Perspectivas suíças em 10 idiomas

Artista plástica brasileira faz exposição solo em Zurique

O Mágico Nú, obra de Laura Lima, no Museu Migros de Arte Contemporânea swissinfo.ch

A mineira Laura Lima, que vem desenvolvendo uma carreira sólida e com significativo reconhecimento internacional, expõe no Museu Migros, em Zurique, pela primeira vez.

A arte de Laura Lima, 42 anos, tem rodado o mundo nos últimos anos. A artista mineira, que reside no Rio de Janeiro, já participou da Arte Basel, da Arte Basel Miami, da Bienal de Lyon, expôs em Estocolmo, Sidney, na Frieze Art Fair, em Londres. A lista é longa e agora inclui o Migros Museu de Arte Contemporânea em Zurique, que promove desde o dia 23 de novembro a primeira exposição solo da artista em terras helvéticas.

A mostra, que vai até o dia 02 de fevereiro de 2014, conta com duas obras de Laura: O Mágico Nú” e “Bar Restaurante”. Os dois trabalhos representam bem o percurso artístico de Laura, que vem desenvolvendo uma trajetória sólida em busca de novas experiências de linguagens e signos. São resultado de seu fascínio pela complexidade das relações sociais e comportamento humano.

Definir a arte proposta pela mineira não é uma tarefa simples. A própria artista diz que ainda não encontrou a palavra certa para “classificar” seu trabalho.

FBM studio

swissinfo.ch: Quando você despertou para a expressão por meio da arte?

Laura Lima: Eu decidi estudar filosofia. Não sou formada em belas artes. Quando fui fazer filosofia, fui despertada pela questão da linguagem, como as coisas se constroem, os signos. Você pode formar uma frase, uma ideia ou pode formar uma civilização. Pensar o sentido. E foi o encontro com a filosofia que me fez despertar esse interesse pela arte.

swissinfo.ch: Você usa instalações, esculturas, desenhos, performances humanas, muitas vezes, em uma só criação. Como define sua arte?

L.L.: Eu ainda não achei a palavra certa para definir o que faço. E nem sei se encontrarei. Estamos numa época em que já se admite o cruzamento de fronteiras de linguagem. Tem artistas que se debruçam sobre o desenho, por exemplo, de forma legitima. No meu caso, faço trabalhos que flertam com as diferentes possibilidades de construção de obras de arte.

No caso do trabalho do Migros, é importante perceber o papel da pessoa, do corpo na obra. Na história da arte, a performance sempre focou na importância corpo, era a pessoa que tinha possibilidade de crescer,  de ter experiências em cena. No meu caso, o corpo é mais um elemento dentro da obra.  Não existe uma hierarquia de valor. A imagem é o todo. A pessoa que participa não tem lugar privilegiado.

Você pode entrar no ‘Bar Restaurante’, e ver o garçom ali realizando seu papel. Ele não faz nada além de uma função já pré-estabelecida. Tanto o garçom e o mágico estão sempre na exposição.

swissinfo.ch

swissinfo.ch: Por que você nunca atuou em sua própria instalação?

L.L.: Estas questões foram muito pensadas. Não era sobre mim, não era sobre o artista. Para mim, era mais uma questão de dar instrução a outras pessoas, que participam dessas obras e sem hierarquia. Foi uma escolha conceitual, de linguagem.

swissinfo.ch: Você poderia resumir como funciona seu processo de criação? Começa com uma ideia, uma imagem, um movimento. Há um esquema ou é algo caótico?

L.L.: Eu não diria caótico porque existe uma linha de sentido que aponta para algumas possibilidades. Depois que a ideia aparece de um ponto de vista mais prático, entendo melhor como é, aí começo a construir. Nunca ensaio. Eu vejo a obra completa muitas vezes pela primeira vez junto com o expectador. Nunca me interessei, como na dança ou teatro, por exemplo, em ter um processo de controle anterior.  Minha obra é um conjunto de coisas que culminam naquela imagem.

swissinfo.ch: Quais são seus próximos projetos e exposições?

L.L.: O catálogo sobre o meu trabalho que está sendo lançado agora em dezembro é resultado de uma parceria do Migros Museu com a Bonniers Konsthall em Estocolmo. Como parte desta parceria, estamos programando uma exposição em setembro de 2014 em Estocolmo que provavelmente vai ter ‘O  Mágico Nú’ e o ‘Bar Restaurante’ e também outras obras minhas.  No Brasil será lançado pela Cobogó Editora um livro bastante grande sobre minha obra também.

Nascida em 1971, em Governador Valadares, Minas Gerais, Laura Lima vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage de 1991 a 1994.

Há 20 anos realiza exposições no Brasil e no exterior. Em 1994, inicia as primeiras anotações de “Homem=carne/Mulher=carne”, que seria sua obra mais referencial por muitos anos, desconcertando a noção de obra e performance conhecida até então, e criando uma estrutura conceitual de exibição sem precedentes.

A concepção e escolha das duas obras apresentadas em Zurique (O Mágico Nú” e “Bar Restaurant”) foram feitas ao longo de 2012, acompanhadas de um diálogo constante com a curadoria do Museu.

Além da carreira de artista, Laura é uma das sócias e fundadoras de A Gentil Carioca, uma iniciativa única no Brasil, que acaba de completar 10 anos de existência. Trata-se de uma galeria de arte contemporânea que se diferencia das outras por suas características particulares, uma delas é a de ter sido idealizada e dirigida por artistas, entre eles, Márcio Botner e Ernesto Neto.

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR