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Concurso aborda tráfico de seres humanos

Crianças trabalhando na produção de cacau da Costa do Marfim, em 2007. O tráfico de seres humanos, incluindo o trabalho infantil, gera lucros de 32 bilhões de dólares. AFP

Um concurso original para os estudantes das universidades suíças destaca a ameaça representada pelo tráfico de seres humanos para as empresas globais e busca soluções para o problema.

Lançado recentemente na Universidade de Genebra, o concurso, com prêmios em dinheiro, convida os estudantes a escrever artigos sobre como as empresas podem enfrentar a terceira maior atividade criminosa do mundo, depois do tráfico de armas e de drogas.

O tráfico de seres humanos inclui o trabalho infantil e o trabalho escravo de homens e mulheres. Tais práticas ilícitas oprimem milhões de pessoas e geram cerca de 32 bilhões de dólares em lucros anuais, de acordo com as Nações Unidas.

O concurso estudantil, o primeiro de seu tipo, foi promovido pela organização não-governamental End Human Trafficking Now (EHTN), com sede em Genebra.

Criada em 2006, a ong conduz uma campanha de conscientização das empresas sobre o tráfico de seres humanos, suas vítimas e causas. A campanha destaca também os riscos associados à reputação das empresas que terceirizam sua produção sem prestar atenção suficiente às condições de trabalho.

Charles Adams, membro do conselho da EHTN, disse que o tráfico de pessoas atinge todas as regiões do mundo. Segundo ele, há mais escravos hoje do que em qualquer momento da história.

“O mundo corporativo tem a responsabilidade de combater essa praga”, disse.

Para as grandes empresas que terceirizam a produção de bens e serviços, o risco de serem envolvidas – mesmo que indiretamente – em tal atividade significa que “uma norma de ação deve ser aplicada em todos os âmbitos da cadeia produtiva”, disse Adams à swissinfo.ch.

Problema suíço

O trabalho infantil e as condições de exploração persistem em países como a Índia e a China, onde as empresas ocidentais, incluindo algumas da Suíça, estão transferindo sua produção, acrescentou a porta-voz da EHTN, Rasha Hammad.

“É um grande problema – as pessoas estão começando a falar sobre isso”, disse.

O tráfico de seres humanos na Suíça tem sido comumente associado ao comércio sexual e às empregadas domésticas estrangeiras forçadas à servidão, especialmente nas casas de diplomatas estrangeiros.

Um relatório divulgado em junho pelo governo dos Estados Unidos criticou a Suíça por não cumprir os padrões mínimos para a eliminação do tráfico de seres humanos.

O relatório atacou o governo suíço por permitir a prostituição de menores com idade entre 16 e 17 anos, embora o país tivesse se comprometido a adotar uma lei contra a prática.

A polícia federal suíça, em seu relatório de 2010, estimou o número de vítimas do tráfico de seres humanos na Suíça entre 1500 a 3000 pessoas. Entre elas, prostitutas da Hungria, Romênia, Bulgária e Brasil, bem como crianças ciganas do leste europeu forçadas a mendigar e a roubar em cidades suíças.

Agir já

Mas este número é apenas a “ponta do iceberg”, já que há muito mais vítimas fora da Suíça trabalhando para fornecedores de empresas com sede na Suíça, disse Hammad.

A gigante mundial dos alimentos Nestlé, com sede em Vevey (oeste), foi acusada alguns anos atrás de comprar cacau produzido por mão de obra infantil na Costa do Marfim. A multinacional, desde então, comprometeu-se a adotar políticas de “comércio justo” para o seu abastecimento de cacau.

Mas a EHTN diz que está mais preocupada em destacar as empresas que têm atuado progressivamente contra o tráfico de seres humanos do que em culpar aquelas que agiram mal no passado.

A organização elogia empresas suíças como, por exemplo, o grupo mundial de viagens Kuoni, que tomou medidas para controlar se os hotéis com os quais o grupo trabalha adotam políticas contra a exploração de crianças.

Mudando o futuro

O concurso está sendo organizado com o apoio da faculdade de administração da Universidade de Genebra, da associação de estudantes e do Grupo Manpower (veja ao lado).

Stuart Marvin, porta-voz da Manpower, disse que a empresa de recrutamento decidiu apoiar a competição estudantil porque tem um grande interesse.

“Nós lidamos com pessoas que trabalham e queremos garantir que essas pessoas trabalhem de forma adequada”, disse Marvin.

O professor Michel Léonard, da Universidade de Genebra, reconheceu que, após os erros do passado, o curso de administração de empresas vem sendo “reinventado”, com maior ênfase na consciência ética e nas preocupações sociais.

Segundo ele, é preciso mudar a formação dos administradores. O professor cita como exemplo a introdução em Genebra de um mestrado em responsabilidade corporativa como um sinal da mudança dos tempos.

“Nós erramos”, declarou para uma plateia composta em grande parte de estudantes, em alusão às teorias do passado. “Vocês não, eu espero.”

O prêmio End Human Trafficking Now será dado para os trabalhos com 6000 a 9000 palavras, em inglês ou francês, sobre a questão do tráfico de seres humano e suas implicações para as empresas.

O termo “tráfico de seres humanos” se refere a atividades que envolvem uma pessoa que é obrigada a trabalhar para outra. Exemplos incluem o trabalho forçado, trabalho infantil, tráfico sexual, servidão por dívida e crianças-soldados.

O Protocolo das Nações Unidas para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças (conhecido como Protocolo de Palermo), foi ratificada por 142 países, mas suas disposições não são vinculativas.

O concurso é aberto a estudantes matriculados em qualquer universidade suíça para o ano 2011-12. Um trabalho pode ser escrito por um ou mais alunos.

Segundo os organizadores, os trabalhos deverão explorar um ou mais aspectos do tráfico de seres humanos e suas consequências para o setor privado. Os participantes devem sugerir medidas sobre como limitar o seu impacto sobre as empresas e a sociedade e prescrever recomendações para as empresas e outras organizações.

Os prêmios incluem somas em dinheiro de 2500, 1500 e 1000 francos suíços para os três melhores trabalhos.

O prazo para inscrições é 30 de junho de 2012.

Adaptação: Fernando Hirschy

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