Perspectivas suíças em 10 idiomas

Suíços presentes no Festival de Cannes

Reuters/Eric Gaillard

No Festival de Cannes, que começa hoje, os cinéfilos darão uma atenção especial ao programa da "Quinzena dos Diretores" e suas descobertas. Nela são exibidos dois filmes suíços bem diferentes um do outro. Segundo seus responsáveis, ambos testemunham a grande liberdade de tom do cinema suíço.

Com as obras de Nicolas Wadimoff e Basil da Cunha, a 65° edição do festival programa pela terceira vez consecutiva filmes suíços na “Quinzena dos Diretores”. Essa seção bastante concorrida do festival tem por missão revelar jovens autores e homenagear obras de cineastas conhecidos.

Em 2010, a “Quinzena” colocava em evidência “Cleveland contra Wall Street”, o filme já célebre de Jean-Stéphane Bron. Em 2011 ela revelava ao público Basil da Cunha, cineasta luso-genebrino (26 anos), que apresentava o curta metragem “Nuvem-Le Poisson Lune”.

O mesmo Da Cunha está presente na “Quinzena” de 2012, que apresenta também o filme bastante esperado do suíço Nicolas Wadimoff. Peso-pesado do cinema helvético, Wadimoff (48 anos), autor entre outros dos filmes “Clandestins” e “Still Alive in Gaza”, muitas vezes premiados nos festivais internacionais, apresenta em estreia mundial “Operação Libertad”, um longa metragem de ficção.

Cinema personalizado 

A Suíça em destaque em um dos festivais mais importantes do mundo e por três edições sucessivas? “Sim, existe uma justificação”, ressalta Edouard Waintrop, coordenador da seção “Quinzena dos Diretores”, que vê nessa presença um sinal de saúde do cinema helvético, “um dos mais personalizados da Europa”, declara.

Edouard Waintrop, francês, ex-diretor do FIFF (Festival Internacional do Filme de Friburgo), ex-crítico de cinema do jornal Libération, atualmente responsável pela sala de projeção Cinémas du Grütli em Genebra, acumula competências. Ele também conhece a fundo o cinema suíço. “Tanner é Tanner, Goretta é Goretta, impossível de prendê-los em uma corrente. O talento deles é a grande liberdade de tom. O mesmo vale para Nicolas Wadimoff e que, além disso, ainda faz pensar em Alain Tanner pela sua insolência. Isso não escapa aos selecionadores do festival, sensíveis ao cinema suíço-francófono, muito mais do que em relação ao cinema da Suíça germanófona.”

Wadimoff vem do cinema político. E a política impregna a maior parte dos seus filmes. É o caso de “Opération Libertad”, uma ficção, fruto de inúmeras pesquisas e encontros com revolucionários que militavam na Suíça nos anos 1970. Wadimoff encontrou-os juntamente com o seu co-roteirista Jacob Berger.

A história se passa em Zurique. Em 1978 ativistas assaltam um grande toubam milhões de dólares depositados por uma das mais violentas ditaduras da América Latina. Eles próprios filmam o ataque. Trinta anos mais tarde, as fitas de vídeos testemunhando a sua ação reaparecem…

O equilibrismo, uma arte suíça 

“Nosso objetivo não é de falar do sistema financeiro suíço nessa época, mas da ação direta e do engajamento político. Nos anos 1970 tínhamos entre nós ativistas em contato com a RAF (Fração do Exército Vermelho) na Alemanha e com as Brigadas Vermelhas na Itália. São esses ativistas que observo no meu filme. Eu questiono a motivação deles e seus impulsos instintivos. O banco é apenas um pano de fundo. A chave está na pergunta: existe um preço a pagar quando a gente se torna militante revolucionário? Eu responderia que sim, forçosamente. Tudo o que espero é que o filme suscite um debate”, declara.

No entanto, “Operação Libertad” não é um filme-manifesto, insiste o autor. “Se eu divago sobre a Suíça é também para dizer que a capacidade desse país de digerir com brio todos os escândalos e sair ileso. É o que eu chamo de ‘arte do equilibrismo.'”

Seduzido, Edouard Waintrop admite: “Wadimoff vai fundo com a caricatura. Se a Suíça no seu filme está bastante avançada na gestão das crises, é porque o seu sistema de segurança funciona em silêncio. O banco não tem interesse de dizer que foi roubado por ativistas. Estes se encontram, portanto, em face de um sistema muito mais sofisticado do que o deles.”

Da política ao sonho 

Volta de 360° com Basil da Cunha, cujo estilo repousa no fantástico. Esse foi o caso no ano passado com o filme “Nuvem-Le Poisson Lune”. É o caso este ano com o seu novo curta-metragem “Os vivos também choram”  (Les vivants pleurent aussi). Ele conta a história de Zé, estivador no porto de Lisboa e que sonha em fugir da sua condição de operário e

embarcar para a  Suécia com suas parcas economias.

Basil da Cunha traça com sutileza, realidade e beleza. “Ele escapa no sonho, mas sabe como me manter o real. É uma mágica dele, ela é única”, diz Edouard Waintrop, que considera o jovem luso-genebrino como um dos mais prometedores talentos do momento. “Mesmo se ele foi educado na Suíça, sua inspiração continua portuguesa, aberto ao largo. E isso é bom. Sua presença na “Quinzena”, ao lado de Nicolas Wadimoff, marca a diversidade de um cinema suíço que multiplica os estilos, mas guarda uma grande coerência no interior de cada um deles”, conclui.

A 65° edição do festival ocorre de 16 a 27 de maio.

Desde 1946, Cannes acolhe filmes de cineastas suíços ou coproduzidos por empresas suíças.

Várias obras já foram apresentadas em diferentes seções do festival.

Dentre os filmes premiados: A fleur d’eau/In wechselndem Gefälle d’Alexandre J. Seiler (Palme d’or de curta-metragem de 1963. L’Invitation de Claude Goretta (prêmio especial do júri em 1973. La Dentelière de Claude Goretta (prêmio do júri ecumênico em 1977.

Dentre os filmes destacados nos últimos cinco anos: Le Créneau de Frédéric Mermoud (2007),  Home d’Ursula Meier (2008),  Film Socialisme, de Jean-Luc Godard (2010) e Cleveland contre Wall Street, de Jean-Stéphane Bron (2010).

Nasceu em 1964 em Genebra

Entre 1992 e 1996 atua como diretor na Televisão da Suíça francófona (TSR),  em vários programas informativos.

Ele realiza inúmeros documentários na Líbia, Argélia, Palestina, Israel, Iêmen, Ruanda…

Ele é membro fundador da produtora Caravane, que co-dirige de 1997 a 2002.

Em 2002 criou uma nova estrutura – Akka films – que produz documentários e longas-metragens de ficção.

Ele dirigiu e produziu Clandestins, filme que ganhou diversos prêmios internacionais.

Dentre suas obras recentes: L’Accord e Still Alive in Gaza

Nasceu em 19 de julho de 1985

Ele faz atualmente uma formação na Escola de Arte e Design de Genebra (HEAD), seção cinema.

Faz vários curtas-metragens antes de se tornar membro da Associação Thera Production.

Seu filme precedente “À côté” foi nomeado para o Prêmio do Cinema suiço 2010.

Ele também é autor de dois curtas-metragens: La loi du Talion  (2008) e Nuvem-Le Poisson Lune (2011)

Adaptação: Alexander Thoele

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR