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‘Neutralidade engajada’ guia patrocínio das artes no exterior

Swiss House em Johannesburgo
A Swiss House, localizada na zona de mineração de Johanesburgo. Construída em 1968, ela abrigava o Swiss Council, o banco UBS e a companhia aérea Swissair. O prédio faz parte da pesquisa da artista suíça Denise Bertschi na residência da Pro Helvetia na África do Sul (2017), estudando a relação entre empresas suíças e a mineração de ouro na região. Denise Bertschi

Os "tentáculos" culturais da Suíça se espalham por praticamente todos os cantos do planeta, e em praticamente todos os projetos culturais em que o país está representado, um logotipo discreto está sempre visível nos créditos: Pro Helvetia, a Fundação Suíça para a Cultura. Seu sucesso em todo o mundo é em parte resultado de uma estratégia muito particular de intercâmbio cultural, na qual todos os seus escritórios estrangeiros são administrados por profissionais locais.

No ano que vem, a Pro Helvetia completa 80 anos desde a sua fundação em 1939 – criada como um grupo de trabalho para cuidar da “defesa espiritual” do país contra a Alemanha nazista e a Itália fascista. Seu mandato oficial, ancorado na lei federal, completa agora 53 anos – o que certamente não é um número redondo para um jubileu, mas a Pro Helvetia iniciou 2018 com alguns bons motivos para comemorar.

Desde novembro passado, a fundação tem um novo diretor – o dramaturgo e ex-chefe de assuntos culturais do cantão da cidade de Basileia, Philippe Bischof – e três dos escritórios estrangeiros da Fundação celebram seus aniversários este ano: o escritório do Cairo (Egito) faz 30 anos, o escritório de Joanesburgo (África do Sul) faz 20, e o de Nova Deli (Índia), 10.

Existem também mais dois escritórios permanentes, em Xangai, China (inaugurado em 2010), e em Moscou, na Rússia (inaugurado em 2017). Há ainda uma nova filial provisória em São Paulo, cobrindo a América Latina em caráter experimental desde outubro de 2017.

Nas muitas entrevistas realizadas por Bischof desde que assumiu o novo cargo, inclusive para swissinfo.ch, ele diz que as mudanças que pretende implementar são mais táticas do que estratégicas.

Ele menciona a necessidade de “ter mais foco”, bem como “projetos sustentáveis”. Bischof tampouco tem medo de trabalhar mais perto do mercado da arte, desde que não afete a independência da Pro Helvetia.

No mundo cultural, esses gestos efetivamente garantem uma certa estabilidade dentro de uma estratégia que tem sido continuamente desenvolvida desde o estabelecimento do primeiro escritório estrangeiro em 1988.

Retrato de Philippe Bischof
Philippe Bischof não acredita em fronteiras nacionais quando se trata de arte e cultura. Keystone

Colaboradores locais

Grande parte dos apoios da Pro Helvetia é fornecida no exterior, e Philippe Bischof cumpre o perfil necessário para comandar a fundação. Cosmopolita assumido, Bischof não acredita em fronteiras nacionais quando se trata de cultura.

“Para mim, a arte sempre foi uma linguagem global”, disse ele à swissinfo.ch. “O que fazemos na Pro Helvetia não é sobre a arte suíça, mas arte feita por suíços, é isso que financiamos aqui – e essa é uma grande diferença”.

Pode-se mencionar outras grandes diferenças na forma como a Pro Helvetia opera no estrangeiro em comparação com instituições similares, como o British Council (Reino Unido), a Alliance Française (França) ou o Instituto Goethe (Alemanha). A Pro Helvetia é uma instituição autônoma e não vinculada a qualquer tipo de política governamental.

Os escritórios estrangeiros são bem frugais – apenas cinco ou seis funcionários em cada um – e administrados por cidadãos locais: não há um único funcionário suíço trabalhando em nenhum deles, em grande contraste com seus homólogos britânicos, alemães ou franceses.

“Essa é uma das nossas coisas positivas, trabalhar com colaboradores locais, pois eles conhecem as situações, eles conhecem os limites”, diz Bischof. Perguntado sobre como é trabalhar em países com controles governamentais muito rígidos, como a Rússia ou a China, Bischof simplesmente diz que “Eles sabem o que é possível e o que não é”. Ele nega que esta seja uma forma de autocensura. “Nós fazemos o que acreditamos dentro de certos limites”, diz ele.

‘Neutralidade engajada’

O estabelecimento de escritórios estrangeiros fora das principais capitais culturais ocidentais (apesar de sua presença em Paris, Roma e Nova York) precederam o ‘hype’ dos chamados países BRICS emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Quando o primeiro escritório foi aberto no Cairo em 1988, as regiões fora das áreas de influência norte-americana ou soviética eram simplesmente designadas como pertencentes ao “Terceiro Mundo”. E, embora a Pro Helvetia se orgulhe de ser autônoma em relação a qualquer tipo de agenda política oficial, sua estratégia mundial seguiu os esforços diplomáticos suíços para se envolver mais profundamente com culturas mais diversas e longínquas.

É certamente um trabalho constante de tradução – outro termo favorito usado por Bischof. Não apenas linguística, mas também entre diferentes contextos e situações individuais: uma espécie de “neutralidade engajada”.

Em “Crossroads”, uma conferência recente na Universidade de Basileia organizada pela Pro Helvetia e pela Agência Suíça de Desenvolvimento e Cooperação, muitos dos artistas e agentes estrangeiros de cultura louvaram a liberdade de que a Pro Helvetia goza e estende aos seus parceiros.

Os participantes da conferência disseram que, apesar de alguns contratempos, iniciativas fracassadas e falhas de entendimento mútuo, a Pro Helvetia é considerada em melhor posição para trabalhar para além das questões e conflitos gerados pelas práticas pós-coloniais de seus pares em outras países ocidentais.


– 87,6% do orçamento da Pro Helvetia em 2016 de CHF 36,6 milhões (US$ 39 milhões) foram utilizados em projetos culturais. A parcela dos custos administrativos, de 12,4%, está significativamente abaixo do limite imposto pelo governo, de 15%.

– Em 2016, a Pro Helvetia aprovou 52% das 4.600 propostas recebidas, principalmente nos campos de artes visuais, literatura, teatro, dança, música e projetos interdisciplinares envolvendo novos meios de comunicação e tecnologia.

– Em 2016, a Pro Helvetia apoiou 1.450 projetos culturais na Suíça, espalhados por mais de 200 municípios nas quatro regiões linguísticas.

– Em 2016, a Pro Helvetia apoiou 3.900 projetos no exterior.

– Para 2018, a Pro Helvetia conta com um orçamento de CHF 40,3 milhões.

– A fundação emprega 94 profissionais, na Suíça e no exterior.

– Além dos escritórios estrangeiros, a Pro Helvetia também dirige o Centre Culturel Suisse em Paris e financia os programas culturais do Instituto Suíço em Roma e em Nova York. A Pro Helvetia também atua no escritório da swissnexLink externo em San Francisco.

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