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Covid-19 sufoca centros urbanos

rue avec magasins fermés
Os comerciantes de Biena já estão planejando atender seus clientes em 2021 - se tudo correr bem! Alain Meyer

Lojas vazias, persianas fechadas, espaços para alugar... Os centros das cidades podem se transformar em planícies sombrias ao fim da crise de saúde. Um fenômeno que não poupa a Suíça. 

Com a passagem devastadora da pandemia, os centros das cidades terão que se reinventar em um clima econômico sombrio. As compras online estão em alta desde março, atraindo cada vez mais cliques e diminuindo as vendas em lojas físicas, muitas das quais não sobreviverão em 2021.

Em período de liquidações e a pouco menos de um mês do Natal, a cidade de Lausanne acaba de lançar uma petiçãoLink externo. Assinada por cerca de trinta cidades de língua francesa, ela incentiva a população a consumir localmente e na cidade, em vez de online. “Diante da aceleração das compras pela Internet de grandes grupos, tivemos que reagir para manter a diversidade no centro da cidade de Lausanne no longo prazo. “Não deixar de comprar online, mas de preferência local ”, explica o prefeito da capital do cantão de Vaud, Grégoire Junod.

Diversidade de oferta a ser preservada

Desde março, Lausanne já gastou cerca de oito milhões de francos em tickets distribuídos à população para apoiar a rede de comércio local. Nas cidades, uma em cada três lojas muda de mãos todos os anos, em média. Um fenômeno que pode se acelerar no próximo ano.

Alimentação e gastronomia – de restaurantes a food-trucks – hoje ocupam a maior parte do centro da cidade. “Não estou dizendo que tem uma oferta muito grande nesse setor, mas ela se beneficiaria com uma maior diversificação”, explica o prefeito, que lembra que hoje é mais fácil vender alimentos do que roupas. “Depois da crise, meu medo é o advento de uma sociedade fragmentada no centro da cidade”.

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Centro da cidade de Lausanne em 10 de novembro. Keystone / Jean-christophe Bott

Situação similar ocorre em Genebra, onde as lojas não essenciais estão fechadas desde novembro. Aqui, novamente, novos vouchers acabam de ser emitidos para apoiar o comércio local com urgência. É preciso “dar liquidez” aos comerciantes para “manter a diversidade”, lembram as autoridades municipais. Vouchers de 20, 50 e 100 francos com 20% de desconto são adquiridos pela população por uma plataforma online.

Para o prefeito de Genebra, Sami Kanaan, a iniciativa visa responder à “erosão das compras nas lojas”. O uso do “Léman”, a moeda local, também é incentivado. Injetados na economia local, “os Lémans não vão sair”, comemora.

De olho na Suíça alemã

Na Suíça de língua alemã, onde a petição ainda não encontrou seu nicho devido a medidas de quarentena até agora menos drásticas do que as impostas desde o outono na Suíça francesa, apenas a cidade bilíngue de Biena aderiu ao movimento. Ou melhor, ao combate contra os gigantes digitais e as multinacionais do comércio online que representam uma ameaça existencial “sobre o emprego e a vitalidade dos centros”, segundo os apoiadores da petição. Porque “falências em cadeia” são de esperar, eles temem.

“Esse movimento certamente vai se espalhar para a Suíça de língua alemã”, argumenta o prefeito de Biena Erich Fehr. A petição já foi objeto de discussões em ambas regiões linguísticas. Para reavivar o centro da cidade de Biena e os seus 50.000 habitantes, o prefeito da cidade conta com as lojas e uma atrativa oferta sociocultural. A aposta é dar vontade de passear, parar em um café, fazer suas compras. “Depois da crise, precisaremos nos encontrar de verdade. É imprescindível que os negócios não morram e os centros não se esvaziem”.

Forte impacto

Como lobby, a União das Cidades Suíças (UVSLink externo) já havia alertado o governo federal neste verão sobre os riscos de queda de setores econômicos inteiros em áreas urbanas. Sua diretora, Renate Amstutz, também teme grandes danos. “Assim como na gastronomia, muitos comerciantes e varejistas já sacaram suas últimas reservas no início do ano. As consequências dessa segunda onda podem ser ainda mais graves para eles”, avisa. No entanto, ela observa com satisfação que “as cidades não abandonaram seus comerciantes” durante esses meses difíceis. E o fortalecimento das ajudas anunciado na semana passada pelo Conselho Federal (governo) para os casos extremos “também vai na direção certa”, aponta.

Renate Amstutz, no entanto, lamenta “uma falta de entendimento a nível federal e cantonal” sobre a questão das cidades na Suíça. “Uma melhor colaboração entre esses três níveis seria não apenas desejável, mas necessária”. E compartilha a mesma esperança do prefeito de Biena, de que “os centros das cidades promovam a retomada dos contatos sociais. As cidades são organismos vivos em fluxo constante. A crise trouxe à tona sua presença física e também virtual”. E a diretora da União das Cidades Suíças também cita o exemplo das lojas virtuais.

“Gerente municipal”

Na França, a petição “Natal sem Amazon”, dirigida contra os gigantes do e-shopping, também vem chamando atenção há vários dias. Aqui, novamente, as cidades estão reagindo. Elas temem a desertificação de suas zonas comerciais. Em Taverny, por exemplo, no Val d’Oise, a 20 km de Paris, as autoridades já há algum tempo designam um “gerente municipal” para lutar contra o enfraquecimento do comércio urbano. Em cidades pequenas e médias, as lojas básicas (padaria, açougue, queijarias) são frequentemente substituídas por bancos, seguradoras ou serviços não essenciais (tabacarias, tatuadores, etc.). Sem mencionar a onipresença das principais marcas internacionais, muitas vezes idênticas de uma cidade para outra, tornando os centros das cidades desesperadamente uniformes.

Em Taverny, uma cidade de 25.000 habitantes, Ranjee Mudhoo tem o título de “gerente de projeto e de negócios para a democracia local”. Esta tarefa, que lhe foi confiada pelo município, não se limita a encontrar compradores para os imóveis ou pontos comerciais vagos. “Eu sou a interface entre a cidade e os atores econômicos para garantir a homogeneidade do território”, afirma. Asseguro assim que a oferta comercial seja diversificada com equilíbrio entre os vários tipos de atividades: entre grandes marcas e varejistas, franquias e comerciantes independentes”.

A nível nacional, na França, um Link externoInstituto para a Cidade e ComércioLink externo também foi criado com objetivo de apoiar as mudanças nos centros das cidades em suas dimensões sociais e humanas. Apoiado na visão de “dar duas asas à cidade ”, o órgão promove a mistura de ideias e ações entre os atores envolvidos, como lojas, proprietários, arquitetos, investidores, moradores, políticos. “Não temos um observatório deste tipo na Suíça, mas organizamos frequentemente conferências sobre o futuro dos nossos centros urbanos”, admite Renate Amstutz, que terá muito trabalho no período pós-Covid.

Adaptação: Clarissa Levy

Adaptação: Clarissa Levy

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