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Editora brasileira na Suíça dá voz aos desabafos e sonhos de migrantes escritores

Mulher
"A literatura funciona como válvula de escape, um desabafo para uma voz que não quer se calar", afirma Jannini Rosa. swissinfo.ch

Entre as descobertas interessantes que faço, quando pesquiso sobre os aspectos da vida no exterior, me surpreendeu encontrar uma editora de língua portuguesa e que apoia autores brasileiros e lusófonos na Suíça. 

Trata-se da Helvetia EditoraLink externo, empresa de pequeno porte com sede em Vevey e que em três anos de existência já lançou 65 títulos, a maioria escrita em português, mas também em francês, alemão e inglês. O selo comercializa cerca de 3 mil exemplares anualmente. Dando continuidade ao conceito curiosidade, o outro quesito intrigante é o fato de a fundadora ter só 22 anos.

Artigo do blog “Suíça de portas abertas” da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

A fundadora, Jannini Rosa, é uma jovem da cidade fluminense de Cabo Frio, estado do Rio de Janeiro, que atua no ramo desde os 14 anos. Apaixonada por literatura, aos 16 anos já lançava seu primeiro livro, o Faces de Malala – na época sobre o regime do Talibã, que venceu edital de cultura e foi distribuído nas escolas do município.

Ao se mudar para a Suíça para se casar, não teve dúvida: quis continuar seu trabalho-paixão e encontrou um nicho. Entre seus autores, há escritores de primeira viagem que migraram e gostam de escrever, escritores de outros países lusófonos, como também aqueles que estão no Brasil e desejam promover seus livros no mercado europeu.

Migração e literatura

Uma das descobertas de Jannini é que está cheio de escritores brasileiros no continente. “Eu acho que a solidão e a bagagem de migrante ajudam a ter repertório para a escrita. É uma vivência muito forte, que não quer ser calada. Eu inclusive acredito que o ato de escrever dá a essas pessoas a possibilidade da existência”, explica a editora, que também escreve. “Todo mundo está buscando seu lugar ao sol. Já que o reestabelecimento à vida profissional aqui é muito mais difícil, essas pessoas trabalham até em diferentes áreas, como faxineiras, contadores, donas de casa, mas dão vazão aos seus sentimentos por meio da escrita. Dessa maneira, a literatura funciona como válvula de escape, um desabafo para uma voz que não quer se calar”.

O primeiro livro lançado pela Helvetia foi Madalenas em Prosa e Verso, em português e francês, uma antologia com vários autores brasileiros. A renda foi revertida para projetos sociais da ONG Madalenas, que trabalha com prevenção e informação sobre o tráfico de seres humanos, a violência doméstica e o abuso sexual.

Concursos de Poesia

Além de lançar e escrever, a editora promove eventos e concursos literários na Suíça e na Europa, além de ações específicas de poesia. Um dos concursos lançados pela Helvetia já está em sua terceira edição e faz parte do Festival de Poesia de Lisboa, um evento que acontece todo ano, no mês de setembro, aberto a todos da sociedade civil. A última edição foi realizada na sede do Instituto Camões, em Lisboa, Portugal.

Se existem pessoas interessadas no gênero poesia? Sim. Entre brasileiros, angolanos e portugueses, foram 95 inscritos para o concurso. A empresária acredita que o gosto pela poesia é uma aposta em um mundo com mais amor, talvez até mesmo uma necessidade. “As pessoas querem mais doçura, elas vivem longe da família e ficam mais sensíveis. Não é à toa que este concurso de poesia é um dos projetos com mais sucesso da Helvetia”, diz.

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Ilustração da portuguesa Catarina Sobral para o livro Jamais Deux Pareils

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Autores lusófonos adentram o mercado francês via Genebra

Este conteúdo foi publicado em Numa rua pequenina do bairro Eaux-Vives, em Genebra, há uma editora cujo nome diz tudo: La Joie de Lire. É “a alegria da leitura” que norteia as escolhas editoriais desta casa literária, criada por Francine Bouchet, em 1987, a pensar nos jovens leitores. Pelo catálogo da editora suíça já passaram 17 obras escritas ou ilustradas…

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De acordo com Jannini, ela recebe inscrição de pessoas de todas as profissões, o que combina com o perfil de migrantes: gente com estudo no Brasil, mas que precisa trabalhar com a possibilidade que encontra na Europa. “O mais bonito é ver o amor pela literatura. Alguns deles nunca tiveram coragem de mostrar seus textos, só publicam depois de vencerem o festival”. A editora promove também o Concurso Talentos Helvéticos-Brasileiros, que premia os melhores livros de língua portuguesa escritos no Brasil.

Para tornar a Helvétia mais conhecida, Jannini participa de salões de livro pela Europa. Vai todo ano ao Salão do Livro de GenebraLink externo e já marcou presença no de Praga. O negócio de livros de língua portuguesa, assim como no Brasil, caminha a passos lentos também na Suíça. “É um trabalho de formiguinha, que envolve dedicação e muitas ideias para promoção da editora na Europa”, explica Jannini.

Para o próximo ano, a empresária pretende investir mais na comercialização de livros em língua francesa, no formato vira-vira (em português/francês) e em ações específicas direcionadas à comunidade lusófona na Suíça, com o objetivo de incentivar o hábito da leitura e divulgar os autores e suas obras. Dentre estas ações, ela cita o clube de leitura para crianças, exposição de literatura e arte, cafés literários e concursos para publicação de textos inéditos de escritores e de pessoas sem experiência.

Como escritora, Jannini tem muitas histórias a contar. Como editora, mil ideias na cabeça. E como migrante, sensibilidade para entender as necessidades de quem passou por mudanças tão profundas e precisa desabafar. A literatura entra nesse perfil como ferramenta.

Obras de autores lusófonos que residem na Europa publicadas até hoje pela Helvetia:

– Densidades Cíclicas, Felipe Cattapan (Suíça)

– Vida sem porta e Renascer em versos, Maria Beatriz Gonçalves (Alemanha)

– Menina Coco, Terezinha Malaquias (Alemanha)

– As peripécias de Plinio Malaquias, Marcelo Madeira (Suíça)

– Voo 606, Dulce Rodrigues (Portugal)

– Sous les tapis, Clau Stucki (Suíça)

– Lucia Amélia, confessions d’une guerrière, Jannini Rosa (Suíça)

– A princesa de Serte e o Reino Encantado, Maria Tereza Morais (Suíça)

– Via-Láctea, aprendendo em poesia/La Voie-Lactée, apprendre avec la poésie

– Carla De Sà Morais (Suíça)

Via Láctea para crianças e jovens

A coleção Aprendendo em poesia, publicada em português e francês pela Helvetia Edições, foi criada pela autora Carla de Sá Morais. A proposta é ensinar complexos conteúdos escolares por meio da poesia. O primeiro livro da série se chama Via Láctea/ La Voie-Lactée e traz 20 poemas ilustrados, citando todos os fenômenos astronômicos e astros que compõem o espaço. Com uma escrita simples e cativante, o texto permite fácil memorização do leitor infanto-juvenil e ao mesmo tempo prazer de descobrir curiosidades sobre a astronomia.

Livros disponíveis no siteLink externo.

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