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Dúvidas sobre suicídio marcam despedida a vereador venezuelano

Centenas de pessoas acompanham o cortejo fúnebre do vereador da oposição venezuelana Fernando Albán em 10 de outubro de 2018 em Caracas afp_tickers

Centenas de pessoas se despediram nesta quarta-feira (10) do vereador venezuelano Fernando Albán, convencidas de que ele não se matou, como afirma o governo, mas teria sido assassinado enquanto era interrogado sobre o suposto atentado contra o presidente Nicolás Maduro.

O corpo de Albán, de 52 anos, foi sepultado em um cemitério no leste de Caracas, enquanto se multiplicam as manifestações de preocupação de vários países que pedem uma investigação independente para esclarecer o caso.

Seguindo um carro fúnebre, uma multidão caminhou vários quilômetros da Universidade Central da Venezuela – onde foi velado o corpo do representante – até o cemitério.

Capturado na sexta-feira passada, ao retornar de Nova York, e detido nas dependências do serviço de Inteligência, Albán fazia parte de um grupo de 30 presos apontados por participar em um ataque em 4 de agosto com drones carregados com explosivos contra Maduro.

Nesta quarta-feira, o procurador-geral Tarek William Saab descartou que o político tenha sido assassinado e atirado por seus captores da sede do serviço de Inteligência (Sebin) em Caracas.

“Morreu em consequência da pancada que sofreu ao cair de uma altura (…), não havia evidências de maus-tratos físicos prévios a esta queda”, disse à imprensa Saab, vinculado à situação, ao ler trechos do resultado da necropsia do vereador.

Saab respondia a versões de opositores, como o deputado Julio Borges, exilado na Colômbia e acusado do ataque contra Maduro, que na terça-feira afirmou que o corpo de Albán “foi lançado sem vida do edifício do Sebin”.

– Versão suavizada –

O procurador suavizou sua versão inicial, na qual informou que o dirigente e advogado do partido Primeiro Justiça teria se atirado pela janela de um banheiro.

“Levantou-se abruptamente da mesa dizendo que queria ir ao banheiro, ele aproveita essa circunstância (…) e corre para uma janela panorâmica que estava no corredor do 10º andar da sede do Sebin (…) e se atira no vazio”, contou Saab nesta quarta-feira.

Saab indicou que são investigadas uma grande quantidade de mensagens e vídeos encontrados no celular, o e-mail e as redes sociais do dirigente.

“Muitos desses vídeos poderiam explicar a conduta lamentável do cidadão Albán de atentar contra sua própria vida”, disse.

– Comoção internacional –

O cardeal Jorge Urosa, que celebrou uma missa durante o velório, disse a jornalistas ter recebido um telefonema do chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, “no qual sustentou a tese oficial” do suicídio e lhe assegurava que “estão fazendo as investigações”.

“Uma investigação independente deve ser feita (…), é preciso pressionar para que se possa conseguir isto”, destacou o sacerdote, crítico do governo. Maduro não se pronunciou sobre o caso.

No trajeto até o cemitério, moradores desceram dos prédios com bandeiras e cartazes para dar os pêsames aos familiares de Albán.

“Assassinos!”, “Exigimos justiça!”, “Assassinato de Albán é responsabilidade do governo!”, diziam alguns cartazes.

Enquanto isso, vários governos seguiam somando-se ao apelo das Nações Unidas e da União Europeia para que seja feita uma investigação “exaustiva” e “independente” sobre a morte do vereador opositor.

“Os Estados Unidos condenam o envolvimento do regime de Maduro na morte do vereador”, destacou a Casa Branca em um comunicado, no qual advertiu que seguirão “pressionando o regime até que restabeleça a democracia”.

Assistiram ao velório o núncio apostólico, Aldo Giordano, e o embaixador da França, Romain Nadal.

Onze dos 14 países do Grupo de Lima, além de Equador e Panamá, pediram também uma investigação imparcial do fato.

O Parlamento venezuelano, de maioria opositora, solicitará à ONU e à Organização de Estados Americanos (OEA) delegar investigadores independentes, mas as decisões do Legislativo são anuladas pela Justiça, que o declarou em desacato.

“Na Venezuela há um autoritarismo hegemônico onde é impossível exercer mecanismos de controle democrático”, comentou à AFP a especialista em temas militares Rocío San Miguel.

– Outro suicídio –

Em um caso ocorrido em 13 de março de 2015, as autoridades também reportaram o suicídio do piloto Rodolfo González, de 63 anos, na sede do Sebin. Opositores e parentes do aviador, que era investigado por suposta conspiração, rejeitaram esta versão.

Em agosto de 2017, morreu o também vereador do Primeiro Justiça Carlos García após permanecer 10 meses nos calabouços do Sebin em Guasdualito (oeste).

Ele sofreu um derrame cerebral, mas a oposição afirma que teve negado atendimento médico adequado.

Na Venezuela há 236 presos políticos, segundo a ONG Foro Penal.

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