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Dalai Lama diz que não é “grande libertador ou político”

Dalai Lama é rebecido por tibetanos na Suíça ao chegar ao hotel em Lausanne. Keystone

O líder espiritual do Tibete chegou nesta segunda-feira (3/8) à Suíça, onde participará de eventos religiosos e se encontrará com dissidentes chineses e representantes políticos.

Tibetanos exilados criticaram o governo suíço por não receber oficialmente o Dalai Lama, mas ele afirma em entrevista ao jornal Tages Anzeiger que “isso realmente não é um problema”.

É a vigésima segunda vez desde 1973 que o “oceano da sabedoria” budista visita a Suíça – cinco vezes ele já se encontrou informalmente com membros do governo. No ano passado, o Dalai Lama cancelou uma viagem a Basileia, Berna e Büllach por causa de problemas de saúde.

Na terça e quarta-feira (4 e 5/8), ele vai falar sobre a “arte da felicidade” e os princípios do budismo em uma conferência que deverá reunir mais de 12 mil pessoas no ginásio de esportes polivalente de Malley-Lausanne. No Mont Pèlerin, perto de Lausanne, ele fez uma de suas primeiras palestras a um público ocidental em 1979.

Na quarta-feira, ele se encontrará com representantes do governo estadual de Vaud (oeste do país). Na quinta-feira (6/8), a presidente da Câmara dos Deputados, Chiara Simoneschi-Cortesi, dará as boas-vindas ao Dalai Lama em nome do governo suíço. Temas políticos não estão agendados.

Berna diz que Pequim não pressiona

As viagens do Dalai Lama, como embaixador da causa tibetana, e seus encontros com políticos têm gerado protestos por parte da China. Pela primeira vez nos últimos dez anos, o governo suíço renuncia a um encontro com o líder tibetano, Prêmio Nobel da Paz de 1989.

A Associação de Amizade Suíço-Tibetana lamentou essa decisão. O grupo parlamentar Suíça-Tibete enviou carta ao Conselho Federal (Executivo) pedindo que recebesse o Dalai Lama. Notícias sobre uma suposta pressão chinesa contra um encontro oficial foram desmentidas por Berna.

“A Suíça não sofre pressão alguma por parte da China. A Suíça está em diálogo permanente com as autoridades desse país”, disse Erik Reumann, porta-voz do Ministério suíço das Relações Exteriores.

“Isso não é um problema”

Em entrevista publicada pelo jornal Tages Anzeiger, de Zurique, nesta segunda-feira, o Dalai Lama comentou o fato de não ser recebido pelo governo suíço. “Isso é decisão dele (do governo). Isso está em ordem. Minha viagem não tem motivação política e sim religiosa. Venho para ensinar – e não quero causar incômodos a ninguém: a nenhuma pessoa privada, a nenhum político e a nenhum governo”.

Perguntado pelos repórteres se ele não estranhava o fato de membros do governo visitarem um festival de cinema (em Locarno) ou fazerem férias em vez de recebê-lo, o Dalai Lama respondeu: “Isso realmente não é um problema para mim. Se eu tivesse uma questão política concreta a discutir com o governo, seria diferente. Mas no momento não há nada nesse sentido.”

Na entrevista, o Dalai Lama negou que em suas viagens pelo mundo esteja em busca de aliados. “Eu não sou um grande libertador ou político”, afirmou. Ele lamentou, porém, a suspensão do diálogo entre Pequim e o Tibete, iniciado em 2002 e interrompido em outubro de 2008, após oito rodadas de negociações.

Segundo o porta-voz do Ministério suíço das Relações Exteriores, Andreas Stauffer, a Suíça apóia o diálogo entre as autoridades chinesas e os líderes religiosos do Tibete, incluindo o Dalai Lama.

“Fé no povo chinês”

Após cerimônias religiosas e uma palestra em Lausanne, o Dalai Lama se encontrará na quinta-feira com dissidentes e representantes da sociedade civil chinesa em Genebra.

O Dalai Lama disse que busca aprofundar o contato com a população chinesa. “Nossa fé de que o governo chinês estivesse interessado numa solução da questão do Tibete diminuiu ao longo do tempo. Mas nossa fé no povo chinês está intacta. Desse lado recebemos cada vez mais compreensão, simpatia, apoio e solidariedade.”

Ele revelou ao Tages Anzeiger que, desde a crise do Tibete em 2008, quando Pequim reprimiu violentamente protestos tibetanos, se encontrou com cerca de 300 intelectuais, estudiosos, escritores e estudantes chineses nos EUA, na Europa e na Índia.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)

Estima-se que na Suíça vivam aproximadamente 3.500 tibetanos. Eles afirmam que formam a maior comunidade tibetana na Europa e a terceira maior do mundo.

A imigração para a Suíça começou em 1960, com a chegada de dez meninos e dez meninas à vila Pestalozzi de Trogen e do lançamento do programa “1000 lares para refugiados tibetanos na Suíça”, aprovado pelo governo e apoiado pela Cruz Vermelha suíça.

Entre 1961 e 1964, 158 órfãos tibetanos foram adotados por famílias suíças e a comunidade lançou em 1967 a construção do primeiro mosteiro tibetano no Ocidente, em Rikon, perto de Zurique.

A Suíça apóia o diálogo entre as autoridades chinesas e os líderes religiosos tibetanos, incluindo o Dalai Lama, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Andreas Stauffer.

Segundo o ministério, a comunidade internacional, incluindo a Suíça, reconhece o Tibete como uma região autônoma da China, considerada uma província desde 1951.

A Suíça não reconhece o governo tibetano no exílio baseado em Dharamsala, na Índia, e não tem contatos formais com seus representantes.

O ministério argumenta que somente o diálogo pode resolver a questão do Tibete, através de um caminho adequado a uma região autônoma e com o respeito aos direitos humanos, incluindo a questão da liberdade religiosa e dos direitos culturais.

A Suíça foi o primeiro país ocidental a institucionalizar em 1991 um diálogo sobre direitos humanos com a China.

Esse diálogo resultou em encontros regulares entre os dois países, o último deles realizado em julho de 2008, em Pequim; o 11° está previsto para este verão europeu.

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