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Conhecida filantropa suíça teve passado nazista

Anne Spoerri in front of her plane in Kenya
Anne Spoerry na ilha de Kiwaiyu, Quênia, em 1987. Credit: Robert Estall Photo Agency / Alamy Stock Photo

Uma médica suíça voa durante décadas pelo Quênia em um monomotor. Sua missão: cuida dos mais pobres. Somente depois que Anne Spoerry faleceu, é que seu papel na II Guerra Mundial foi esclarecido. A metade de sua vida foi uma tentativa de se arrepender?

Quando Anne Spoerry morreu, já estava com oitenta anos de idade. Ela foi uma heroína. Em fevereiro de 1999, a suíça sucumbiu após um derrame. Nesse ponto da vida – e até pouco antes de sua morte – tinha trabalhado por quase cinquenta anos, incansavelmente como médica no Quênia. Lá as pessoas a chamam respeitosamente de “Mama Daktari”, ou seja, “Doutora Mamãe”. Muitos a veem como uma santa. Milhares de pessoas se reúnem nas homenagens organizadas em Nairóbi, dentre eles até ministros e diplomatas.

Spoerry também é conhecida na Europa. Filmes, reportagens e perfis sobre elas já eram produzidos nos anos 1970. Sua história fascina: a suíça recebeu seu brevê de voo só aos 46 anos. Então comprou um monomotor Piper e voou quase todos os dias para atender pacientes nos cantos mais distantes do Quênia. Quase sempre sozinha e, não raramente, correndo um risco considerável. Spoerry salvou muitas vidas. “Ela fez o trabalho de um hospital inteiro”, escreveu um jornalista. Ela tem um “coração de ouro”, detalhou outro. “Reverenciada e respeitada como uma lendária médica voadora”: são as palavras inscritas na sua lápide no Quênia, após sua morte.

Somente anos depois é que se soube: nem toda sua história havia sido contada.

A incansável “Mama Daktari”

Era outono de 1948. Foi quando Anne Spoerry deixou sua casa em Männedorf, às margens do lago de Zurique. No porto de Marselha, ela embarcou em navio cargueiro, que pertencia a um amigo de seu pai. Neste trabalhou por dois anos como médica embarcada. Dois anos mais tarde, no início dos trinta anos, Spoerry chegou ao Quênia, após fazer escala no Iêmen e Etiópia, onde decidiu se estabelecer.

O motivo pelo qual deixou sua pátria três anos depois da II Guerra Mundial não ficou claro. “Era uma época em que todos os jovens tinham a esperança de encontrar outro mundo, fugir dos conflitos sangrentos e das más recordações da guerra”, escreveu mais tarde em sua autobiografia, publicada em 1994.

Nas quase 300 páginas escritas há poucas referências da experiência de Spoerry durante os anos da guerra. Quase casualmente escreve que passou cerca de dois anos na prisão nesse período, pois como estudante de medicina em Paris se envolveu com a Resistência Francesa. Então foi internada no campo de concentração de Ravensbrück, onde ficou por mais de um ano. Localizado ao norte de Berlim, ele abrigava mulheres e era o maior de seu tipo – e um lugar de horror. Lá, as prisioneiras eram condenadas a trabalhos forçados, humilhadas e torturadas. Dezenas de milhares morreram no campo.

Spoerry fugiu das lembranças da guerra? Começou uma nova vida na África Oriental devido às lembranças de Ravensbrück?

A suíça, que também possuía um passaporte francês, passou seus primeiros anos no Quênia em uma fazenda ao norte de Nairóbi. Ela visitava seus pacientes quenianos e europeus todos os dias em um Peugeot 203. Aos quarenta e poucos anos se engajou em uma ONG, que utilizava pequenos aviões para levar médicos às áreas mais remotas do país. Depois Spoerry conseguiu fazer seu brevê de piloto e comprou um monomotor. Desde então, não parou mais de voar a inúmeros vilarejos, principalmente no norte do Quênia.

Frequentemente, dezenas de pacientes já ficavam na pista de pouso esperando pela chegada de Spoerry. Eram lugares remotos, que ficavam meses sem aparecer um médico. Nos documentários onde apareceu, a suíça costumava usar um boné de beisebol e uma camisa azul. “Mama Daktari” colocava sua pequena mesa de atendimento bem ao lado do avião ou debaixo de uma árvore. Ela tirava os remédios da bolsa preta e começava a consulta. Crianças e mães vinham em primeiro lugar. Depois os outros. Spoerry aplicava vacinas, arrancava dentes e até atava ossos quebrados.

Companheiros de viagem a descrevem como uma aventureira que se adaptava a qualquer situação. Mas que era, por vezes, áspera e temperamental. Porém sempre se esforçava em fazer o bem. A descrição mais comum de Spoerry era de uma mulher “incansável”. Dizem que cuidava de 20 mil pacientes por ano. Alguns contam também que, na época, ninguém salvou tantas vidas na África como ela.

Anne Spoerry mit einer Patientin
Anne Spoerry tratando um paciente em Mukokoni, na costa do Quênia, 1987. Credit: Robert Estall Photo Agency / Alamy Stock Photo

Pergunta não respondida

Não demorou muito até que Spoerry chamasse a atenção dos jornalistas. Um, em particular, ficou encantado pela médica voadora: o americano John Heminway. “Estava curioso e intrigado. Queria descobrir o que a impulsionava”, diz ele ao telefone.

Ele encontrou a suíça pela primeira vez em 1980, no seu escritório, um pequeno bangalô perto do aeroporto de Wilson, em Nairóbi. Spoerry o levou de avião para o norte do Quênia e deixou acompanhá-la por alguns dias. Quando Heminway lhe perguntou uma noite sobre suas experiências durante a guerra, Spoerry se enfureceu. “Ela disse que isso não tinha nada a ver com o trabalho que ela fazia ali. Afinal, disse ela, eu estava lá para escrever sobre a sua vida na África. Isso era tudo o que importava”, lembra o jornalista.

Nos anos que se seguiram, Heminway faz repetidas matérias sobre Spoerry. Os dois se tornaram amigos. Heminway trouxe à tona o tema da guerra mais algumas vezes, mas Spoerry sempre o bloqueou. Com outros jornalistas acontecia o mesmo. Em uma entrevista nos anos 1980, Spoerry disse ao ser questionada sobre sua prisão no campo de concentração de Ravensbrück: “Já passou. Não vale mais a pena falar sobre isso.”

“Achei que ela não queria falar sobre esse período, pois era algo doloroso”, recorda Heminway. “Eu achava que ela tivesse sido torturada pelos alemães, talvez até mutilada. E que não era da minha conta.”

Heminway estava equivocado.

Um ano após a morte de Spoerry, o sobrinho da médica, Bernard Spoerry, entregou-lhe uma pilha de papéis. Ele a havia encontrado no cofre da tia após sua morte, disse ele. “Um dos documentos me tirou o fôlego”, diz Heminway. Era uma lista de nomes, compilada pelos Aliados ocidentais. Nele estavam fugitivos suspeitos de ter cometido crimes de guerra até 1945. Oito suíços e uma suíça foram incluídos na lista.

A suíça era Anne Spoerry: “procurada por tortura”.

Acusações sérias

O que Spoerry fez durante a guerra? Qual é a história que ela não queria contar? A história que abandonou na Europa, quando se emigrou à África.

Hoje, cerca de 75 anos depois, qualquer um que procure por respostas as encontrará em um prédio de concreto frio em Irchelpark, ao pé da colina em Zurique chamada de “Zürichberg”. Os arquivos do tribunal no caso Spoerry são guardados em pastas brancas, organizadas por data e devidamente numeradas no Arquivo Cantonal de Zurique. Graças a este meticuloso trabalho de documentação, a história de Spoerry pode ser reconstruída com bastante precisão.

Em um domingo de janeiro de 1947, um transporte de prisioneiros chegou às 18 horas à prisão distrital de Meilen. No carro: Anne Spoerry. A mulher de 29 anos havia sido presa algumas horas antes em uma casa em Lenzerheide. Um dia depois, a polícia revistou sua residência em um povoado vizinho, Männedorf. Spoerry foi interrogada três vezes no mesmo dia.

As acusações eram sérias: “Presa sob custódia, por assassinato”, escrevia o relatório do promotor. Além disso, ela era acusada de ter ajudado e sido cúmplice em um assassinato, assalto e agressão. Hoje, falaríamos de crime de guerra. No entanto, o delito só foi registrado pelo Direito Penal suíço vinte anos após a prisão de Spoerry.

Spoerry supostamente cometeu os crimes durante o tempo em que esteve no campo de concentração de Ravensbrück. Lá, como médica prisioneira, se tornou responsável pelo atendimento no seu pavilhão logo após a chegada. Mas de acordo com a acusação, em vários casos, Spoerry fez o contrário do que os médicos normalmente fazem: ela maltratou outras mulheres, enviou-as para a morte e as assassinou.

Concentration Camp
Campo de concentração de Ravensbrück, Alemanha. Credit: Imagebroker / Alamy Stock Photo

As transcrições dos interrogatórios iniciais dão a impressão de uma mulher sem remorso ou autocrítica. “Isso me faz rir. Oh não, isso não é verdade”, respondeu quando questionada se aplicou injeções letais em detentas. Ela também negou a acusação de ter participado das “seleções” de detentas. Nestes, separava-se as que eram capazes de trabalhar das que iam para a câmara de gás. Spoerry admitiu, no entanto, ter batido nas presas e colocado no banheiro, dando-lhes banhos com água fria durante o inverno. “Não sei se as mulheres pegaram um resfriado como resultado”, disse, na época.

“Comportamento atroz”

Dez dias após a prisão de Spoerry, a primeira testemunha de acusação foi ouvida em Meilen. Uma ex-prisioneira descreveu o comportamento de Spoerry como “atroz”. Ela acusou a médica de ter sido responsável pela morte de várias mulheres. Também descreveu as ações punitivas de Spoerry da seguinte forma: “Com uma correia de couro, as mãos das mulheres eram amarradas atrás das costas. No banheiro, eram forçadas a entrar em uma grande tina de água. Então a torneira era aberta e a água gelada escorria sobre as doentes.”

De modo geral, as investigações levadas em Zurique na primavera de 1947 progrediram muito lentamente. Uma razão era a dificuldade de encontrar mais testemunhas. Outra razão foi o próprio Ministério Público: sua vontade de investigar mais a fundo era “limitada”. Apenas seis semanas após o encarceramento de Spoerry, o procurador deu sua opinião. “Não acredito que o caso termine com uma acusação”, escreveu em uma nota. Ele considerava que a única testemunha de acusação pouco digna de confiança. Afinal, já haviam sido feitas investigações judiciais contra ela, uma mulher “casada pela quarta vez”.

Em 7 de março de 1947, Anne Spoerry foi solta sob o pagamento de uma fiança de 30 mil francos. As investigações continuaram até dezembro. Então, na véspera do Natal, o Ministério Público fechou o caso. Pouco tempo depois, o processo foi arquivado “por falta de provas conclusivas”.

Quase um ano depois, Spoerry emigrou para a África e abandonou o passado. Até a morte, nunca mais falaria publicamente sobre as experiências em Ravensbrück.

Calou por não ser inocente?

O “anjo negro

Quando John Heminway recebeu os documentos de Spoerry em 2000, se empenhou em encontrar uma resposta às questões abertas. Ele visitou arquivos na França, Grã-Bretanha e Suíça. O jornalista tentou reconstruir o que aconteceu durante os dezesseis meses que Spoerry passou no campo de concentração de Ravensbrück.

Durante a pesquisa, descobriu o nome de outra suíça: Carmen Mory. A mulher, originária do vilarejo alpino de Adelboden, no cantão de Berna, foi presa em Ravensbrück sob a acusação de ter trabalhado como agente dupla alemã-francesa. Quando Spoerry se tornou médica no pavilhão número 10, no campo de concentração, Mory era a mulher mais velha no pavilhão e tinha, por isso, uma função de supervisão.

As duas se tornaram amigas e passaram a dividir um quarto. Mais tarde, outras detentas chegaram até a falar de um “caso de amor”. Spoerry assumiu os cuidados médicos das prisioneiras do pavilhão 10, sob a supervisão de Mory, considerada inescrupulosa, manipuladora e violenta. Suas companheiras a chamam de “anjo negro”. O que isto significa é revelado ao mundo dois anos após o final da guerra, perante um tribunal militar britânico em Hamburgo: Mory foi condenada à morte por homicídio múltiplo e maus-tratos no pavilhão 10. Pouco tempo depois, se suicidou.

Todos os crimes de que Spoerry foi acusada posteriormente na Suíça, foram cometidos durante os cinco meses que passou no pavilhão 10 do campo de concentração, sob a direção de Mory e, em parte, em colaboração com ela. Ela teria sido um “diabo”, que a “amaldiçoou”. De acordo com uma colega de prisão, Spoerry teria dito isso de Mory, depois que deixou o pavilhão.

As pesquisas de Heminway parecem confirmar isto. Ele encontrou três francesas que estavam com Spoerry no pavilhão 10 do campo de concentração. Uma das mulheres contou como Spoerry aplicou uma injeção letal em uma garota polonesa. “Ela não hesitou”, disse. “Eu fiquei sem palavras”, explica o jornalista americano. Outra contou como uma presa morreu depois que Spoerry a espancou e jogou água fria sobre ela.

Heminway se chocou. Elas falavam da mesma mulher que tanto admirava no Quênia?

O jornalista investigou o caso por quase dez anos. Em 2018 publicou um livroLink externo. Nele, Heminway não conseguiu responder a todas as perguntas abertas sobre o papel de Spoerry no pavilhão 10. Mas considera que há poucas dúvidas em relação à sua culpa: “Não posso confirmar todas as acusações contra Spoerry. Claro é que ela fez coisas ruins por lá.”

Spoerry se beneficiou do espírito do pós-guerra na Suíça?

O fato de que o inquérito de 1947 tenha chegado a uma conclusão diferente se deve a uma série de razões: falta de provas sólidas, o difícil acesso às testemunhas e o advogado de Spoerry, que nem sequer preparou um relatório grafológico para desacreditar uma testemunha de acusação.

Acima de tudo, porém, o relatório final de 51 páginas produzido pelas autoridades judiciárias de Meilen sugere que Spoerry definitivamente se beneficiou do momento histórico. Em 1947, a Suíça quase não refletiu sobre seu próprio papel durante a II Guerra Mundial. Nem a população, nem a Justiça, mostraram qualquer interesse.

Neste contexto, não é de surpreender que Spoerry seja vista pelos investigadores como uma vítima e não como uma criminosa de guerra. As dúvidas foram ignoradas. Ela distinguiu pela “notável coragem e bravura inabalável”, escreveram os investigadores no relatório final. A ela também são creditadas “inteligência, consciência e retidão”.

As autoridades judiciárias em Zurique tinham uma opinião muito diferente das outras quatro testemunhas, cujos depoimentos foram registrados por escrito. Estas testemunhas – a maioria comunistas, como se afirmou sem provas – teriam “agravado fatos e circunstâncias por uma certa animosidade”. Além disso, “o sofrimento doentio desempenha um papel predominante em suas declarações e, portanto, prejudica a objetividade”.

John Heminway encontrou duas das testemunhas mencionadas no relatório final, cerca de sessenta anos depois. Sua avaliação é diferente: “Elas foram muito convincentes.”

Movida por um desejo de pagar os pecados?

Não é mais possível mais saber o que Anne Spoerry fez realmente no campo de concentração de Ravensbrück. Sua transformação – de suposta criminosa de guerra para benfeitora no Quênia – levanta questões. Uma delas seria: pode-se desculpá-la pelos atos que cometeu, levando-se em conta que teriam sido até necessários para garantir sua sobrevivência, dadas as terríveis condições no campo? Se sua viagem ao Quênia foi uma fuga da Justiça, mas também das velhas companheiras que sabiam sobre o seu passado no pavilhão 10? Spoerry queria pagar seus pecados ao ir para a África? Sua segunda vida foi uma tentativa incansável de esquecer sua primeira?

“Anne certamente não teria sobrevivido se não tivesse feito o que Carmen Mory lhe disse para fazer”, afirma Bernard Spoerry, sobrinho da médica, 72 anos, e que passou parte de sua vida no Quênia. Lá viu a tia fazer o bem. Os dois tinham uma relação muito estreita.

Bernard só soube da história em Ravensbrück pouco antes da morte de Anne Spoerry. Uma vez que um tio havia mencionado que Anne tinha que responder por suas ações perante a Justiça. Mais tarde, conta, uma companheira de prisão de Spoerry contou-lhe que a tia era acusada. “Muitas coisas fizeram sentido então”, lembra-se Bernard Spoerry. O silêncio da tia e da família. Mas as acusações não lhe causaram raiva ou consternação, diz. “Se estivesse numa situação como essa, teria feito qualquer coisa para salvar minha pele.”

Para o jornalista John Heminway, o caso é ainda mais complicado. “O comportamento dela em Ravensbrück foi terrível. Foi diabólico, extremamente maldoso”, diz. Ele acredita que Spoerry foi para o Quênia para escapar do passado. Perguntado se poderia perdoá-la, Heminway conta sobre uma das mulheres que entrevistou para escrever o livro. Como companheira de prisão no pavilhão 10, foi testemunha dos atos de Spoerry. “Se a tivesse encontrado na rua depois da guerra, teria virado as costas e me recusado a cumprimentá-la”, disse ao jornalista. “Mas hoje, com o que sei sobre sua vida na África, a abraçaria.” Heminway diz que se sente da mesma forma. “Sua vida na África era semelhante à de uma santa.”

“Não existe um atalho”

E a própria Spoerry? Ela se reconciliou com seu passado? Certo é que, até os últimos dias, considerou que não havia concluído seu trabalho no Quênia. “Ela era impulsionada”, diz Heminway. Bernard descreve seu zelo como “obsessivo”. “Ela só se sentia bem quando trabalhava.”

“Não existe um atalho. Você não se aquieta até terminar o que está fazendo”, disse Spoerry em uma entrevista, alguns anos antes de sua morte. “Quando você cessa de trabalhar, é como se fosse uma derrota.”

Uma pessoa pode pagar os erros fazendo o bem depois? Talvez Anne Spoerry também tenha feito repetidamente esta pergunta a si mesma. Talvez não tenha encontrado uma resposta até o final. E, portanto, simplesmente continuou.

Artigo publicado no jornal NZZ em 17.02.2021Link externo. Reproduzido aqui com permissão do autor e da editora.

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