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Dalai Lama prega em Zurique

Dalai Lama aborda temas budistas como a "compaixão" ou "meditação". Keystone

Durante a mais longa visita à Suíça, o Dalai Lama profere oito dias de palestras sobre o budismo em ginásio esportivo de Zurique.

Sete mil pessoas comparecem diariamente ao evento. A grande maioria dos presentes não é de tibetanos, mas sim europeus interessados numa das religiões que mais cresce no ocidente.

O ginásio esportivo de Zurique acaba de ser reformado. Nesses últimos dias, ao invés de receber barulhentos fãs de hóquei sobre o gelo, esse espaço moderno localizado nos arredores da maior cidade suíça foi tomado por um público silencioso e meditativo. Eles não querem ver bola, mas sim uma verdadeira divindade.

Tenzin Gyatso é o nome dela. Ele não cansa de repetir ser apenas um simples monge tibetano, porém os fotógrafos e jornalistas vindos de todas as partes do mundo não dão muita atenção a isso.

Para eles, essa excessiva humildade faz parte da sua áurea. Assim os profissionais da mídia se apertaram contra os seguranças na porta de entrada do estádio nessa manhã da sexta-feira, cinco de agosto, para registrar um sorriso que se tornou famoso mundialmente. E eles o receberam.

O 14o Dalai Lama é a incorporação divina de Tschenrezigs, o Buda da compaixão e, ao mesmo tempo, Prêmio Nobel da Paz e líder espiritual dos tibetanos. Em Zurique, ele não traja mais do que alguns panos vermelhos e amarelos e um colar de contas amarrado no braço esquerdo. Um deus não precisa mais do que isso.

Oito dias de Buda

O objetivo principal da viagem de doze dias do Dalai Lama pela Suíça não é de clamar pela liberdade do Tibet, país ocupado pela China desde 1950. Dessa vez ele veio ser o principal palestrante de um curso de oito dias.

De 5 a 12 de agosto, o líder tibetano pronuncia duas palestras, cada uma de duas horas, sobre um tema que tem encontrado interesse crescente nas platéias ocidentais: o Budismo.

Dois textos indianos dos séculos oito e nono são recitados pelo Dalai Lama e traduzidos simultaneamente em cinco idiomas. Um deles é o Bodhicaryavatara e o outro Bhavanakrama. Os dois falam de técnicas de meditação e explicam como desenvolver um comportamento positivo para sobrepujar as emoções que são responsáveis pelo sofrimento, uma condição inerente da vida humana para os budistas.

Segundo os organizadores, todos os dias do evento já estão lotados. Cerca de sete mil passaportes foram vendidos por 450 francos (US$ 360). Ingressos diários estão sendo vendidos diretamente nos caixas. O publico diário de aproximadamente oito mil pessoas vem de 44 diferentes países.

Tibetanos e ocidentais

Além de representantes da comunidade tibetana – na Suíça vive a maior delas da Europa, com pouco mais de duas mil pessoas – a maioria dos presentes no primeiro dia de palestras do Dalai Lama era de europeus. Alguns até se mostravam como monges budistas, convertidos e atuantes nos mosteiros locais.

Às nove e meia da manhã, no momento em que a Sua Santidade entrava no palco e subia num trono ladeado por dois pilares dourados, e sob o som de trompetes típicos, budistas praticantes se abaixaram tocando o solo com o nariz e levantaram, em movimentos repetidos.

Ao abrir sua palestra cumprimentando os presentes com um sonoro “Irmãos e Irmãs”, o Dalai Lama transmitiu sua mensagem, lembrando que amor, compaixão, tolerância, moderação e autodisciplina são valores comuns a todas as religiões no mundo.

O público escutou atento as duas palestras, totalizando quatro horas de monólogo na voz pausada do líder tibetano, que vez ou outra interrompia para dar umas risadas. Nas pausas muitos meditavam. Outros, que estavam tendo seu primeiro contato com o budismo, perguntavam aos religiosos presentes sobre os caminhos da “iluminação”.

That’s not your business

Paralelamente à série de palestras, o Dalai Lama ainda participou na quarta-feira (3 de agosto) de um simpósio cientifico sobre neurologia na Politécnica de Zurique, onde também encontrou o ministro do Interior Pascal Couchepin, e também abriu duas exposições sobre a religião tibetana no Museu de Etnologia da cidade.

Tanta presença na mídia provocou debates sobre o que representa o líder tibetano no mundo atual. Seria sua importância relacionada ao seu papel político como refugiado eterno que prega a resistência pacífica pela autodeterminação do Tibet? Seria seu papel de modelo espiritual, de alguém que prega os valores do Budismo, uma religião sem hierarquia, Inferno ou Céu, pecado ou redenção? Ou seria a sua figura mítica, do Tibet, algo já retratado em vários filmes de Hollywood como paraíso na terra, residência de um povo puro?

O próprio Dalai Lama costuma falar que as pessoas devem se manter fiéis às suas próprias tradições. A um jornalista suíço que lhe perguntou sobre o carma – regra budista que afirma a sujeição humana à causalidade moral – ele responde de forma simples e curta: – “That’s is not your business”. Na sua opinião, as pessoas devem rezar para Deus e não pensar no carma.

– O Budismo ocupa-se muito da reflexão, onde é dado um grande valor ao conhecimento através da experiência. Por isso existe hoje uma grade atração por essa religião – afirma o Dalai Lama ao jornalista.

swissinfo, Alexander Thoele

– De 5 a 12 de agosto, o Dalai Lama profere palestras diárias de quatro horas no ginásio esportivo de Zurique.

– Em 1950, tropas chinesas invadiram o Tibet. Desde então o país está ocupado pela China.

– Em 1959, o Dalai Lama refugiou-se na Índia.

– Em 1989 ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

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