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Caçadores de planetas mostram mais um troféu

O telescópio Harps revelou a existência de exoplanetas desconhecidos. ESO

A busca por vida extraterrestre deu mais um passo a frente, apesar de ser improvável encontrar "a vida como a conhecemos" em outros planetas.

Uma equipe liderada por astrônomos suíços descobriu recentemente mais de 50 exoplanetas, planetas que orbitam estrelas fora do sistema solar. Seus resultados foram apresentados em uma conferência nos Estados Unidos na segunda-feira, 12 de setembro.

Destes novos planetas, 16 são “Super-Terras” – planetas com uma massa maior do que a da Terra, mas consideravelmente menor do que os gigantes gasosos do sistema solar.

Apenas um se encontra dentro da zona “habitável” de sua estrela, em outras palavras, não muito perto para ser muito quente, não muito longe para ser muito frio. Este planeta, batizado pelo código HD 85512 b, é provavelmente rochoso e, portanto, tem uma atmosfera e muito possivelmente água.

Mas, como ressalta Francesco Pepe da Universidade de Genebra, um dos membros da equipe, “habitável” não significa “habitado”.

Segundo o pesquisador, a coisa mais importante revelada pela nova descoberta é que cerca de 40% das estrelas semelhantes ao sol têm planetas de massa menor do que a de Saturno.

Como existem bilhões de galáxias, cada uma com bilhões de estrelas, deve haver uma enorme variedade de mundos. E como existe uma enorme variedade de vida na Terra, por si só, é razoável suspeitar que em alguns desses planetas também haja vida – embora não necessariamente na forma como a conhecemos.

Presume-se que a água seja necessária para a vida, mas mesmo isso pode não ser o caso: outros conceitos bioquímicos totalmente desconhecidos também seriam possíveis.

Observações de alta precisão

As descobertas anunciadas oficialmente na segunda-feira não foram, naturalmente, feitas da noite para o dia. Elas são fruto de cerca de três anos de observações usando o “caçador de planeta” Harps, o telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul, localizado nos Andes chilenos.

O Harps (para pesquisador de planeta de alta precisão e velocidade radial) foi construído com a participação da Suíça. Ele foi usado na descoberta de um total de 155 exoplanetas, dois terços dos quais com uma massa menor que a de Netuno.

Ele funciona através da detecção de pequenas oscilações das estrelas, causadas pela gravidade dos planetas que as orbitam.

O HD 85512 b fica a 36 anos-luz de distância do nosso sistema solar. Encontrar planetas a uma distância tão grande exige medições extremamente precisas durante um período prolongado de tempo.

Uma enorme quantidade de dados tem que ser coletada e analisada antes que os astrônomos possam estar razoavelmente certos de que um planeta se encontra realmente lá.

Competição

Há sempre grande interesse do público pela vida extraterrestre, e Pepe admite que existe uma concorrência entre os diferentes grupos de pesquisadores para ser o primeiro a encontrar uma outra “Terra de verdade”. Mas ele diz que o importante é não apressar as coisas.

“Só quando consideramos que nossa análise está suficientemente avançada é que a publicamos”, disse. “Poderíamos ter anunciado nossas descobertas um ano atrás, e o risco de não publicar mais cedo é que os outros podem usar os nossos dados.”

Os astrônomos costumam por seus dados à disposição de outros pesquisadores para dar-lhes a oportunidade de repetir a análise – e, talvez, chegar a conclusões diferentes.

O fato é que Harps é tão preciso que nenhum outro instrumento se compara a ele, o que torna difícil obter dos astrônomos medições independentes para trabalhar.

Mesmo se o financiamento contínuo para um projeto depende de resultados, Pepe diz que o que conta é fazer um trabalho confiável.

Enquanto isso, dois membros da equipe continuam no observatório, dando prosseguimento ao programa.

A vida não importa

A ideia de que pode haver vida em algum lugar lá fora, em planetas distantes, tem conquistado a imaginação do público, mas os astrônomos veem as coisas um pouco diferente.

“Daria para dizer que encontrar vida não é o que importa. Para os cientistas um planeta gasoso pesado é tão interessante quanto um rochoso, ou um planeta com uma órbita muito excêntrica, ou como dois planetas em conjunto e a forma como eles interagem”, admite Pepe.

O astrônomo acrescenta: “quero entender tudo, como um planeta foi formado, como ele evoluiu, conhecer suas estrelas, sua história, sua composição, sua atmosfera e assim por diante”.

Confrontado com o número inimaginável de estrelas no universo, Pepe sente-se humilde, mas não se assusta:

“Cada nova descoberta nos leva a entender um pouco mais.”

Criado em 1962, o ESO é uma organização de pesquisa em astronomia intergovernamental apoiada por 15 países, entre eles Portugal, Brasil e Suíça.

O observatório está situado nos Andes chilenos: quando foi criado, todos os outros grandes telescópios estavam no hemisfério norte.

Ele oferece instalações de pesquisa “state-of-the-art” e acesso ao céu do hemisfério sul.

Opera alguns dos telescópios mais avançados do mundo.

Entre eles, o New Technology Telescope (NTT), o Very Large Telescope (VLT) e o European Extremely Large Telescope (E-ELT).

O projeto Harps está ligado ao telescópio ESO 3,6 m do observatório.

Exoplanetas são planetas fora do nosso sistema solar.

O primeiro exoplaneta foi descoberto pelos astrônomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra, em 1995.

Desde então, cerca de 450 exoplanetas já foram identificados, embora nenhum deles possa ser visto pelo telescópio. Eles só podem ser detectados indiretamente.

A maioria dos exoplanetas encontrados até agora são os chamados “Júpiteres quentes”: grandes planetas de gás orbitando perto de suas estrelas.

No entanto, em 2007, Mayor e seu colega astrônomo Stéphane Udry descobrem o primeiro exoplaneta do tamanho da Terra, localizado a 20,5 anos-luz ou 120 trilhões de milhas de distância, com uma massa cinco vezes maior do que a do nosso planeta, que é considerado como um possível candidato para abrigar a vida.

A equipe de Udry anunciou a descoberta de outro planeta potencialmente adequado à vida 36 anos-luz de distância em 2011.

Até 13 de setembro de 2011, foram encontrados um total de 677 exoplanetas.

Adaptação: Fernando Hirschy

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