Navigation

Cientistas querem desvendar o "mal das alturas"

A montanha Muztagh Ata, na China, onde uma equipe suíça pesquisa o mal das alturas. swiss-exped.ch

Equipe de pesquisadores suíços quer subir uma montanha de mais de sete mil metros de altura na cordilheira do Himalaia. Objetivo: descobrir a relação entre grandes altitudes e males como o edema pulmonar.

Este conteúdo foi publicado em 24. agosto 2004 - 18:46

Trinta e seis voluntários irão acompanhar o grupo e servir de cobaia para os testes em grandes altitudes.

Escalar montanhas é um desejo tão humano como o de voar. Porém o esporte é de risco, sobretudo, devido a um fator físico: quanto mais alto, mais rarefeita se torna a atmosfera.

O acesso a alturas superiores a 2.800 metros já provoca em muitas pessoais sensíveis os primeiros sinais de inadaptação. Porém se considera que a maior incidência do chamado “mal das alturas”, ou “soroche” como é conhecido no jargão especializado, ocorre a partir dos 3.500 metros.

Os sintomas mais freqüentes são dores de cabeça, sensibilidade a ruídos e luz, insônia e dificuldades respiratórias. Também são comuns os acessos de náuseas, vômitos, falta de coordenação motora, diminuição da produção de urina, indiferença ou perda da sensação de perigo e sonolência. Os casos mais graves são edemas pulmonares e cerebrais, que podem provocar até a morte.

Para alpinistas, esse perigo é muito maior do que o das avalanches ou tempestades: o mal afeta 50% dos montanhistas que superam os 4.300 metros.

Descobrir o mistério do mal das alturas

Para aprender como o corpo humano reage às grandes altitudes e melhorar as formas de tratamento, um grupo de pesquisadores suíços decidiu organizar uma expedição científica para o Himalaia. Lá estão as maiores montanhas do mundo, como o Everest ou o famoso K2, onde muitos aventureiros já perderam alguns dedos do pé ou até a própria vida.

A expedição será composta por onze médicos - a grande maioria especializada em medicina das alturas - dez guias de montanha e trinta e seis alpinistas, todos voluntários. Os últimos serão as cobaias para a realização de testes como a análise da adaptação do corpo humano a grandes altitudes, durante um período de longa duração.

A viagem, que está programada para ser realizada entre 10 de junho e 12 de julho de 2005, começa em Islamabad, no Paquistão, atravessa a autopista de Karakorum e leva o grupo na corcunda de camelos até chegar a primeira estação.

A rota principal será feita em esqui e por fim os participantes terão de caminhar até o cume do Muztagh Ata, uma montanha de 7.546 metros, localizada na cordilheira do Himalaia, entre as fronteiras da China, Afeganistão e Paquistão.

Problema pode estar em falha no transporte de sódio pelas células

A idéia da expedição vem de dois médicos suíços: o cirurgião Urs Heftie, presidente da Sociedade Suíça de Medicina das Montanhas (SGGM, na sigla em alemão) e Tobias Merz, médico internista e presidente da Comissão Médica do Clube Alpino Suíça (SAC).

No ano passado os dois já haviam participado de uma experiência semelhante, quando voluntários passaram algumas semanas na cabana de montanha mais alta da Suíça, localizada a 4.554 metros acima do nível do mar, no massivo do Monte Rosa.

Nas primeiras análises, os pesquisadores descobriram que o mal das alturas era causado por uma falha no transporte de sódio pelas células nos alvéolos pulmonares.

Apesar de importante, a primeira descoberta serve apenas de incentivo para a segunda expedição. “Acreditamos que os testes realizados no Himalaia darão resultados diferentes daqueles que obtivemos nos Alpes”, explica Merz. “Somente nessas elevadas alturas é possível identificar níveis tão baixos de pressão e saturação do sangue com oxigênio”.

A sete mil metros de altura, os médicos da expedição querem descobrir como a falta de oxigênio influencia o cérebro. Além disso, eles irão verificar a velocidade dos batimentos cardíacos e a respiração dos alpinistas voluntários.

Por isso, no convite apresentado na página de internet da expedição ao Muztagh Ata, também são procuradas pessoas que já sofreram do mal das alturas. “Nosso objetivo é realizar uma comparação entre as pessoas resistentes e aquelas que são suscetíveis ao problema”.

Patrocínio e voluntarismo

A expedição no Himalaia não é uma aventura barata e pode chegar alguns milhares de dólares.

Os organizadores procuram atualmente empresas patrocinadoras, que também devem fornecer equipamento como barracas, botas, picaretas ou roupas especiais. Até mesmo os voluntários terão de pagar do próprio bolso sua participação: as cotas foram calculadas em mais de seis mil dólares por cabeça.

“Nosso projeto é voltado completamente para a ciência e será um trabalho de equipe, incluindo os voluntários, os pesquisadores e guias de montanha”, ressalta Merz.

A subida no Muztagh Ata não é considerada difícil. Em caso de urgência, os alpinistas podem descer a qualquer hora através de esquis. A maior dificuldade está, sobretudo, na altura.

“A partir dos sete mil metros, o esforço para realizar qualquer movimento é muito maior”. Mesmo os instrumentos que serão utilizados nos testes médicos podem ser danificados, pois nunca foram testados a essa altura e condições extremas.

“Lá não iremos trabalhar num laboratório, onde o bule de café está sempre numa mesa ao lado”, brinca o médico internista e alpinista apaixonado Tobias Merz.

swissinfo, Alexander Thoele e Scott Capper

Fatos

A montanha Muztagh Ata tem 7.546 metros de altura e está localizada no massivo de Kunlun Shan, na província chinesa de Xinjiang, distante apenas 24 quilômetros da fronteira com o Tajiquistão.

End of insertion
Em conformidade com os padrões da JTI

Em conformidade com os padrões da JTI

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch

Ordenar por

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?

Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco

Leia nossas mais interessantes reportagens da semana

Assine agora e receba gratuitamente nossas melhores reportagens em sua caixa de correio eletrônico.

A política de privacidade da SRG SSR oferece informações adicionais sobre o processamento de dados.