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A crise trará de volta os velhos valores

A relojoaria está entre as muitas atividades da família de Pierre Landolt. Keystone

A opinião é do banqueiro Pierre Landolt, membro de conselhos de administração de empresas na Suíça e fazendeiro há 35 anos no Brasil. Homem de muitas frentes, ele é defensor obstinado da sustentabilidade.

O suíço já bastante brasileiro financia uma cadeira de inovação e sustentabilidade na Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), onde foi entrevistado por swissinfo.

Pierre Landolt é o tipo de pessoa sempre apressada, que não tem tempo a perder. Ele não vê qualquer contradição entre ser banqueiro, membro do conselho de administração da Novartis e da Syngenta (multinacional agroquímica) e agricultor orgânico no nordeste do Brasil.

swissinfo: Por que o senhor financia essa cadeira na Poltécnica de Lausanne?

Pierre Landolt: Trata-se realmente da cadeira Landolf & Cia, voltada para as áreas de inovação e sustentabilidade. Acontece que eu estou trabalhando no Brasil faz mais de 35 anos, exclusivamente nesse setor de sustentabilidade. (ndr: ele tem uma fazenda de 3 mil hectares na Paraíba). Naquela época não existia nem o termo sustentabilidade. Então quando assumi o banco que pertencia ao meu irmão, resolvi aplicar os mesmos princípios e as mesmas ideias que venho praticando diariamente no Brasil, ou seja, transmitir às novas gerações o que herdamos. Pode ser dinheiro ou pode ser um novo mundo. E o mundo que temos hoje tem de ser transmitido aos nossos filhos.

Eu acho que é basicamente a mesma coisa a ocupação de banqueiro e a da pessoa que vive trabalhando para a sustentabilidade do nosso mundo.

No caso da EPFL, trata-se da transmissão do conhecimento…

É a transmissão do conhecimento que vai permitir entender melhor a necessidade de preservar a natureza. No caso do Brasil, eu acho que essa noção de preservação da Mata Atlântica, da Floresta Amazônica são ideias finalmente um pouco vagas. As pessoas divergem se é um poço de carbono, se é o pulmão do mundo ou outra coisa. No trabalho que vamos apresentar aqui, fica mais claro que a preservação da mata é importante para o Brasil inteiro. O cidadão comum no Brasil não está preocupado se os chineses estão respirando bem ou não. O importante para ele é saber que, se não chover no estado de Goiás, ele não terá milho nem feijão para comer.

Com tantas atividades na Suíça e no Brasil, o senhor tem tempo para pensar em crise?

A crise está aí, mas é salutar. Estamos percebendo que esses valores com os quais trabalhamos há muitos anos serão os valores para reconstruir depois da crise. Sabemos que não podemos reconstruir o mundo da maneira como foi feito nas últimas décadas. Isso é fantástico porque o fizemos perdidos no meio do mato, no semiárido nordestino, trabalhando com valores que pareciam ultrapassados, cafonas ou mesmo fora da realidade, possivelmente vão se tornar os valores do futuro. Nós temos de reconstruir o mundo de maneira diferente e, provavelmente, a sustentabilidade será um dos grandes elementos.

Isso não é só um discurso temporário até a economia voltar a crescer?

Não, hoje já se percebe que temos que voltar à economia real. Vivemos ultimamente em uma economia virtual e sabemos que ela não poderá mais existir. No Brasil, novos investidores estão chegando e dizem: “essa empresa nos interessa, será que podemos entrar”. Essa é uma reflexão muito rápida e os investidores perceberam que têm que mudar, adotar novos valores e, possivelmente, os da sustentabilidade.

O senhor poderia trabalhar em qualquer lugar do mundo. Por que foi trabalhar no Brasil?

Eu fui porque ninguém da minha família tinha ido ao Brasil. Eu achava que o Brasil era o país do futuro e ainda é, infelizmente. Mas hoje eu sou brasileiro e continuo acreditando e torcendo para o Brasil.

O senhor viu mudanças positivas desde que chegou ao Brasil?

Lógico que sim. Eu presenciei a abertura política e democrática, que foi um grande momento da minha vivência. Eu morava em São Paulo na época e foi uma emoção fabulosa ver o país sair de um regime complicado, com censura, para uma verdadeira democracia. Depois, no semiárido – onde nem brasileiros queriam morar, quase todos os nordestinos querem se mudar para São Paulo – eu cheguei numa região paupérrima que, aparentemente não tinha futuro. Hoje já dá para entender que a política praticada nesses últimos 30 anos dá resultados. Hoje existe uma certa riqueza, as coisas estão funcionando. Graças também ao microcrédito que venho praticando na região, dá para ver que o pessoal prefere ficar em sua terra a emigrar, e isso é muito importante.

O Brasil está chegando no futuro?

Sem dúvida, nós vamos chegar lá.

Claudinê Gonçalves, swissinfo.ch

A cadeira patrocinada por Banco Landolt & Cie na Escola Politécnica de Lausanne é denominada “Estratégias Inovadoras para um Futuro Sustentável”.

Os objetivos são educação, pesquisa e transferência de tecnologia. Todo ano há um professor convidado, especialista de renome mundial em uma temática ligada ao desenvolvimento sustentável.

Também são convidados palestrantes concretamente engajados e que propõem novas perspectivas científicas.

Na relojoaria, detém a prestigiosa marca Parmigiani. Na hotelaria hotéis de luxo, como o Beau-Rivage Palace, em Lausanne, Riffelalp Resort, em Zermatt, e o Palafitte, em Neuchâtel.

No setor financeiro, o Banco Landolf & Cie, fundado em 1780.

No setor farmacêutico, é uma das herdeiras da Sandoz e detém 3% das ações do grupo farmacêutico Novartis, formado pela fusão entre a Sandoz e a Ciba-Geigy, em 1996.

O documentário Pierre Landolt, do sonho à ação, de Emmanuelle de Riedmatten, foi apresentado do Festival de cinema suíço de Solothurn, em 2009.

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