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Imprensa suíça considera empate como vitória da “Nati”

Swiss midfielder Steven Zuber (right) celebrates after scoring the equalizer
O meio-campista Steven Zuber (direita) celebra o gol que empata o jogo entre a Nati e a seleção brasileira. Keystone

A imprensa suíça acordou eufórica na segunda-feira. Os jornais falam como se o sistema antiatômico do país tivesse sido usado, tamanha a surpresa pelo empate no jogo entre Davi e Golias disputado ontem em Rostov (1-1). Não a Suíça não foi atomizada, muito pelo contrário. Alguns escrevem que a teatralidade de Neymar é que incomodou.

O NZZ, sisudo e prestigioso jornal de Zurique, não poupou elogios à “Nati”, como a seleção suíça é carinhosamente chamada. “…Os suíços desejavam um jogo perfeito, uma noite mágica em Rostow. E no final, foi realmente uma noite memorável, embora nada que permaneça para a eternidade. Teria seria necessário mais para ter uma vitória dos sonhos. Ainda mais coragem, ainda mais classe, melhor primeiro semestre, talvez…”

A atenção estava voltada principalmente para um jogador suíço. “…No final, foi preciso ter sorte para esse 1 a 1 contra o Brasil e, acima de tudo, a vontade quase desumana de sacrifício de um jogador como o Valon Behrami, um homem imune às dores e que, apesar de doente, jogou como se lutasse pela vida…”

E fazendo um balanço do resultado, o jornal de Zurique ressalta que a seleção suíça não começa uma Copa com vontade de perder. “…Pela quinta vez consecutiva a seleção suíça não perdeu um jogo inicial da Copa do Mundo. Ela está acostumada a jogar campeonatos mundiais contra grandes adversários. Em 2006 foi o empate contra a França de Zidane; em 2010, uma vitória de um a zero contra a Espanha de Iniesta. Durante muitos anos a vitória contra os espanhóis na África do Sul foi considera a mais prestigiada de um time suíço. Mas, ao mesmo tempo, foi uma das vitórias mais feias de todos os tempos, porque ela foi por acaso e não conquistada no jogo…”

A principal explicação está no trabalho feito pelo treinador suíço nos últimos anos. “…Petkovic treinou a equipe nos últimos quatro anos para se tornar mais independente, afastando-os de uma mentalidade de “ostra”. Muitos treinadores teriam tentado se esconder do Brasil para conter o estrago. Foi assim que os jogadores suíços se comportaram por muitos anos. Eles esperavam pelos erros dos outros e não confiavam em si mesmos. Todavia, a primeira partida da Copa do Mundo na Rússia mostrou que a seleção suíça não apenas joga um bom futebol quando se trata de disputar uma partida contra a Letônia ou as Ilhas Faroe. Seu estilo de jogo mostra isso, mesmo contra o Brasil. Essa é a mensagem de Rostov. Nunca viu uma equipa suíça com Petkovic frente a um adversário de classe mundial melhor do que esta noite na Rússia, talvez no máximo em 2016 contra Portugal…”

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Tudo que você precisa saber sobre a seleção suíça

Este conteúdo foi publicado em “Foi uma decisão difícil”, disse Petkovic. “Mas estou convencido de que fiz a escolha certa. Talvez eles não sejam os melhores 23 jogadores individualmente, mas essa é a equipe mais completa”. Dez jogadores estão sediados na Bundesliga alemã e cinco atuam na Série A da Itália. Apenas um deles, o zagueiro Michael Lang, do FC…

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Azarões incomodam os favoritos

O jornal “20 Minutos” publica manchetes com letras garrafais para comemorar o empate como se fosse uma vitória. “…Que começo para a Copa do Mundo! A Suíça decepciona a grande seleção brasileira. Com o empate, a Suíça permanece invicta pela quinta vez consecutiva em uma partida inicial na Copa do Mundo desde 1994. E assim ela se junta ao grupo de azarões que agora estão incomodando as grandes nações do futebol na Rússia…”

Para o jornal gratuito, a partida foi um duelo entre dois jogadores. “…Foi um sucesso do coração de luta e coragem. Exatamente como o treinador Vladimir Petkovic havia exigido de seus jogadores antes do início da Copa do Mundo. Ninguém incorpora essa paixão melhor do que Valon Behrami, o coração e os pulmões dessa seleção. Durante 71 minutos, ele venceu tantos duelos contra Neymar que o superstar parecia ter perdido o apetite pelo jogo…”

Teatralidade de Neymar

O Tagesanzeiger, jornal de Zurique, é mais comedido nos elogios, mas considera que a Nati teve um bom desempenho. “…Foi um jogo bastante apertado. Durante 85 minutos a Suíça jogou bem e teve a sorte de ter sobrevivido até o final da partida. Mesmo que Behrami tenha perdido os últimos 20 minutos. Behrami faz Neymar desesperar. Behrami, que provavelmente receberá uma oferta de toda a França…”

Porém o comentarista do jornal critica as quedas constantes de Neymar. “…Os comentários devem ser vistos como um elogio para ele. Behrami deu trabalho aos brasileiros e especialmente ao Neymar. Com sua dureza, vontade e poder de luta. Behrami estava em sua própria metade do campo. Ele era o trabalhador pesado na sala de máquinas da seleção suíça. Dirigiu as linhas de defesa. Ficou no caminho do adversário e repetidamente procurava o duelo contra Neymar. A única coisa que incomodava os suíços era a estupenda teatralidade de Neymar. Mas era só aparecer o Behrami que o Neymar caia…”

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* imagem acima: presidente da Confederação Suíça, Alain Berset, encontrou os jogadores suíços um dia antes do jogo contra a seleção brasileira.

“Subir o Pão de Açúcar”

Já o Blick considera que a Nati provou maturidade e qualidade no jogo. Não sem elogiar também a seleção. “…Quem viu Valon Behrami lutando contra o Brasil, quase chorou como torcedor da seleção suíça. Impressionante, honesta, incrivelmente forte. Mesmo ferido, ele levou Neymar ao desespero. Nós vamos subir o Pão de Açúcar! Não apenas Behrami, mas todos os jogadores da ‘Nati’ e também o treinador Vladimir Petkovic, cujas táticas para enfrentar a equipe do Neymar deram certo…”

O jornal mais vendido na Suíça qualifica mesmo de ‘histórico’ o empate. “…O que a nossa seleção fez contra o Brasil nos deixa orgulhosos. Apesar do placar estar marcando inicialmente uma derrota de 0 a 1, os suíços permaneceram calmos. Ela mostrou amadurecimento ao manter o equilíbrio, mesmo estando disputando uma partida contra uma equipe de classe como a do Brasil. Foi um dos melhores desempenhos dos suíços em uma Copa do Mundo. Mesmo se o fator ‘sorte’ ter tido também o seu papel e sem a ajuda do árbitro de vídeo. Foi um jogo conquistado…”

Decepção com a “Seleção”

Na parte de língua francesa do país, os elogios à Nati demonstram também uma ponta de decepção pela seleção canarinho. “A Suíça não é mais café com leite”, diz o jornal Arcinfo, de Neuchâtel. “Para sua primeira partida da Copa do Mundo, a equipe suíça conseguiu um grande feito, forçando o Brasil a engolir um empate”, comemora.

O jornal La Liberté, do cantão de Friburgo, fala de uma verdadeira façanha e de um realismo frio na abertura de seu caderno reservado aos esportes. O diário aponta que o sexto lugar da Suíça no ranking da FIFA não é uma coincidência. “Mesmo não dando ainda o melhor de si, ela consegue encarar os maiores”, escreve o jornal.

No cantão do Valais, o Le Nouvelliste acredita que a Suíça conseguiu “entrar pela grande porta” na Copa do Mundo. “Suíça mostra garra”, título do Le Quotidien Jurassien. “Adoramos sua bravura, é claro, mas também sua segurança técnica e a calma dela depois do gol brasileiro”, escreve o jornal do cantão do Jura em editorial.

“Uma proeza contra o favorito”, diz o Le Matin, que dedica cinco páginas ao jogo. “Com este empate, a Suíça está pronta agora para mudar de status. Este ponto é uma promessa e coloca uma pressão positiva sobre esta equipe”, escreve o tabloide da Suíça francófona, que também enche de elogios o jogador Valon Behrami, “que se mostrou fenomenal na sua 80ª seleção”.

“A Suíça entra na dança se agarrando ao Brasil”, diz o título do 24 Heures. “A Suíça se comportou como uma verdadeira equipe, seguiu as instruções para se arriscar no jogo sem abandonar sua defesa”, observa ainda o jornal do cantão de Vaud.

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