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Covid-19 provoca desemprego de longa duração

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Aucune offre d'emploi sur ces tableaux d'affichage du Centre régional pour l'emploi de Lugano au Tessin, en juillet 2020. © Keystone / Christian Beutler

A pandemia afeta a economia de todos os países atingidos. Especialmente o desemprego a longo prazo aumenta, o que é considerado como uma "bomba-relógio" para muitos especialistas.

Olivier Schopfer, 50 anos, procurava um emprego desde dezembro de 2018. Finalmente, no final de 2019, foi contratado por uma empresa de administração, mas um mês depois, já perdia de novo o trabalho apesar de ter três décadas de experiência como contabilista. As razões foram econômicas. “A empresa tinha muitos restaurantes como clientes”, declarou. “Quando a crise chegou, meus chefes me disseram que não era mais possível pagar o meu salário.”

Como na Suíça, muitos outros países na Europa introduziram a partir da primavera de 2020 medidas de distanciamento para combater a pandemia de Covid-19, congelando as atividades de setores inteiros da economia.

O clima de incerteza generalizada fez com que muitas empresas adiassem contratações de pessoal. Outras foram obrigadas a demitir pessoal frente às dificuldades de caixa.

Os índices de desemprego se desenvolveram de forma diferente nos países. Estes dependem da estrutura dos seus mercados de trabalho, da extensão das restrições de movimentação e acordos de proteção ao emprego firmados. Porém em um ano, o desemprego se tornou um fenômeno em todo o globo.

Na Suíça, o índice de desemprego continua baixo. Mas já batia um recorde em janeiro de 2021 em relação à situação na primavera de 2020: 5% de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), e 3,7% de acordo com os cálculos mais restritos da Secretaria de Estado para Economia (SECOLink externo), que conta apenas pessoas registradas nas agências oficiais de emprego.

Embora analistas considerem que os índices continuem elevados a curto prazo, estes temem que o desemprego de longa duração possa se tornar um fenômeno de maior amplitude.

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Desemprego de longo prazo

Artigos recentes na imprensa internacional relatam o nível historicamente elevado de desemprego de longa duração no final de 2020: “500 mil desempregados de longa duração a mais” na AlemanhaLink externo, +37% em um ano na ÁustriaLink externo, +52% na EspanhaLink externo. Na FrançaLink externo o problema atinge três milhões de pessoas, “um nível nunca alcançado”.

O desemprego é considerado de longo prazo quando a procura já dura mais de um ano. Os dados mais recentes, gerados no terceiro trimestre de 2020, ainda não refletem o impacto da segunda onda. No entanto, uma tendência crescente, exceto em dois países: na Grécia, onde a taxa de desemprego de mais de seis meses era uma das mais elevadas antes da crise; e na Coréia do Sul, país visto como “exemplar” na gestão da pandemia.

Os Estados Unidos e o Canadá apresentam o crescimento mais forte. As estatísticasLink externo mais recentes mostram que no período de outubro a novembro de 2020, o desemprego atingiu 2,8% (EUA) e 2,2% (Canadá).

Na Suíça, de acordo com as estatísticas oficiais, 89 mil pessoas foram consideradas “desempregados de longa duração” entre outubro e dezembro de 2020, 22 mil a mais do no mesmo período em 2019. Um grupo que aumentou em relação ao total de desempregados.

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Trabalho em tempo parcial continua

Segundo Rafael Lalive, professor de Economia da Universidade de Lausanne, as estatísticas sugerem que o desemprego de longo prazo possa aumentar ainda mais nos próximos meses. Entretanto considera que o “desemprego poderia ser pior do que o esperado.”

Política públicas aplicadas por diversos governos europeus parecem ter sido bem-sucedidas no combate ao desemprego: o trabalho em tempo parcial, onde empresas recebem subsídios para manter o emprego dos funcionários, apesar destes não cumprirem mais as horas de trabalho previstas em contrato por falta de ocupação.

Mais de 1,3 milhões de pessoas na Suíça – e 32 milhões na UE, quase um quarto da população ativa – se beneficiaram dos programas emergenciaisLink externo em abril de 2020, quando muitos países introduziram medidas como fechamento dos comércios. Em novembro, quase 300 mil pessoas ainda estavam em trabalho parcial na Suíça. O jornal francês “Le Figaro” critica a políticaLink externo ao afirmar que “muitos empregos são sendo mantidos artificialmente e sair desse esquema será complicado.”

Nos Estados UnidosLink externo e no CanadáLink externo, onde os governos não aplicaram medidas semelhantes, o desemprego de longo prazo ultrapassa os índices da última recessão econômica em 2010. “Porém vários trabalhadores sabem que serão recontratados quando os empregadores começarem a contratar novamente”, analisa Rafael Lalive.

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Problema da exclusão

Muitos consideram seu desemprego apenas uma fase, que terminará quando a situação da economia melhorar. Porém outros enfrentam a perspectiva de não encontrar mais trabalho. O desemprego de longa duração é o último indicador que melhora com a recuperação, acrescenta Lalive.

Numerosos estudos mostram que desempregados de longa duração são menos propensas a retornar ao mercado de trabalho. A situação econômica é um fator de complicação. Empregos mal remunerados e com baixas exigências de educação são um caminho à reintegração no mercado de trabalho. Porém há uma barreira: “Inúmeros desses empregos foram cortados atualmente”, observa Benoît Gaillard, da Federação Suíça de SindicatosLink externo (USS).

Quando dura, o desemprego pode ter sérias consequências materiais e psicológicas para as pessoas atingidas. O risco de depender da assistência social aumenta e, consequentemente, a exclusão social

A federação teme que as desigualdades aumentem até para os que foram pouco afetados pela crise, mas também para os desempregados de longa duração. Muitos estão nas faixas de baixa renda. “E elas irão enfrentar esse estigma por muito tempo”, alerta Gaillard.

Adaptação: Alexander Thoele

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