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O artista de “Alien” e o filme que fracassou

H.R. Giger
H.R. Giger no seu ateliê em Zurique com as pinturas que produziu para o projeto do filme "Dune" (em meados dos anos 1970). Copyright © ©sony Pictures/everett Collection / Everett Collection

A versão nunca realizada de Alejandro Jodorowsky para o “Duna” continua a ocupar a mente das pessoas até hoje: na semana passada, seu storyboard foi vendido por uma fortuna. Dentre as pessoas convidadas pelo cineasta chileno para realizar o projeto, estava H.R.Giger, o famoso criador do monstro da ficção científica "Alien".

Na semana passada, um grupo de investidores anônimos que se autodenomina Spice DAO comprou em leilão um storyboard da versão nunca lançada, dos anos 1970, do filme “Duna” do realizador chileno Alejandro Jodorowsky. Estavam dispostos a pagar 2,2 milhões de libras esterlinas por ela. No entanto, presumiram erroneamente que a compra do esboço sequencial lhes daria também os direitos autorais e quiseram vendê-lo em partes como NFTs ou vender as ideias a um serviço de streaming – e queimá-lo depois.

O filme nunca lançado de Jodorowsky é uma lenda cinematográfica. Com “El Topo”, o diretor produziu um faroeste surrealista que se tornou objeto de culto, tal como “Rocky Horror Picture Show” ou “Pink Flamingos”, atraindo um público fiel de espectadores para exibições à meia-noite na década de 1970.  

Um fã, entre outros, foi John Lennon, que ajudou a financiar o filme “The Sacred Mountain”, uma orgia blasfema de imagens em que, entre outras coisas, lagartos vestidos como reis astecas explodem e pássaros esvoaçam feridos de bala.

Em meados da década de 1970, Jodorowsky partiu para fazer um filme de “Duna”, de Frank Herbert – seria a primeira adaptação cinematográfica do material; David Lynch só se propôs a fazê-lo mais tarde. O documentário “Duna de Jodorowsky” descreve como Jodorowsky vasculhou o mundo à procura de “guerreiros espirituais” e “gênios” para seu filme.

Ele bateu à porta do Pink Floyd, cortejou Mick Jagger e Salvador Dali – estava disposto a pagar-lhe 100 mil dólares por minuto (e colocar em cena uma girafa em chamas).

Dali lhe mostrara alguns desenhos de Giger. Jodorowsky ficou encantado: disse ao artista suíço que precisava incondicionalmente de sua “arte doentia” para ilustrar o planeta dos Harkonnen, os vilões da trama. Giger deveria tornar-se uma espécie de arquiteto do mal, e seus desenhos tornar-se-iam mais tarde modelos em 3-D, cenários. Jodorowsky deu total liberdade criativa a Giger, que criou alguns desenhos com aerógrafo, que passaram a fazer parte da apresentação do projeto, e esboços do Castelo dos Harkonnen:

“A Cabeça de Harkonnen é uma construção gigantesca concebida para proteger o castelo de ataques por terra e ar. A parte frontal da cabeça pode ser mecanicamente desnuda para revelar um crânio fortificado que vomita morte e destruição”.

Mas o filme nunca se materializou – os produtores de Hollywood não conseguiram lidar com um megalomaníaco como Jodorowsky, que já nas apresentações os assustou: o filme poderia sob certas circunstâncias durar 12 horas.

O storyboard, que foi vendido por 2,5 milhões, influenciou vários filmes. Uma dos ganhos do fracasso foi colocar H.R. Giger no cinema – juntamente com Dan O’Bannon, que estava no projeto “Duna” de Jodorowsky, ele então alcançaria a fama mundial com “Alien”.

Adaptação: Karleno Bocarro

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