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Deputados suíços abandonam a energia atômica

O quadro mostra o resultado da votação na Câmara dos Deputados para a eliminação gradual da energia nuclear. Keystone

O governo suíço conseguiu a aprovação pela maioria da Câmara dos Deputados da proposta de abandono gradual da energia nuclear.

A casa pediu ao governo que suprimisse os obstáculos administrativos para os projetos de energias renováveis e promovesse a pesquisa nessa área. Mas os deputados também querem reduzir o direito de grupos ambientalistas que impedem a construção de usinas eólicas e hidrelétricas.

Todas as decisões tomadas na maratona de debates da quarta-feira (8/6) ainda precisam ser confirmadas pelo Senado, numa fase posterior.

Ainda pode levar vários anos até que as alterações legais necessárias sejam discutidas pelo parlamento. Os eleitores também poderão ter uma palavra a dizer sobre a questão nas urnas.

Duas semanas atrás, o governo havia decidido desativar os cinco reatores nucleares da Suíça até 2034, quando chegam ao fim de sua vida útil. Também foi anunciado a intenção de aumentar os recursos energéticos renováveis e promover métodos de economia de energia em vez de construir novas usinas nucleares.

Mudança

As amplas discussões na Câmara dos Deputados – uma das duas câmaras parlamentares – colocaram os partidos de centro-esquerda e membros de partidos de centro-direita contra o Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão), da direita nacionalista.

O Partido Radical, considerado próximo da comunidade empresarial, absteve-se numa votação crucial sobre a proposta do governo.

Os simpatizantes da proposta, quase todos dos partidos verde e socialista, argumentaram que o abandono da energia nuclear era desejável e realista. Quem se recusa a concordar com uma mudança política depois do desastre na usina nuclear japonesa de Fukushima está ignorando a realidade, disseram.

“Há um mundo antes de Fukushima e um mundo depois de Fukushima”, declarou Roberto Schmidt, do PDC, de centro-direita.

Diversos oradores fizeram um apelo para uma política energética sustentável e soluções inovadoras para poupar as gerações futuras de uma catástrofe nuclear.

O Partido Radical recebeu uma enxurrada de críticas por ter recusado a apoiar a proposta do governo.

“Não devemos fugir de uma decisão sobre a energia nuclear agora”, disse Eric Nussbaumer, do PS.

Críticas

No entanto, os adversários chamaram a proposta do governo de irresponsável, irrealista e prejudicial para a economia suíça.

“O governo pode acreditar que tenha feito a escolha certa, mas é equivocada”, disse Hansruedi Wandfluh do SVP.

Filippo Leutenegger, do Partido Radical, insistiu que a recusa em substituir as atuais usinas nucleares por uma geração mais avançada da tecnologia era o equivalente a uma “proibição da tecnologia”.

Outros parlamentares “pró-atômicos” chamaram a atenção para o aumento dos preços da eletricidade que poderia ter um sério impacto sobre a competitividade da economia suíça.

Para os adversários do projeto, foi uma ilusão acreditar que os recursos energéticos renováveis poderão suprir a lacuna deixada pelo abandono da energia atômica.

Emoções

A ministra da Energia, Doris Leuthard, reiterou que o governo havia levado em consideração os problemas de ordem econômica e os interesses gerais da população no projeto sobre a energia nuclear.

Ela acrescentou que há um potencial para as medidas de economia de energia e para os recursos energéticos renováveis, que no momento desempenham um papel marginal na política energética suíça.

Leuthard disse que tem confiança no poder de inovação das empresas e dos centros tecnológicos da Suíça.

“A proposta do governo de uma fase intermediária até 2034 nos dá tempo para encontrar soluções com todos os atores da comunidade empresarial e política”, disse.

Segundo a ministra, será necessário compromisso e decisões lúcidas, com a colaboração de todos os lados envolvidos.

O debate parlamentar durou cinco horas e foi transmitido ao vivo pela televisão, que mostrou a virulência das trocas verbais dos deputados. Cerca de 60 parlamentares participaram do debate sobre mais de 130 propostas diferentes.

As questões ambientais, incluindo a energia nuclear, são vistas como um tema chave na campanha anterior às eleições legislativas de outubro.

As cinco centrais nucleares suíças começaram a funcionar entre 1969 e 1984 e têm autorização de operar por tempo limitado.

 

Prazos. Os exploradores consideral que o tempo de dessas centrais termina entre 2019 e 2034.

 

Acidente. Em 1969, houve um grande acidente na Suíça, na central experimental de Lucens. Um elemento de combustível foi destruído. Instalada em um caverna subterrânea, a central foi fechada.

 

Lixo. Até 2006, a Suíça tratou seu lixo nuclear na França e na Grã-Bretanha. As autoridades suíças examinam atualmente diferentes lugares para estoca-los. O depósito na Suíça Central foi bloqueado por referendos em 1995 e em 2002.

 

Moratória. Em 1990, os eleitores aprovaram uma moratória de dez anos da construção de novas centrais nucleares.

 

Relançamento. Em 2003, três anos depois do final dessa moratória, os eleitores recusaram prolongar a moratória, mas também um abandono progressivo do nuclear.

Adaptação: Fernando Hirschy

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