Navigation

Colaboração com o apartheid não será elucidada

A colaboração durou décadas swissinfo.ch

As relações com o "criminoso regime do apartheid" continuarão nebulosas. Pelo menos por enquanto. O Parlamento suíço acaba de rejeitar uma CPI sobre a questão.

Este conteúdo foi publicado em 19. março 2002 - 11:39

Indícios se acumulam de que não apenas o setor financeiro suíço ajudou e até mesmo sustentou o regime segregacionista sul-africano (de "desenvolvimento separado"), como também de que os serviços secretos da Suíça teriam colaborado em programa de armas químicas e bacteriológicas de Pretória, visando exterminar negros.

Acusações

Um deputado socialista suíço (Jean-Nils de Dardel) estima que a Suíça colaborou de fato com "o regime criminoso" nesse programa. Mas sua iniciativa parlamentar foi rejeitada por 94 votos contra 60. A conclusão do deputado é de que "não há vontade séria do Governo nem do Parlamento em enviar investigadores à África do Sul".

O socialista fazia coro com políticos e ONGs que pediam inquérito para apurar novas alegações de atividades criminosas entre os dois países.

O próprio diretor do programa sul-africano de armas químicas, o "sinistro" Dr Wouter Basson - acusado atualmente no próprio país de vários crimes, inclusive de 16 homicídios - detalhou, durante seu processo, a cumplicidade entre os dois serviços de inteligência.

Basson disse inclusive que Peter Regli, ex-chefe dos serviços secretos suíços o ajudou, em 1992, a comprar na Rússia 500 kg de Mandrax, droga ilegal. Regli - que jura nada ter a ver com o caso - foi inocentado por inquérito parlamentar em 1999 de qualquer participação nesse programa sul-africano de armamento.

Em novembro passado, comissão parlamentar foi incumbida de apurar os fatos, mas a estimativa é de que não tenha ido longe. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha descreveu o texto como "horrivelmente ligeiro" e de "confusão total".

Estreita colaboração

Um outro inquérito foi ordenado pelo Ministério suíço da Defesa, em 1999, mas ainda continua classificado como "sigiloso".

Para o deputado socialista Jean-Nils de Dardel só resta esperar que jornalistas que continuam a investigar o assunto esclareçam melhor o caso.

O escândalo envolvendo os dois serviços secretos seria apenas um aspecto da estreita colaboração entre a Suíça e a África do Sul, durante o regime de apartheid, extinguido em 1994. A "Swiss - South-African", fundada em 1956, desempenhou papel essencial nesse aspecto, tornando-se pilar importante do regime segregacionista anti-negro naquele país.

A Suíça negou-se a aplicar as sanções da ONU contra Pretória, argumentando que isso faria mais mal que bem à população oprimida, o que, por outro lado, facilitava os empréstimos dos bancos. A partir de 1980, foram emprestados de 5 a 10 bilhões de francos a empresas sul-africanas, apesar de norma federal que limitava a soma a 300 milhões.

"Indefensável"

De 1985 a 1993 os empréstimos teriam rendido, em juros e dividendos, 2.7 bilhões.

E quando os norte-americanos deixaram a África do Sul em 1985, foram substituídos pelos bancos suíços que impediram falência do regime. Foi quando Zurique se tornou o primeiro mercado mundial do ouro e diamante sul-africanos.

A Suíça reconheceu seus erros apenas em 1999. Relatório independente aprovado pelo Governo admitiu que a posição da Suíça era indefensável desde 1985, do ponto de vista moral e político.

Para o deputado Jean-Nils Dardel seria necessário uma nova Comissão Bergier (a que apurou o envolvimento da Suíça com a Alemanha Nazista) para elucidar de uma vez por todas as relações bilaterais Suíça-África do Sul.

Por enquanto essa panela de pressão continua fechada. Mas pode explodir.

swissinfo

Em conformidade com os padrões da JTI

Em conformidade com os padrões da JTI

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Ordenar por

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?

Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco

Leia nossas mais interessantes reportagens da semana

Assine agora e receba gratuitamente nossas melhores reportagens em sua caixa de correio eletrônico.

A política de privacidade da SRG SSR oferece informações adicionais sobre o processamento de dados.