que fabrica máquinas especiais de café para a Starbucks e outras multinacionais do ramo. Além de gostar do esporte, Steiner também pensa nas câmaras do mundo inteiro que estarão exibindo, de Weggis, a seleção canarinho no estádio batizado com o nome da sua empresa.

A parte restante dos custos para a reconstrução do estádio é coberta pela Attaro. Com isso, ela ganha o direito de explorar comercialmente por dez anos o local e pode alugá-lo para outras seleções de futebol nacionais ou regionais. Muitas gostarão de estar pisando no mesmo gramado onde jogaram estrelas de tamanho calibre.

20 francos de entrada

A estadia da seleção brasileira em Weggis é obra que uma complexa negociação orquestrada pela Attaro AG, empresa cujos donos são a Kentaro AG (71%), empresa de agenciamento de espaço comercial na TV, e o promotor de eventos esportivos Sportart (29%). Esta última pertence (80%) à Affichage Holding, uma das maiores empresas de exploração de cartazes comerciais da Suíça.

O negócio funciona da seguinte maneira: a Attaro se comprometeu frente a CBF em disponibilizar um campo de treinamento de qualidade e gratuito, assim como o hotel, num local tranqüilo e isolado para a seleção brasileira. Ao mesmo tempo ficou combinada a organização de dois jogos antes do início da Copa do Mundo na Alemanha: um 30 de maio na Basiléia contra o FC Lucerna e o outro em 4 de junho em Genebra contra a seleção da Nova Zelândia.

Em troca a Attaro embolsa o rendimento das bilheterias e da venda de direitos de imagem na televisão para os treinos e os dois jogos. Em Weggis os fãs irão pagar 20 francos para assistir cada um dos treinos. Os ingressos já estão a venda. As filas quilométricas exibidas nas TVs helvéticas mostra o grande interesse dos torcedores pelos treinos com a seleção canarinho.

Experiências em marketing esportivo

Detentora da imagem da seleção canarinho por duas semanas, Attaro quer lucrar também com a contribuição de patrocinadores. Um deles é a Emmen Center, um centro comercial em Emmen, cidade localizada na região de Lucerna, que irá organizar durante todo o mês de maio uma exposição dedicada ao Brasil.

A empresa suíça já tem experiência com esses eventos: em novembro de 2005 ela organizou em Genebra um jogo entre as seleções da Inglaterra e da Argentina; e em 1° de março um jogo entre a seleção portenha e a seleção da Croácia.

A Attaro não está sozinha no negócio. Ela cedeu parte dos direitos à associação de empresários, hoteleiros e gastrônomos de Weggis. Por 400 mil francos e a obrigação de organizar a estadia gratuita para a seleção brasileira, ela recebeu o direito de comercializar os oito mil ingressos para o primeiro e último treino dos jogadores na cidade e também o direito instalar barracas de comida e souvenires, além de um palco para os shows que serão organizados durante o período.

Faro para negócios

Os principais participantes da associação são a Secretaria de Turismo de Weggis, de Lucerna e do Lago dos Quatro Cantões, o Park Hotel Weggis (onde se hospedam os jogadores brasileiros) e uma empresa de teleféricos. Segundo o presidente da associação, Edwin Rudolf, cada um investiu 50 mil francos. Mais 10 mil francos vem da Associação de Empresas Transportadoras do cantão de Lucerna e 50 mil do Park Hotel Weggis pela hospedagem.

Aproveitando a presença dos ilustres hóspedes, Weggis e outras comunas da região irão cobrar um acréscimo de 50 centavos de franco na taxa de turismo por pernoite a todos os hóspedes de hotéis.

– O chamado 50 centavos do Brasil deve responder a um acréscimo de 125 mil francos – calcula otimista Edwin Rudolf. Além disso, o presidente da associação ainda está procurando 30 patrocinadores que se disponham a contribuir com 100 mil francos para o caixinha da Copa.

Não apenas os empresários tentam tirar proveito da presença dos brasileiros: até mesmo as associações culturais locais descobriram o futebol como forma de reavivar velhas tradições suíças.

O agricultor Peter Hofmann é um deles. Como presidente da “Sennengesellschaft”, uma espécie de associação de vaqueiros dos Alpes, ele quer convencer seus colegas de convidar algum dos jogadores da seleção para participar da tradicional subida de montanha das vacas na primavera, um evento muito especial na Suíça, quando os agricultores levam seus animais para pastar no alto das montanhas durante os meses quentes do ano. A oposição dos membros tradicionais é grande. A maioria não aceita inovações muito radicais.

– Eu também gosto das tradições, porém estava querendo inovar um pouquinho – conta o simpático Hofmann que, de tão animado com a vinda de Ronaldinho e companhia, chegou até a pintar sua vaca “Fuchsia” com as cores da bandeira brasileira para posar ao jornalista da Folha de São Paulo que esteve em Weggis fazendo uma reportagem sobre a Copa.

Ele também chegou pensar em jogar a bandeira do Brasil para o alto na velha tradição suíça dos “Fahnenschwinger”, porém a associação do qual faz parte considerou a proposta uma “heresia”.

– Eu acho que a vinda da seleção brasileira é algo muito especial para Weggis. Por que não aproveitá-la para mostrar ao mundo nossas tradições? Imaginem as pessoas vendo a subida das vacas às montanhas com o Ronaldinho ou suíços jogando a bandeira do Brasil ao alto? Infelizmente muitos dos suíços são avessos a essas idéias ousadas – conta.

10 mil fãs diários

Dominic Keller está radiante. Desde que se tornou pública a vinda da seleção brasileira para à Weggis, o interesse pela região aumentou consideravelmente.

– O telefone toca a cada cinco minutos. São em grande parte alemães, suíços e italianos que querem saber quando os bilhetes para os treinos já estarão à venda – afirma.

Nos períodos de pique, chegam mais de 200 e-mails por hora. Atualmente mais de quatro mil pedidos de bilhetes estão nas gavetas da Secretaria de Turismo de Weggis.

Keller calcula que durante a estadia de 14 dias dos jogadores brasileiros as 3.500 camas disponíveis nos hotéis de Weggis estarão ocupadas. O sonho dos empresários é completar 44 mil pernoites, o que corresponderia ao movimento de dois meses.

Em média um turista em Weggis gasta diariamente 250 francos com hospedagem, comida, passeios e souvenires. O faturamento do setor poderia chegar a 11 milhões de francos.

Também as regiões vizinhas estão esperançosas com o afluxo de turistas. Caso os hotéis de Weggis estejam lotados, os turistas irão para locais como Gersau, Brunnen, Küssnacht ou Lucerna. Dominic Keller acredita que 10 mil fãs devem chegar diariamente em Weggis, sobretudo se o tempo estiver bom.

Efeito “Brasil” para a região

Apesar da expectativa de aumento do faturamento para o comércio, gastronomia e hotelaria, a grande esperança está no aporte que os brasileiros trarão para a imagem de Weggis.

– Só os artigos que já foram publicados com o nome da nossa cidade já enchem mais de dez pastas grossas. Também já temos mais de uma hora e meia de imagens transmitidas sobre nós nas televisões – afirma Edwin Rudolf.

O ponto alto da mídia deve ocorrer quando os oitocentos jornalistas esperados estiverem presentes em Weggis e filmando passeios de Ronaldinho, Robinho e companhia no Lago dos Quatro Cantões ou nas montanhas da região.

E mesmo depois da despedida, a aura da seleção brasileira pode continuar a pairar por muitos anos sobre Weggis. Os alemães ganharam a Copa do Mundo em 1954. A vitória, que terminou impulsionando o milagre econômico vivido pelo país depois da Segunda Guerra Mundial, é conhecida como “O Espírito de Berna”. Talvez isso ocorra mais uma vez nessa cidadezinha à beira do Lago dos Quatro Cantões.

Por isso nada é deixado ao acaso pelos organizadores da recepção aos brasileiros. Até mesmo os porcos de uma criação próxima ao campo de futebol de Weggis foram comprados e a pocilga limpa. O importante é que o ar puro suíço não seja contaminado.

– Espero que turistas do mundo inteiro venham conhecer Weggis. Lá eles conhecerão o lugar que vai abrigar os melhores jogadores do mundo e, quem sabe, até lhes inspirar para a vitória.

swissinfo, Alexander Thoele

A seleção brasileira de futebol estará em Weggis de 22 de maio a 4 de junho.
Cerca de 300 jornalistas brasileiros e milhares de torcedores devem acompanhar a seleção nesta pequena na cidadezinha de 3.953 habitantes, no cantão de Lucerna.
Atualmente o campo de Weggis (o time local disputa a quinta divisão amadora) tem 180 lugares. Depois da reforma, terá capacidade para 5 mil pessoas.

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