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Chega de preços irrisórios pagos aos cafeicultores

Ixil Torres e Adrian Borter:
Ixil Torres e Adrian Borter: uma conhece bem o mercado interno e o outro, a experiência suíça em administração de empresas. swissinfo.ch

Um suíço está ajudando os camponeses nicaraguenses a vender seu café para que empresas internacionais, como a Starbucks e o McDonalds, não comprem tudo com os baixos preços pagos.

Como se estivesse acariciando o cabelo de uma mulher do rosto, Victor Robelo empurra os galhos do café para o lado. Sob folhas verdes e cheias aparece uma penca de grãos de café. As frutas particularmente vermelhas estão maduras. Ele morde a pele dura, que se abre em fenda, e escolhe a fruta branco-esverdeada. “Você pode comer a polpa”, diz ele, empurrando a fruta em sua boca.

História das relações bilaterais

Desde 1990, o DEZA tem mantido um escritório de cooperação para a região da América Central em Manágua.

Após a queda da ditadura de Somoza em 1979, o DEZA tornou-se ativo na Nicarágua. Além disso, numerosas brigadas de trabalho suíças se juntaram à reconstrução do país.

Em 1936, o Conselho Federal nomeou um primeiro cônsul honorário para a Nicarágua, seguido do estabelecimento das relações diplomáticas em 1957. De 1968 a 1976, a Suíça manteve uma embaixada em Manágua, capital da Nicarágua. Em 1821 a Nicarágua declarou sua independência da Espanha, e a República foi proclamada. Em 1838 a Suíça reconheceu o Estado, logo após a sua fundação.

Suíços na Nicarágua

No final de 2016, 322 cidadãos suíços viviam na Nicarágua de acordo com as estatísticas da Suíça no exterior.

Fonte: EDA

A polpa tem um gosto surpreendente – doce e refrescante. Para o café, todavia, ela não é necessária. O grão é suficiente para isso – ele é verde. Mas tem que ser torrado primeiro. “Muitas vezes enviamos o grão verde para a Europa, os diferentes países gostam de diferentes torragens”, explica Robelo. Enquanto os escandinavos preferem torragens mais leves, os países do Sul gostam torragens escuras. E os suíços? “Eles gostam, para combinar com o seu país, de um meio-termo: uma torragem meio escura”, diz Robelo.

Uma bebida real

“Antes de vir para a Nicarágua, eu sempre pensava: quanto mais escuro – ou queimado – o expresso, melhor”, diz Adrian Borter. Ele mora em Matagalpa há cinco anos, na região cafeeira do norte do país, onde trabalha para a fundação suíça Business Professionals Network (BPN). “Nos velhos tempos, o café era simplesmente uma bebida para mim, mas quando visitei uma plantação de café aqui, percebi quanto trabalho há por trás de uma xícara de café. Na verdade, café é uma bebida real – no passado, apenas um rei teria a possibilidade de ter uma bebida tão intensiva.” De fato, a maior parte da produção é manual.

Nesse meio tempo, Borter desenvolveu um relacionamento muito diferente com o café, também graças a sua esposa Ixil Torrez. A animada nicaraguense sabe do que está falando, pois ela pertence à quarta geração de uma família de cafeeiros de Matagalpa. Torrez trabalhou na produção de café durante sete anos, antes de se formar com um mestrado em Negócios Internacionais pela London School of Economics (Escola Superior de Economia de Londres), na Inglaterra. Seu foco: Pesquisa do Café.

“Tudo no café me fascina – do plantio ao comércio, passando pelos sabores e o marketing. Mas acima de tudo estou interessada nas pessoas que trabalham por trás disso”, diz Torrez. Quando a universidade lhe ofereceu um doutorado, ela se recusou: “Eu aprendi na Europa como funciona o comércio de café, e vi o que a Nicarágua faz de errado. Então eu quis voltar e mudar isso.”

Nicaragua
Uma produção de café diferente de outros países: a região de Matagalpa, na Nicarágua. swissinfo.ch

Por si só

De fato, países como Colômbia, Costa Rica ou Brasil são conhecidos como produtores de café, mas não a Nicarágua – embora aqui também seja produzido café superior. Mas os cafeicultores muitas vezes carecem do conhecimento necessário sobre o mercado mundial, os contatos, o talento de vendas. Ao contrário da vizinha Honduras, a produção de café na Nicarágua não é subsidiada pelo Estado, os fazendeiros estão sozinhos e, portanto, ficam frequentemente felizes quando um comerciante estrangeiro quer comprar seus grãos. Empresas como McDonalds e Starbucks parecem saber que os pequenos produtores são indispensáveis. Elas compram café na Nicarágua muito barato.

Mesmo Robelo não soube por muito tempo que vendia seu café muito barato. “Quando comecei a produção de café, achei que era o preço usual.” Mas então ele ouviu acidentalmente no aeroporto como os comerciantes de café falavam sobre os preços. Ele percebeu que poderia exigir muito mais por seus grãos – o fator decisivo no comércio internacional é o preço da bolsa de valores. Robelo aprendeu sua lição e começou a lidar intensivamente com o comércio internacional de café. Ele também certificou sua fazenda com o selo Rainforest Alliance – embora ele já tivesse cumprido quase todas as condições anteriores, mas ele não sabia que poderia vender o café, com o selo oficial de aprovação, de forma melhor e mais cara.

Victor Robelo
O produtor Victor Robelo se arrepende de ter vendido tanto tempo a preços baixos. swissinfo.ch

Mais do que um comércio justo

Mas nem todos os cafeicultores podem pagar a custosa certificação. Muitos não conhecem os preços internacionais do café. É por isso que Ixil Torrez e Adrian Borter fundaram a empresa “AdIx”: uma combinação de seus primeiros nomes, mas também uma alusão à palavra “addicts” (viciados), já que os dois não podem sair da cama de manhã sem café. “AdIx” compra café de pequenos produtores, que os dois conhecem pessoalmente, e o vende para distribuidores no exterior a preços justos. “O conhecimento de Ixil sobre o negócio do café, juntamente com a minha experiência em gestão de negócios, assim como a conexão de sua paixão e da qualidade suíça é uma ótima combinação”, diz Borter. Com parte dos lucros, eles ajudam famílias em circunstâncias difíceis a construírem melhores moradias ou ter acesso ao saneamento básico. Mas esta também é uma fonte de renda extra para a pequena família: o casal tem dois filhos, e para Ixil Torrez “AdIx” é uma ótima maneira de trabalhar em casa.

Testes piloto na Suíça

Mesmo que o café da Nicarágua ainda não seja amplamente conhecido, ele encontrou sua via de acesso para a Suíça: A pequena torrefação “Cafés du monde” em Courchapoix, no cantão Jura, fez um teste com 25 kg no ano passado. “A doçura do café caiu muito bem para os nossos clientes”, diz torrador de café Yanick Iseli, que tinha visitado uma das plantações de café em Aranjuez, perto de Matagalpa, e é também um amigo do casal Ixil e Adrian. A situação econômica precária da Nicarágua e a conduta de mercado das empresas internacionais fizeram com que a cultura do café ainda esteja dando os primeiros passo no que diz respeito a uma especialidade de café (Specialty Coffee), avalia Iseli sobre a situação.

Adrian Borter
O comerciante de café Adrian Borter. swissinfo.ch

“Muitos produtores ainda acreditam que só podem ganhar dinheiro com a quantidade e esquecem a qualidade. Mas o potencial está aí”, diz ele. O clima e a localização geográfica são ótimos para o cultivo de café. “Algumas pequenas fazendas (ou fincas), como as plantações de café são chamados por lá, já estão produzindo excelente café, que eu gostaria de encomendar novamente”, disse Iseli. Seu objetivo é encomendar, nos próximos anos, o café orgânico e de comércio justo diretamente de agricultores, e vendê-lo na torrefação no Jura.

Cooperação econômica

O comércio bilateral entre a Suíça e a Nicarágua é modesto. Em 2016, a Suíça importou bens da Nicarágua no valor de 54,37 milhões de francos suíços: principalmente metais preciosos e produtos agrícolas, como café e banana. As exportações suíças para a Nicarágua somaram cerca de 5 milhões de francos suíços: principalmente para máquinas, produtos farmacêuticos e instrumentos ópticos e médicos.

Cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária

O DEZA (Departamento para o desenvolvimento e cooperação, na sigla em alemão) está em atividades na Nicarágua desde 1993. A América Central é uma área prioritária da cooperação suíça para o desenvolvimento. O DEZA coloca a ênfase de seus esforços na Nicarágua e em Honduras.

O apoio inclui os seguintes tópicos:

– Desenvolvimento económico (promoção de pequenas e médias empresas)

– Incluindo a governança, o Estado de direito e os direitos humanos (fortalecimento das comunidades rurais pobres)

– Mudanças climáticas e redução de riscos naturais

Todos os anos, o DEZA estabelece um orçamento de cerca de 23,5 milhões de francos suíços (2018-2021). Os parceiros mais importantes são os ministérios do governo (Ministério da Agricultura, Ministério dos Negócios Estrangeiros e outros).

Adaptação: Flávia C. Nepomuceno dos Santos, swissinfo.ch

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