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Suíça dança com Gilberto Gil

Gilberto Gil
A neta de Gil, Flor Gil Demasi, cantou “Goodbye, my girl” e fez backing vocal swissinfo.ch

swissinfo.ch encontrou o cantor brasileiro após apresentação musical em Verbier que contou com a participação de parte da família.

Gilberto Gil não somente deu um show, como foi capaz de levantar parte da plateia que assistia sentada à apresentação do músico em Verbier, na Suíça. Ao contrário do que acontece no Brasil, quem vai à um show por aqui tende a acompanhar tudo não de pé, mas instalado numa cadeira numerada, como se estivesse no cinema, o que significa uma postura mais passiva e de contemplação. Com Gil, no entanto, foi diferente. Ao longo do show, pessoas foram se levantando e se dirigindo para perto do palco para cantar com a banda do músico brasileiro. E o grupo que se formou lá só foi aumentando. No final, parte da plateia que lotou a “Salle des Combins”, com capacidade para 1.700 pessoas, dançava empolgada ao som de um repertório recheado de músicas novas e antigos clássicos.


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No Dia Nacional da Suíça, Gilberto Gil cantou em português, falou com a plateia em francês, agradeceu nas duas línguas e ainda gritou “Vive la Suisse”. Com tanta disposição e energia, ninguém diria que Gilberto Gil está com 77 anos de idade.    

Após a apresentação em Verbier, o cantor falou para swissinfo.ch sobre o show na Suíça, que empolgou o público:

“Faz parte da proposta natural do show ao estabelecer um começo muito suave, com canções ainda não conhecidas praticamente, que são quase todas do disco recente Ok, Ok, Ok, e depois uma segunda parte muito mais rítmica, muito mais dançante, com canções como “Toda menina baiana”, “Andar com fé”, coisas assim, que o público já conhece, já fazem parte propriamente de uma característica não só de música brasileira esfuziante, mas também do meu próprio modo de construir meu trabalho, minha carreira. É basicamente assim em todos os lugares”, disse.

O cantor não se esqueceu dos brasileiros, que sempre marcam presença em shows de artistas que passam pela Suíça, levando aplausos e alegria:

“Também vem o público brasileiro que está sedento, saudoso, muito cioso dessa necessidade de demonstrar para os públicos locais a beleza, a força, o gosto pela música do Brasil. Então, os shows têm sido sempre desse jeito. É a própria proposta de construção do show que leva a esse tipo de reação”, acrescentou.

Perguntado por swissinfo.ch se gostaria de deixar uma mensagem aos brasileiros que enfrentam, nesse momento, um momento difícil no Brasil, ele disse que “é a mensagem silenciosa, de todo instante”.

“Um país com 200 milhões de habitantes, um território enorme, um bem querer no mundo inteiro em relação ao país. Uma população muito eclética, diversa. A mensagem é silenciosa. Você passar pelas ruas de Salvador, do Rio de Janeiro, cruzando com os transeuntes anônimos, que você nem conhece, mas que você sabe que são seus parceiros. Parceria de vida com todo mundo. A mensagem é essa: de vida, vida, vida e vida”.

“A emoção muito particular” de cantar com parte da família

Aos 77 anos, o cantor e compositor Gilberto Gil não para: nessa turnê pela Europa, ele fez shows com a sua banda em duas cidades da Suíça: Saint Moritz e Verbier. No giro por mais de dez países do continente, que encerra dia 13 de agosto, em Oslo, na Noruega, parte da família se apresenta com Gil (os filhos Nara, José e Bem), e a convidada especial é a neta Flor, de apenas dez anos, que vem chamando a atenção ao cantar uma música com o avô.


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Questionado por swissinfo.ch sobre como era estar no palco com integrantes da família, Gil disse que “é uma coisa exuberante, porque aí tem uma outra emoção muito particular que é de pertencer a eles e eles pertencerem a mim, à família”. 

Já a neta Flor Gil Demasi retribuiu o elogio, dizendo que cantar com os tios e o avô era “muito legal” e que se sentia muito feliz. Fez questão de destacar, no entanto, que aquela representação dos parentes “não era nem um terço da família”:  

– Daqui a um ano, no próximo verão, vai ter uma outra turnê que vai ser a família toda – disse a menina, talvez já antecipando alguma novidade vindo por aí.  

Flor cantou “Goodbye, my girl”, “uma tradução do meu avô de Norte da Saudade”, e fez backing vocal. Quando esteve com a banda de Gil em St. Moritz, um dos locais de apresentação na Suíça do músico brasileiro, a menina postou uma foto da cidade em sua rede social, que recebeu mais de 900 curtidas. “”Hj o show e (é) aqui”, escreveu ela.

João Gilberto é lembrado por Gilberto Gil

Antes de cantar “Se eu quiser falar com Deus”, música que trata da “naturalidade da vida e da morte”, como ele explicou, Gil lembrou do músico João Gilberto, considerado o “pai da bossa nova”, morto no mês passado. O cantor disse que João Gilberto “modificou completamente a cara da música do Brasil e mundial também”, dando a maior contribuição à criação da bossa nova, influenciando a geração dele, de Caetano Veloso, Chico Buarque e Ivan Lins. O músico também foi para Gil uma “influência espiritual”.

“Sua maneira de viver e de considerar a vida são coisas que me dão muita inspiração”, disse.

Durante o show em Verbier, Gil também falou de outras referências da cultura brasileira, como os grupos afro Ilê Aiyê e Olodum. Fez pausas frequentes para conversar, em francês, com o público, explicando as histórias por trás de algumas músicas, como “Ok, Ok, Ok”, que dá nome à turnê, e “Quatro pedacinhos”, composta em homenagem à cardiologista Roberta Saretta, que cuidou do cantor quando esteve internado por conta de uma insuficiência renal. Gil causou graça ao falar sobre a música “Sereno”, feita em homenagem a um dos netos.  Quando foi explicar que a canção era dedicada ao menino, filho de Bem Gil, um dos músicos que dividia o palco com o cantor, acabou se esquecendo do nome da criança (Sereno), tocando um trecho da música para se lembrar dele.

Ao fim do show em Verbier, realizado no dia 1º de agosto, Dia Nacional da Suíça, Gilberto Gil gritou “Vive la Suisse”, deixando depois o palco sob aplausos calorosos do público e gritos de “mais um, mais um”. E quem ainda estava sentado se levantou para se despedir do músico em pé. Teve gente que saiu de lá emocionada:


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“A música sempre me toca de alguma maneira. E foi emocionante ver o público se deixar contagiar pelo Gil e sua banda, quando parte dos espectadores deixaram seus lugares, se aproximando do palco para dançar até o show acabar. Achei a apresentação muito interessante, com músicas que provocam uma reflexão, como Ok, OK, Ok, que dá nome ao novo álbum dele. Gostei muito também da homenagem ao João Gilberto, um gênio da bossa nova. Foi maravilhoso, uma energia incrível”, comentou a brasileira Luciana Confort Chedraoui, que saiu de Lausanne para ver a apresentação de Gil em Verbier.

Para Kyrian Mello, o show foi como uma “volta para casa, um gostinho da nossa identidade”. “E ele passou isso para o público não somente através da música, mas também com suas humoradas intervenções entre uma canção e outra. A melhor surpresa foi o dueto com sua netinha. Foi muito emocionante”, disse Kyrian. 

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