Denunciada "discrição" suíça com o apartheid.
Estudo estima que as autoridades suíças demonstraram "falta de coragem" em relação ao regime de apartheid (segregação racial) na África do Sul. Constata recusa de participar de embargo internacional e ainda venda de armas à Pretoria...
A "diplomacia discreta" praticada pela Suíça, de que fala Pierre Aubert, ministro suíço das Relações Exteriores na época do apartheid - regime racista de desenvolvimento separado - não convenceu os autores do estudo do "Grupo de Pesquisa Suíça-África do Sul" que acaba de ser publicado.
Coordenado pelo Solifonds (Fundo de Solidariedade para a Liberação Social no Terceiro Mundo), apoiado pelo Partido Socialista Suíço e pela União Sindical Suíça (maior central sindical do país), o estudo reúne depoimentos de testemunhos da época, em particular pessoas ligadas a igrejas e meios anti-apartheid.
Os autores do estudo denunciam vários casos em que considera condenável a atitude de prudente reserva mostrado pelas autoridades suíças, entre outros:
- funerais em 1985 das vítimas de banho de sangue nos redutos negros (townships) de Mamelodi e de Alexandra;
- o caso do pastor Simon Farisani, torturado nos anos 80 no "homeland" (território negro) de Venda.
Denunciam também desrespeito a embargo da ONU sobre vendas de armamentos. Constata que a Suíça vendeu em 1994 (último ano do apartheid) 60 aviões Pilatus PC-7. Como justificativa, o governo suíço disse que os aparelhos foram modificados no sentido de evitar utilização para fins militares...
O estudo limita-se porém à política econômica exterior da Suíça no período do regime sul-africano de discriminação racial. O grupo encarregado do trabalho retruca que o objetivo não foi emitir julgamento definitivo sobre a política suíça no tempo do apartheid. Foi sim, de apontar lacunas na pesquisa sobre o assunto e realçar temas que precisam ser aprofundados.
A registrar que o grupo foi criado depois de recusa de iniciativa parlamentar socialista em 1999 pedindo comissão de especialistas para analisar as relações entre Suíça e África do Sul, entre 1948 e 1994.
Em maio, o governo suíço encarregou o Fundo Nacional de Pesquisa Científica de analisar as relações entre a Suíça e a África do Sul. Orçamento de 2 milhões de francos - 1.17 milhão de dólares - foi consagrado a esse fim. As pesquisas devem durar 3 anos.
swissinfo com agências.

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