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Passe sanitário divide as universidades suíças

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Estudantes em uma foto de arquivo, 14 de setembro de 2020 Keystone / Alexandra Wey

Milhares de estudantes retornaram às universidades para iniciar um novo semestre letivo. A maioria deles precisa agora apresentar o seu certificado Covid.

Depois de dois períodos de lockdown e muito ensino à distância nos últimos 18 meses, essa foi a primeira vez que muitos estudantes colocaram os pés de volta no campus.

Para retornar ao ensino presencial, a maioria das 12 universidades públicas do país decidiu introduzir o certificado Covid, que mostra se uma pessoa está vacinada, testada ou recuperada. Entre elas estão os dois prestigiosos Institutos Federais de Tecnologia da Suíça, em Lausanne (EPFL) e em Zurique (ETH Zurique).

A decisão foi tomada após o governo afirmar que as universidades poderiam exigir o certificado para o ensino em nível de graduação e mestrado. No dia 13 de setembro, o uso do certificado foi estendido a espaços públicos como restaurantes, eventos culturais e atividades de lazer, uma vez que a Suíça enfrenta uma quarta onda do coronavírus, impulsionada em parte pela propagação da variante Delta, extremamente contagiosa, entre os jovens não vacinados.

Máscaras

O professor Dominique de Quervain, da Universidade da Basileia, está entre aqueles que apoiam a exigência do certificado. Em meados de agosto, o professor causou certa polêmica – e muito debate – ao tweetar que não daria aulas presenciais se fosse permitida a entrada de alunos não vacinados e não testados na sala de aula.

“Todavia, o uso de máscaras durante as aulas continuará sendo importante”, disse o professor de neurociência cognitiva à SWI swissinfo.ch via e-mail. “A ETH Zurique e as universidades de Lausanne e Berna já decidiram que o uso da máscara será obrigatório”.

Segundo ele, os testes ainda podem apresentar falsos negativos entre os não vacinados.

Diferenças

Para de Quervain, há ainda outro problema: as diferenças na forma como o certificado será exigido. Na Universidade da Basileia, onde ele leciona, o certificado só passará a ser obrigatório no dia 1º de novembro, para que os estudantes tenham tempo de se vacinar.

Ele tweetou que isso “priorizava as necessidades daqueles que, contrariamente às recomendações e possibilidades, ainda não se vacinaram, em detrimento da segurança do ensino”.

A Università della Svizzera Italiana, em Lugano, decidiu não exigir o certificado. No domingo, a universidade disse à televisão pública suíça SRF que possui espaço suficiente e que as máscaras serão obrigatórias. Ela também afirmou querer evitar qualquer possível discriminação e conflito entre os estudantes.

Enquanto isso, as universidades estão tentando resolver como farão o controle dos certificados. Algumas, como a Universidade de Zurique, farão verificações pontuais, além de contarem com medidas técnicas e a responsabilidade pessoal de cada um. Na data da publicação deste texto, as outras universidades ainda estavam elaborando suas medidas.

Opiniões divergentes entre os estudantes

É dentro do corpo estudantil que as reações têm sido mais divergentes. Alguns criticam a falta de consulta, tanto em âmbito nacional quanto local.

“Ela é urgentemente necessária para garantir um apoio amplo às medidas. Também estamos desapontados que a coordenação entre as instituições de ensino superior não funcione melhor”, disse Elischa Link, copresidente da União Suíça de Estudantes, à SWI swissinfo.ch.

Link afirmou que a reação dos estudantes mostra que o certificado permanece controverso. “De modo geral, as pessoas estão irritadas que a educação seja colocada no mesmo contexto que as atividades de lazer. Elas não são comparáveis, e os padrões devem ser outros. Além disso, há um consenso de que o acesso à educação deve ser garantido a todos”, disse o estudante via e-mail.

Abordagem híbrida

Algumas universidades, como a EPFL, já afirmaram que ofereceriam um ensino híbrido, com aulas online e presenciais. “Os estudantes que não possuem certificados não serão, portanto, excluídos do ensino”, disse a universidade.

Outras instituições interviram para garantir o acesso à testagem, tendo consciência de que alguns estudantes não terão condições de se testar repetidamente após o governo suspender o pagamento dos testes, no dia 1º de outubro (como previsto atualmente).

A Universidade de Genebra oferecerá testes de saliva gratuitos para estudantes não vacinados. O resultado negativo será válido para assistir as aulas, mas não para acessar outros espaços públicos. A Universidade de Berna oferecerá testes PCR em vários locais do campus. Nas universidades de Lausanne e Zurique, serão oferecidos testes gratuitos até 31 de outubro.

A situação no exterior

Ao redor do mundo, a situação relativa a certificados e vacinas varia. De acordo com um banco de dados mantido pela Chronicle of Higher Education, mais de 1.000 faculdades públicas e privadas nos Estados Unidos exigirão que os estudantes sejam vacinados contra o coronavírus (dados relativos à data da publicação), mas a medida tem sido controversa em alguns meios.

Na Itália, estudantes e funcionários das universidades precisam mostrar seu passe verde, o equivalente ao certificado Covid suíço. Na Áustria e na Alemanha, muitas instituições adotaram o critério de vacinação, recuperação ou testagem.

A França, no entanto, não exige que os estudantes apresentem um certificado Covid, e no Reino Unido alguns professores têm manifestado preocupações acerca das instruções do governo sobre o retorno ao ensino presencial, que, segundo eles, não incluíram medidas de proteção adequadas contra a propagação da Covid-19.

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Adaptação: Clarice Dominguez

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