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Como é interessante o meu português

Crianças debruçadas sobre um mapa
Compreendendo suas raízes: alunos da Associação Raízes debruçados sobre um mapa do Brasil. swissinfo.ch

Crianças, jovens e adultos aprendem a língua em instituições de diferentes níveis na Suíça. O português do Brasil e de Portugal está disponível em toda a Suíça, podendo ser estudado não só por crianças que são filhas de pais brasileiros ou portugueses, mas também por estrangeiros interessados na língua.

Os números mostram que nesse país de quatro idiomas oficiais, o português não fica para trás. Um exemplo: atualmente, 8.333 alunos de até 18 anos – descendentes de portugueses – aprendem aqui o português de Portugal.

“A legislação portuguesa prevê que é direito dos imigrantes terem acesso ao ensino da língua e cultura portuguesas quando estão no estrangeiro. Temos toda a parte curricular construída e orientada a partir do Camões, responsável pelo Ensino Português no Estrangeiro (EPELink externo), que acompanha a escolaridade obrigatória em Portugal. Então, temos cursos até o nível C1″, explica Lurdes Gonçalves, coordenadora do EPE na Suíça.

 Os cursos, que são oferecidos em todo o país, acontecem uma vez por semana, em períodos de duas ou três horas, depois do horário escolar. Para dar conta de tantos alunos, há 75 professores, trabalhando cinco dias por semana, entre 22 a 25 horas semanais.

Lurdes explica que as turmas podem ter alunos dos 6 aos 18 anos, e os professores têm que trabalhar com eles de forma diferenciada. Mas nas grandes cidades, ela diz, é possível formar grupos compostos por estudantes com a mesma faixa etária e mesmo nível.

“O grande desafio mesmo é ser capaz de tornar presente aquilo que é ausente: a cultura e a língua de herança na sala de aula. Se o professor conseguir fazer isso de uma maneira interessante, motivadora, os alunos, mesmo cansados, continuam”, afirma Lurdes, explicando que são aceitos qualquer aluno que queira aprender português. Os estudantes pagam uma taxa anual de 100 euros.

A coordenadora explicou também que as atividades trabalhadas em sala têm que fazer a ligação entre aquilo que é a herança que os pais dão e a origem dos pais, ou seja, a cultura que eles conhecem porque vivem em casa, e aquilo que é a cultura do dia a dia deles na Suíça. Segundo ela, é importante que o professor mostre como é o país no presente para ajudar a complementar a visão transmitida pela família. 

Onde é ensinado o português do Brasil

A ABECLink externo (Associação Brasileira de Educação e Cultura) oferece cursos de português como língua de herança em nove cantões, sendo a maior parte deles no de Zurique. Cerca de 200 alunos aprendem a língua nessa instituição, que tem 25 professores e substitutos.

Desde 1990 na Suíça, a brasileira Miriam Müller, coordenadora pedagógica e professora da ABEC, explica que o objetivo é que a criança aprenda a ler, escrever, compreender um texto e que possa entender, por exemplo, o humor brasileiro e uma poesia. 

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“O objetivo é trabalhar, sim, a língua, mas a língua nunca se dissocia da cultura. Tanto que hoje os pesquisadores chamam de língua-cultura. A gente usa os eventos culturais e as manifestações culturais brasileiras e também a parte da geografia, da ecologia, da história para trabalhar a língua portuguesa”, afirma a coordenadora da associação, que oferece cursos dentro do espaço da escola pública.

A maior parte das aulas é na quarta-feira à tarde. Segundo a coordenadora, são 18 semanas em cada semestre – as aulas vão de final de agosto até fevereiro e de fevereiro até julho. Quanto ao perfil das crianças, a maioria já é nascida na Suíça, de famílias multiculturais.

Miriam explica que para uma turma se manter, precisa ter, no mínimo, sete crianças. Em Zurique, dá para fazer a divisão dos grupos por faixa etária, mas em outros lugares, eles são formados por crianças de 7 a 13 anos, por exemplo. Essa heterogeneidade – por faixa etária, mas também por competência linguística, é o maior desafio.

Desafio enfrentado também pela RaízesLink externo, uma das associações que ensinam português como língua de herança a brasileirinhos de até 15 anos. Há mais de 20, a instituição desenvolve esse trabalho na parte francesa da Suíça. Atualmente, quase 120 alunos, com níveis diferentes, aprendem a língua nos cursos que acontecem uma vez por semana, fora do horário escolar, em Genebra, Lausanne e Nyon.

“O perfil dos alunos é bastante heterogêneo: alunos que falam português em casa e se comunicam bem podem estar ao lado de outros que não têm este contato cotidiano com a língua. Alguns, ainda, sequer falam o idioma e começam os primeiros passos na aprendizagem na associação”, explica Ana Paula Riccioppo, uma das coordenadoras.

Livros infantis, músicas, histórias em quadrinhos, textos de teatro e elementos do folclore são alguns dos materiais utilizados para ensinar o idioma a essas crianças, segundo a coordenadora.

 “Toda uma gama de opções para ajudar a criança a conseguir se reconhecer como brasileira, mesmo nunca tendo morado no Brasil, ou mesmo já tendo saído do Brasil e agora estando inserida numa outra comunidade. É importante para a criança conseguir interagir com certa confiança em português”, diz Ana Paula.

Durante a quarentena, as instituições encontraram maneiras de estar em contato com as crianças, fazendo aulas online em diferentes plataformas. Os alunos que frequentam as aulas em português recebem uma nota, que vai para o boletim escolar deles.

Aprender português para conversar com amigos

Também há cursos de português para adultos, voltados aos suíços e estrangeiros que têm interesse em aprender a língua. Bernard Bayerl, de 46 anos, integra uma das turmas da Raízes em Genebra. O suíço já morou no Rio de Janeiro de março de 2017 a setembro de 2018.

“Trabalhava numa empresa de inspeções e certificações de produtos mineirais. Precisava do português para entrar em contato com clientes e inspetores no Brasil inteiro”, explica Bernard, que tem nível avançado, e não parou de estudar a língua mesmo já estando de volta à Suíça.

Quatro rostos em uma tela
Estudantes de diferentes nacionalidades participando dos cursos online oferecidos pela Associação Raízes. swissinfo.ch

Atualmente, Bernard não precisa do português por razões profissionais, mas tem outros bons motivos para continuar praticando:

“Preciso do português para conversar com os amigos e também para manter-me informado sobre o que está acontecendo no Brasil. Gosto muito do país e da sua cultura”, diz.

O português no nível acadêmico

Nazaré Torrão, responsável pela Unidade de Português e diretora do Centro de Estudos Lusófonos na Universidade de GenebraLink externo, explicou à swissinfo.ch como o estudo da língua é oferecido na instituição:

“O português em Genebra funciona como opção. Portanto, é uma disciplina de opção para qualquer estudante da universidade”, afirma ela, dizendo também que as aulas são de língua, cultura e literatura.

Há os que assistem às aulas como ouvintes e aqueles que estão inscritos para obter crédito. Contando esses dois perfis de alunos, são cerca de 60 estudantes por ano, segundo Torrão.

“As aulas de português estão também abertas à comunidade genebrina em geral e as pessoas podem, se quiserem, continuar os estudos ou aprofundá-los”, explica a diretora da unidade, que realiza também seminários anuais e ciclos de conferência.

Estudos sobre temas brasileiros em Zurique

O brasileiro Eduardo Jorge de OliveiraLink externo, de Fortaleza, está há quase quatro anos em Zurique, trabalhando como professor assistente de “Estudos Brasileiros (Literatura, Cultura e Mídia)” na universidade da cidade. O brasileiro desenvolve trabalhos em literatura e artes.

Pessoa sentada frente à mesa
Eduardo Jorge de Oliveira, professor assistente de Estudos Brasileiros, dá aula na Universidade de Zurique swissinfo.ch

“A universidade de Zurique e a Politécnica dispõem de cursos de português, na modalidade brasileira, para as pessoas aprenderem. Então, eu já lido com estudantes que tenham conhecimento da língua. O que vamos fazer é trabalhar com textos literários, entender algumas dinâmicas históricas do Brasil”, diz ele, que dá aulas em português.

Eduardo trabalha com alunos da graduação (bacharelado), mas principalmente com os do mestrado e do doutorado – estudantes de Letras que estão interessados em temas brasileiros. 

“Eu tenho doutorandos que trabalham com Macunaíma, Niemeyer. Na graduação, dou aulas de literatura brasileira e, nesse semestre, o tema foi Amazônia. Lemos textos de José Veríssimo, Alberto Rangel, Euclides da Cunha até chegarmos ao livro “A queda do céu”, de Davi Kopenawa. O próximo curso vai ser sobre modernidades negras”, conta.

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