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Parque temático científico nascerá no interior da montanha

Porta de entrada do que foi uma instalação do exércio suíço, de194 a 1999. Keystone

O Sasso da Pigna é uma monumental obra de artilharia construída dentro do San Gottardo, sul da Suíça, durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1942 e 45.

E mais do que qualquer outra instalação do exército ela é e continuará sendo um marco de paz.

Ao longo dos anos, as bocas dos canhões mantiveram-se em silêncio, sempre. Elas nunca dispararam um único tiro, em nome da neutralidade.

Agora, o labirinto de salas e corredores escavado nas entranhas da montanha vai virar um espaço cultural temático, dentro de dois anos. E de lá de dentro, os suíços esperam chamar a atenção do mundo para as questões fundamentais da vida no futuro como a mobilidade e o ambiente, a água, a meteorologia e o clima, a energia e a segurança.

O San Gottardo é uma espécie de reserva natural destes pontos vitais para a sociedade. Guardião da neutralidade suíça, ponto de passagem entre os povos, barreira natural climática, nascente de rio e de energia renovável, o San Gottardo tem um papel relevante na vida europeia.

Não será um museu

O Maciço do San Gottardo é o ponto de partida de quatro grandes rios do Velho Continente: o Reno, o Reuss, o Ródano e o Ticino. Além disso, a conquista do San Gottardo, através de túneis- um deles com 57 km de extensão-, foi fruto da necessidade do homem em abrir uma rota entre o norte e o sul da Europa. Por isso ele reflete, sózinho, os temas do futuro parque cultural previsto para ser inaugurado em 2011.

“Com o fim da guerra fria, a fortaleza virou um monumento importante para a história, para a democracia e para a liberdade. Ele expressa um respeito ao passado e lança um olhar no futuro”, disse o cônsul geral da Suíça, em Milão, David Vogelsanger.

A ideia de transformar a fortaleza num parque temático serve para contrastar e revolucionar o uso original previsto na sua criação. “Na Suíça já temos 29 museus militares, não seria interessante fazer outro, não obstante a importância deles. Mas o visitante vai ter a oportunidade de ver de perto e tocar as peças de artilharia, ver como era a vida ali dentro. De fato, muitos suíços que serviram ali irão voltar.”, esclareceu Martin Von Orelli, à swissinfo, durante a apresentação do projeto no Consulado de Milão.

A entrada principal vai ser pelo antigo hospício de San Gottardo. Dali se tem o acesso a impressionante portal aberto na montanha, mimetizado nas ranhuras da parede rochosa. O mundo fica do lado de fora desta obra monumental de engenharia e arquitetura militar, com 2,4 km de túneis escavados na pedra e 8 mil metros quadrados de área total.

A fortaleza foi “dividida” em duas partes: o setor histórico vai ser montado aonde está a bateria de artilharia e os alojamentos dos militares. Ali, como houve poucas intervenções de manutenção ao longo das décadas, tudo foi deixado praticamente como era desde o tempo da guerra até a desativação, em 1999. O visitante vai poder tocar com as mãos a história, os quatro canhões com bocas de 15 centímetros de raio e alcance de 25 quilômetros. Um cobria Leventina e o outro mantinha na mira os passos de San Giacomo, Novena e Val Formazza.

Temas científicos, sociais e econômicos

O outro setor vai abrigar o parque temático propriamente dito. O percurso é visual e extra-sensorial. Os rumores da natureza e os sons urbanos vão “ilustrar” acusticamente a sonoplastia local. Cada tema vai ter a sua sala. Mostras fixas e exposições itinerantes vão propor ao visitante reflexões ligadas às cinco questões propostas.

Mobilidade e habitat é a primeira delas. Pelo San Gottardo passam um milhão de carros por ano. Por ser um ponto de passagem e de encontro entre diferentes culturas, o cenário se propõe a indagar sobre a relação do homem com o meio ambiente Como podem “responder’ a paisagem e o espaço campestre e urbano ao progresso? E quais são as conseqüências na sociedade provocadas pela alteração do habitat natural? Nesta sala haverá uma central de tráfego, com projeções audiovisuais, para ajudar a explicar as mudanças ocorridas nos últimos 50 anos e aquelas que virão.

A água e o clima ganham uma área nobre disposta ao longo de um salão com 10 metros de largura, 60 metros de extensão e 9 metros de altura (um prédio de três andares), uma verdadeira caverna escavada pelas mãos do homem. Nela o turista vai “caminhar’ sobre as águas. Gotas, paredes molhadas, pavimentos banhados vão envolver o visitante. Em meio ao fluido essencial para a vida ele vai descobrir a importância absoluta para o futuro do chamado “ouro azul”.

O “mergulho” a seco promete levar o espectador a um contato direto com as reservas hídricas de um país sem matéria-prima, como é o caso da Suíça. A água potável, a água como meio de transporte e a água usada nas indústrias irão capturar a atenção e realçar fo tema. E tudo isto em meio a um debate sobre a barreira natural climática do San Gottardo e as ultimas novidades sobre os modelos matemáticos de previsão da meteorologia.

Já para chegar à sala da Central Energética o visitante que sofre de claustrofobia vai ter que se superar. Um longo corredor subterrâneo, com 550 metros de extensão, precisa ser percorrido do começo ao fim. Este é o caminho para chegar aos conhecimentos apresentados sobre o sistema energético.

As fontes renováveis, como a energia eólica e solar, num confronto direto com aquelas exauríveis. Usinas hidrelétricas contras usinas nucleares, enfim, uma abertura para discussões e debates sobre o uso das diferentes energias e, claro, as conseqüências atuais e projeções futuras.

A segurança

O tema da segurança é abordado dentro de uma visão a 360 graus e não apenas aquela física, com a qual a criação do Sasso da Pigna, a fortaleza, estava em perfeita sintonia. A questão da segurança, tratada dentro de um amplo espaço no interior da montanha, vai mais além. Reservas bancárias, rica teia de relações pessoais, seguros de vida, guarda-costas privado? De que maneira o conceito presente e futuro de segurança pode influenciar a vida do individuo e da coletividade?

Financiamento

As respostas a estas questões serão conhecidas em 2011, nas vísceras da montanha. Convênios com universidades e institutos de pesquisa garantem informações atualizadas e equipamentos de última geração para dar corpo e imagem às exposições. A Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ), a Universidade de Berna, são alguns dos institutos de excelência conveniados com o projeto da Fundação Sasso San Gottardo, responsável pela iniciativa.

O custo total é de cerca de 8 milhões de euros, dos quais metade já está disponível. O restante deverá ser loteado entre as pessoas jurídicas e físicas que ainda queiram se unir a esta empreitada. “Em tempos de crise econômica é uma tarefa difícil, mas estou confiante que iremos conseguir chegar ao final”, afirmou à swissinfo, Alfred Markwalder, responsável financeiro da operação.

Quarenta e dois membros, divididos em três categorias, vão poder fazer parte do círculo Amigos, responsável pelo levantamento dos recursos e, em contrapartida, poderão explorar comercialmente o marketing ligado ao projeto.

Os cantões (estados) do Ticino e de Uri estão presentes, assim como as fundações Credit Suisse, UBS e Ernst Gohner. Nomes de peso que garantem e atraem potenciais investidores. Direitos de licenciamento de produtos, uso de dependências com espaços de uso comercial e associação da própria marca ao parque temático estão previstos no estatuto.

“Seminários poderão ser feitos no interior da Fortaleza e outros eventos. Temos apenas que ainda finalizar questão da temperatura interna. Pois, hoje, na primavera, a temperatura ambiente é de 8 graus. Uma central de energia deverá aquecer a instalação, mesmo fora dos meses invernais”, disse Martin Von Orelli.

Os investidores apostam num grande afluxo de pessoas. A começar pela posição do San Gottardo, onde 15 milhões de pessoas vivem a três horas de distância da montanha. Ela fica a apenas duas horas de Milão e de Zurique. A expectativa é de receber 210 visitantes por dia.

Do alto dos seus 2091 metros acima do nível do mar, o Sasso San Gottardo promete se transformar num farol para as crianças, os jovens, adultos e idosos curiosos em descobrir para onde e como caminha a humanidade.

Guilherme Aquino, swissinfo.ch em Milão

O Sasso da Pignha, fortaleza da Segunda Guerra Mundial, tem 2,4 km de túneis e 8 mil metros quadros de área.

O San Gottardo tem um túnel com 17 km de extensão e outro de 57 km

15 milhões de pessoas vivem ao redor do San Gottardo.

Um milhão de carros atravessam o San Gottardo anualmente.

O San Gottardo é uma barreira climática natural. Ele divide o clima mediterrâneo subtropical do sul e o atlântico úmido do norte.

Inauguração prevista para o verão de 2011 do parque temático com o percurso completo podendo ser realizado entre 60 e 180 minutos.

O projeto global foi concebido pelo estúdio de arquitetura Holzer Klober, de Zurique, com a supervisão de Lisa Humbert-Droz, de Humbert Partner AG, de Berna.

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