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Continua produção clandestina de absinto

Um dos destiladores ilegais produz o absinto na área de serviço de casa em Val-de-Travers. RDB

Um ano depois que as autoridades suíças aboliram a proibição centenária do absinto, dúzias de fabricantes continuam produzindo a famosa bebida em destilarias clandestinas.

A Administração Federal do Álcool já fez algumas batidas policiais durante o inverno, mas considera difícil combater a produção ilegal.

A venda e produção de absinto estão legalizadas na Suíça desde março do ano passado, mas estatísticas publicadas em março pela Administração Federal do Álcool (EAV, na sigla em alemão) mostraram que a famosa “fada verde” está voltando aos seus dias de glória.

Nos últimos doze meses foram produzidos cerca de 130 mil litros do absinto, sendo que 90% dessa quantidade vieram do seu berço histórico, o Val-de-Travers, ao norte da Suíça.

O EAV distribuiu oito licenças, a maioria para antigos produtores na área de Val-de-Travers, mas acredita que trinta e cinco destiladores devam estar atuando na região.

Marc Gilléron, chefe das operações de destilaria para a Suíça francesa no órgão público, acredita que a produção ilegal de absinto continua por duas razões: evasão fiscal e para manter a áurea de “fora-da-lei” da famosa bebida suíça.

– A revogação da proibição do absinto levantou um grande debate entre a população de Val-de-Travers. Muitos achavam que essa mudança iria acabar com a mística. Eu acredito que esse sentimento levou muitos destiladores a querer manter as tradições continuando a produzir o absinto na ilegalidade – afirma Gilléron.

Vantagens financeiras

Mas a imagem romântica dos destiladores corajosos e que estão com um pé ao largo da lei ignora um fato importante: o de que muito dinheiro também está em jogo nesse negócio. Uma destilaria ilegal produzindo milhares de litros de absinto a cada ano pode embolsar grandes quantidades de dinheiro.

O EAV não pode avaliar quanto absinto está sendo produzido ilegalmente, mas as últimas batidas policiais realizadas mostram que essa economia informal está florescendo lentamente. A dificuldade que os fiscais têm é de obter informações sobre as atividades dos destiladores nessa comunidade especialmente fechada.

– No Val-de-Travers existe uma espécie de rígido código do silêncio envolvendo o absinto. Por isso as únicas informações que temos vêm de fora dessa comunidade. Eu tenho certeza que a maior parte dos habitantes sabe quem produz ilegalmente, mas ninguém iria denunciá-lo – conclui Gilléron.

Muro de silêncio

Se a língua das pessoas continuará presa é uma questão atualmente aberta. Alguns dos destiladores legais já se mostram contrariados com o fato dos seus competidores continuarem produzindo sem autorização, enquanto eles são obrigados a pagar os impostos, porém as tradições obrigam a solidariedade.

– Essa veia rebelde sempre fez parte do Val-de-Travers. Por isso temos de aceitar que alguns produtores prefiram ficar na ilegalidade, mesmo sabendo que alguns deles acabam competindo com os legais. Tudo depende da dimensão: se o produtor só fabrica absinto para uso pessoal, amigos ou vizinho, então ele deve ser deixado em paz. Porém se o produtor chega a certos limites de produção, então acho que é justo que ele regularize sua situação – analisa Julien Spacio, secretário-geral da associação local de produtores de absinto.

Spacio estima em 35 o número de destilarias ilegais em Val-de-Traver. Ele nega veementemente que sua organização estaria dando cobertura para esses produtores. Na sua opinião, cada membro seria responsável por sua própria ação.

Tanto a associação de produtores de Val-de-Travers, como o órgão público EAV, negam que o absinto legal não teria a mesma qualidade e força do produto ilegal do passado.

– Os fabricantes atuais estão utilizando os mesmos métodos do passado, onde é permitido o uso de no máximo 35 miligramas de thujone, a substância tóxica encontrada na planta do absinto. Nós quase sempre encontramos destilarias ilegais que usam muito menos do que isso nos seus produtos – afirma Gilliéron.

swissinfo, Adam Beaumont

Os eleitores suíços baniram a venda e produção de absinto em 1908.
Uma versão da história do surgimento da bebida diz que ela foi descoberta por volta de 1740 por Henriette Henriod, no cantão de Neuchâtel.
Outra diz que ela foi inventada em 1792 pelo doutor Ordinaire, um francês exilado na Suíça por questões políticas.

Absinto é o nome abreviado da planta “Artemisia Absinthium, largamente usada na culinária e na farmácia desde a antiguidade, devido às suas benéficas funções digestivas. A bebida absinto é um destilado alcoólico das folhas e da parte superior de Artemisia absinthium e de outras plantas e ervas para aprimorar seu sabor, tais como o anis, funcho e hissopo.

Em sua composição entram dois tipos de Artemisia (Artemisia absinthium e Artemisia pontica), dois tipos de anis, hissopo, funcho e outras especiarias e ervas aromáticas. No processo de destilação descartamos a primeira e última partes (cabeça e cauda) do líquido destilado. Estas partes contém certos álcoois e substâncias indesejadas na bebida, causadoras de dor de cabeça.

O Thujone é o princípio ativo presente na planta Artemisia Absinthium. Também encontra-se Thujone em grandes quantidades na Sálvia e no Estragão, utilizados diariamente na culinária. No século XIX, o absinto era produzido sem nenhum controle sobre a quantidade de Thujone presente na bebida. O nível de Thujone chegava a incríveis 250mg em cada quilo de bebida engarrafada. Suspeita-se que tamanha quantidade de Thujone seria causadora de alucinações nos apreciadores do absinto.

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