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Workshop para sonhadores

Os diretores do filme "Tapete Vermelho", Frédéric Baillif e Kantrama Gahigiri (em pé, à esqueda) e os participantes do workshop. swissinfo.ch

Quando se inscreveram  para o workshop com os diretores do filme "Tapete Vermelho" (Tapis Rouge), os alunos do Instituto Criar buscavam basicamente mais informações sobre como fazer filmes de baixo orçamento. Mas logo no início das atividades, com a exibição da película, as discussões sobre roteiro e produção, entre outras tarefas, ficou claro que mais do que fazer filmes, eles tinham de buscar realizar seus próprios sonhos.

O workshop foi uma das ações que Frédéric Baillif e Kantrama Gahigiri participaram no Brasil durante o 5º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, realizado entre uma parceria do Consulado Geral da Suíça e o SESC, em São Paulo. Os filmes incluíam ficções, documentários e um programa especial de animações, no total de 16 trabalhos exibidos no CineSesc e no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo.

Com sede de informações, os alunos e ex-alunos do Criar, ONG que tem como missão promover o desenvolvimento profissional, sociocultural e pessoal de jovens por meio do audiovisual, se mantiveram atentos a todas as recomendações dos diretores. Nem mesmo a diferença das línguas e a necessidade de tradução a cada explicação de Frédéric e Kantrama atrapalhou a conexão entre eles. “Foi muito bom, queria que tivesse tempo para eu ter perguntado mais”, afirmou Nelson Tobias, de 28 anos, ele mesmo um realizador dos próprios sonhos.

Inspiração

A história de vida de Nelson serviu de inspiração para um dos personagens do longa “Na Quebrada”, que mostra a trajetória de um grupo de jovens que cresceram em meio a situações de violência e crimes, mas que conseguiram criar um novo roteiro para si por meio do cinema e da arte. Hoje, Nelson busca captar recursos para realizar o “Na Quebrada 2”. Para ele, o workshop foi muito importante. “Deu para aprender muito e me identifiquei bastante com a história dos personagens”, disse ele, comentando que o mesmo sonho dos jovens de “Tapete Vermelho” é o dele aqui: fazer filmes.

E para Frédéric e Kantrama só há uma forma de se fazer cinema: fazendo. Esta foi uma das principais recomendações dos diretores durante o workshop, que contou com uma programação voltada tanto para a parte teórica e técnica de uma produção, quanto aspiracional, discutindo um pouco o mesmo método que usaram com os atores, que não eram profissionais, o pouco tempo que tiveram para produzir e recursos limitados. Tudo que buscava a jovem Luana Pinho Alcântara, de 18 anos, em sua última semana do curso de produção gráfica no Criar. “Já sei o que quero fazer, mas ainda tenho um pensamento meio vago sobre qual carreira seguir no mundo audiovisual, que é muito grande”, contou ela em busca de ideias.

Depois de se interessar pelo teatro aos 15 anos, Luana acabou sendo selecionada pelo Criar, onde se apaixonou por tudo ligado a produção cinematográfica. “Gosto de trabalhar nos bastidores e me muito quando soube como eles fizeram “Tapete Vermelho”, disse ela, curiosa sobre o uso de crowdfunding. “Filmes como esse mostram mais a alma do personagem, o que as vezes não se vê nas grandes produções”, comenta ela, para quem só o fato de terminar um filme e conseguir um lugar para exibir já é a realização de um sonho.

Conteúdo

O ex-aluno do Criar, Lukas Vernareccia de 22 anos, por sua vez, hoje estudando produção multimídia na Universidade do Senac, tem muito claro o que quer fazer e onde quer chegar profissionalmente. Sem ver limites para os processos de gravação, ele prioriza tudo que estiver ligado às discussões e reflexões sobre conteúdo. “Porque os processos, as técnicas de produção estão aí para quem quiser aprender”, afirma ele, que, no entanto, tinha muito interesse em saber como “Tapete Vermelho” foi feito com crowdfunding. “Tenho vários projetos, ideias, mas não tenho dinheiro, então quero entender como produzir sem budget, tornar algo realizável a partir do nada”, completa.

Durante o workshop, Frédéric e Kantrama explicaram ao grupo todo esse processo. Mas, talvez, a maior mensagem dos diretores estivesse mesmo na história do longa e dos sete personagens vividos pelos próprios jovens da comunidade, em Lausanne. Em uma das cenas iniciais, quando eles dizem ao assistente social – que por sua vez foi inspirado no próprio Frédéric – que querem realizar o sonho de fazer um filme, ele, sem recursos e sem se preocupar com dificuldades, simplesmente responde aos jovens: “OK”. 

Os dream makers

Os diretores do filme “Tapete Vermelho”, Frédéric Baillif e Kantrama Gahigiri, tiveram uma longa agenda no Brasil apresentando e discutindo o filme após as sessões. Satisfeitos com a repercussão do trabalho, eles comentaram um pouco mais sobre os detalhes da produção, a participação 5º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo e a importância do workshop para jovens interessados em cinema.

swissinfo.ch: No filme, quando os jovens disseram que queriam fazer um filme, imediatamente o personagem do assistente social se prontificou a ajudá-los. O que há de veracidade nesta cena?

Kantrama Gahigiri: Na verdade, ela foi inspirada em uma situação real. Fred foi chamado para conversar com os jovens sobre a produção e me chamou para participar. Estávamos todos sentados à mesa quando eles disseram que queriam fazer o filme.

Frédéric Baillif: E eu disse sim (risos).

KG: Nós realmente queríamos tornar isso possível. Moramos por alguns anos em Nova York fazendo filmes e fomos inspirados pelo modelo americano de “just do it”.

swissinfo:.ch: Me pareceu uma atitude tão suíça, como ter de fazer algo e simplesmente dizer “OK”.

KG: Talvez em negócios, mas do ponto de vista do cinema, das artes, não é bem assim. É realmente bem difícil realizar algo nessa área.

FB: Os suíços são muito organizados. Quando ele têm um projeto, eles sabem como fazer, eles dizem sim, porque têm a confiança de que sabem como fazer e fazer bem. Mas em relação a cinema é um pouco diferente. Nós somos ainda um pouco como aliens. Se não há dinheiro, financiamento, não se arrisca fazer apenas pela paixão.

swissinfo.ch: Você disse que fazer este filme foi uma aventura que você ainda está vivendo. Poderia falar mais sobre isso?

FB: Por conta disso é que aceitamos participar do workshop. Aprendemos tantas coisas com esses jovens, foi uma experiência tão intensa, que queríamos dividir isso com outros jovens.

Swissinfo: Apenas o personagem Fred era um ator profissional. Quanto tempo vocês tiveram para trabalhar com os jovens?

FB: Uma semana.

KG: Nós gostaríamos de ter tido mais tempo, mas a história se passava no Festival de Cannes, que era em maio. Nós estávamos em março. Então tínhamos um mês para fazer roteiro, o workshop com eles antes das filmagens e as filmagens em si. Tudo foi muito intenso.

swissinfo.ch: Como estão os jovens hoje?

FB: O mais jovem nos procurou, fizemos um demo para ele, ele encontrou um agente e assinou um contrato para um série francesa. Também tivemos um que se descobriu com o roteirista. Estamos filmando um roteiro dele, mas ainda não está pronto. Outro disse que queria desenhar sua própria roupa e está trabalhando nas roupas do filme. Eles estão procurando encontrar seus caminhos e nós procuramos dar o apoio que podemos. Eles podem contar conosco. Estamos os ajudando a fazer o que querem, e não precisa ser exatamente filme, mas o que realmente desejam.

swissinfo.ch: É de novo o “OK” para os sonhos.

KG: Sim. Essa cena a que você ser refere é um momento muito importante para mim, porque foi exatamente o que eu fiz. Deixei de trabalhar com Relações Internacionais para trabalhar com cinema. Esta cena do filme é o momento que queremos dizer para eles fazerem o que realmente desejam, o que realmente têm vontade de realizar. 

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