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Centro cultural de arte brasileira completa dez anos

O centro cultura Brasilea está localizado às margens do rio Reno na Basileia. picturebale.ch

O centro cultural instalado às margens do rio Reno foi criado por um mecenas que fez fortuna no Brasil para eternizar as obras de um grande amigo e trazer a cultura brasileira à Suíça. Dez anos depois, a Brasilea faz um balanço positivo: mais de 42 exposições, algumas das quais de grande impacto nacional.

Grandes navios porta-contêiner ou carregados de carvão, com seu típico baixo calado, cruzam-se a cada minuto no Reno e provocam ondas que vão bater nas margens do rio. A paisagem nesse ponto da Basileia, cidade ao noroeste da Suíça e fronteiriça com a França e a Alemanha não seria diferente de outras regiões portuárias europeias se não fosse um estranho prédio coberto de placas acrílicas verdes e equipado com uma gigantesca grua de metal, desativada há muitos anos.

A enorme bandeira brasileira montada no alto de uma das laterais do edifício revela a verdadeira função do edifício: Brasilea, um centro cultural voltado exclusivamente para o intercâmbio artístico entre o Brasil e a Suíça e que acaba de completar dez anos de funcionamento.

A localização incomum não é obra do acaso. Tudo começou em 1939 quando Walter Wüthrich, um jovem suíço de 21 anos, decidiu imigrar para o Brasil. Seis décadas depois, ele retornou à sua cidade natal com uma fortuna considerável amealhada após bem-sucedidos empreendimentos na área de vendas de máquinas para a indústria têxtil e investimentos na bolsa de valores.

Foi quando encontrou uma série de amigos e personalidades na Basileia como o fotógrafo Onório Mansutti ou Raffaello Tondolo, na época diretor de um banco. A eles o empresário manifestou o desejo de criar um centro cultural na Basileia para abrigar as obras do imigrante austríaco Franz Widmar (1915-1995), de quem era muito amigo nos tempos do Brasil. No seu leito de morte, Wüthrich prometeu encontrar um local para expor as mais de 500 pinturas, das quais uma boa parte havia encomendado ou comprado. Foi então que surgiu a ideia de comprar um antigo armazém às margens do rio Reno.

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Este conteúdo foi publicado em Evandro Teixeira nasceu na Bahia e começou sua carreira de fotógrafo em 1958 no Diário da Noite no Rio de Janeiro. Em 1963, o Jornal do Brasil o contratou. Desde então ele cobre temas variados, tendo coberto o golpe militar no Brasil em 1964, o golpe no Chile, Copas do Mundo, Jogos Olímpicos, viagens presidenciais,…

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Cultura independente

Em 2003, os conselheiros da recém-criada Fundação Brasilea apresentaram à população da cidade o mais novo centro cultural dessa metrópole localizada na fronteira de três países. No total, mais de três milhões de francos suíços foram investidos na compra do prédio e sua modernização. Porém, antes de falecer um ano antes, o mecenas suíço deixou orientações claras para o funcionamento do espaço. “Como hábil empresário, Walter nos instruiu a procurar de alguma forma a fazer dinheiro”, lembra-se Daniel Faust, diretor desde a sua fundação. “Geramos a renda para a manutenção do centro através de atividades diversas à cultura, dentre elas alugar espaço para a realização de eventos, festas ou congressos.”

Desde sua inauguração, a Brasileia organizou mais de 200 eventos. “Hoje as pessoas podem até alugar essa sala para festas de casamento”, mostra o diretor e aponta para as grandes janelas do grande salão no primeiro andar, de onde se tem uma deslumbrante vista para o rio Reno. Faust, arquiteto formado e também responsável pelo projeto de reforma do edifício, explica que a renda gerada é suficiente para pagar todos os custos correntes do espaço. “O interessante é que no início do projeto todos diziam que era uma loucura e que não iria durar muito tempo.”

Oscar Niemeyer

Porém os eventos são apenas um adendo. A principal atividade da Brasileia é promover a cultura brasileira nessa cidade cosmopolita do país. No total, 42 exposições já foram organizadas, das quais algumas tiveram um forte impacto. “Uma das mais comentadas foi a exposição sobre o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, no momento em que completou cem anos de idade. Chegamos até a entrevistá-lo no seu escritório em Copacabana”, lembra-se Faust.

Como outras instituições culturais de pequeno porte, a Brasileira luta para se manter à tona na cena cultural helvética. “Como não temos um orçamento grande, estamos sempre em busca de possibilidades para realizar exposições de qualidade”, explica Faust. Uma das estratégias é encontrar parcerias que permitam trazer artistas brasileiros para passar temporadas de três a quatro semanas na Basileia. “Nós os abrigamos em um confortável quarto aqui no próprio centro e montamos para eles um ateliê, onde eles podem criar”.

O último artista convidado foi José Augusto Amaro Capela, mais conhecido como Zezão, um grafiteiro que produz obras de arte em galerias pluviais e outros espaços urbanos de São Paulo. “Quando esteve conosco ele criou mais de vinte obras”, ressalta com orgulho o diretor, apontando para uma estrutura de madeira pendurada na parede no saguão de entrada, onde no centro se vê o grafite de uma figura simétrica em várias cores, a marca registrada do artista brasileiro.

A Fundação Brasilea foi criada em 22 de setembro de 2003 na Basileia.

A ideia do fundador Walter Wüthrich era de criar um centro cultural para promover o intercâmbio artístico entre a Suíça e o Brasil.

A sua base foram as 500 pinturas do pintor e imigrante austríaco Franz Josef Widmar, por quem Wüthrich nutria uma grande admiração e amizade nos anos em que viveu no Brasil.

No total, mais de três milhões de francos suíços foram investidos na compra e reforma de um prédio portuário na Basileia.

Brasilea vive através de doações e também através de eventos diversos organizados nas suas instalações.

Desde a criação, o centro já organizou 42 exposições e abrigou diversos artistas em suas passagens pela Suíça.

Futuro

Para comemorar os dez anos de atividade, a Brasilea montou uma exposição intitulada “Memory”. Nela, o centro apresenta diversas obras artísticas já expostas em outras ocasiões e posteriormente adquiridas para o acervo do centro. Dentre elas se destacam xilogravuras de Jorge

 Borges, fotografias de Maria Dundakova ou de Evandro Teixeira. Além das obras, os visitantes também podem vislumbrar todas as 42 exposições já realizadas através de um jogo de memória com quarente e dois cartões ilustrados com as diferentes obras artísticas.

Questionado sobre as perspectivas de futuro para a Brasileia, o jovem arquiteto não hesita. “O futuro será muito positivo, especialmente com a Copa do Mundo e as Olímpiadas. As pessoas sabem que o Brasil não se resume só à Copacabana, caipirinha e futebol”, afirma Faust. Com esse fim, o centro pretende trabalhar de forma mais intensiva com outras instituições que se ocupam do intercâmbio cultural com o Brasil. “Nós continuaremos a viajar pelo país de olhos abertos, como o fizemos nos últimos dez anos”, conclui.

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