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Descobridor do LSD faz 100 anos

Apesar da idade, Albert Hofmann continua ativo. Keystone

Há sessenta anos ele entrou para a história da química ao criar a dietilamida do ácido lisérgico, mais conhecida mundialmente pela sigla do alemão "LSD". Agora ele completa 100 anos.

O suíço Albert Hofmann acreditava que sua droga poderia ser utilizada na psiquiatria e não havia pensado no movimento hippie.

O mundo não esqueceu do químico suíço Albert Hofmann. Na ocasião do seu centésimo aniversário, uma centena de cientistas, artistas e testemunhas vindos da Europa e América irão participar no fim-de-semana de um simpósio organizado na Basiléia sobre um tema especial: LSD, a droga que provoca polêmica, por paixão ou ódio.

A dietilamida do ácido lisérgico é mais conhecida mundialmente pelas três letras retiradas da sigla em alemão para “Lysergsäure-Diäthylamid”. Sua aventura começou nos laboratórios da empresa farmacêutica suíça Sandoz, na Basiléia, pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

Encarregado de identificar e sintetizar os componentes ativos de diversas plantas medicinais, Albert Hofmann escolheu um dia para pesquisar um parasita de gramíneas. Complicado era retirar de um alcalóide, o ácido lisérgico, todos os tipos de derivados.

Um deles, a dietilamida do ácido lisérgico número 25, foi testada em 1938 em animais e não produzir nenhum efeito interessante. Logo depois ela foi abandonada. Porém a história não terminou na gaveta.

Alucinações

Albert Hofmann sempre foi um obstinado. Apenas cinco anos depois de ter criado o LSD 25, ele decidiu retornar às pesquisas. Isso ocorreu quase que por acaso.

Numa sexta-feira, 16 de abril de 1943, no momento em que ele manipulava a misteriosa substância, repentinamente o químico começou a ser tomado por vertigens e sensações estranhas. O mal-estar fez com que ele retornasse à sua casa.

Enquanto pedalava na sua bicicleta, Hofmann percebeu que a realidade à sua volta se torna cada vez mais distorcida. No seu domicílio, as alucinações iriam durar horas. No meio das suas visões, ele chegou a se lembrar de um passeio feito nas florestas de Baden, sua cidade natal, quando tinha apenas 10 anos de idade:

De volta ao laboratório da Sandoz, Hofmann decidiu compreender o que havia ocorrido. Em primeiro lugar ele pensava que havia inalado acidentalmente clorofórmio, porém os testes deram negativo. Depois ele pensou no LSD 25. Para comprovar suas suspeitas, o químico decidiu absorver 250 microgramas, uma dose muito reduzida para ter efeitos tóxicos. A prudência é uma qualidade importante para o pesquisador.

Sua experiência ocorreu às 16h20min, como ficou marcado nos registros. Quarenta minutos depois, Hofmann começou a ter visões, algumas delas até terríveis, outras maravilhosas. Assim ele se convenceu que havia descoberto algo de novo.

Proibição mundial

Albert Hofmann imaginava diversas formas de utilização para o LSD. Em primeiro lugar ele já via nele perspectivas extraordinárias para a ciência e a medicina.

Outros colegas do meio científico imaginavam possibilidade de ir a fundo nas pesquisas do cérebro e provar a relação estreita entre certas substâncias químicas e a loucura. Terapeutas acreditavam que a substância poderia ser uma arma prometedora, capaz de colocar em evidência os problemas dos pacientes, enquanto os tranqüilizantes apenas os escondiam. Alguns chegaram até a utilizá-lo para desintoxicar alcoólatras e tranqüilizar os doentes com câncer em estágio terminal. Já os executivos da Sandoz viam a possibilidade de encher os caixas da empresa de dinheiro.

Porém o produto terminou sendo vítima do sucesso. No início era a CIA, que começou a experimentar o LSD em cobaias humanas para testar a capacidade de manipular mentes. Porém foi nos anos 60, sobretudo nos EUA, através de artistas como os escritores Aldous Huxley e Jack Kerouac, passando pelos músicos como Beatles e Jimi Hendrix, que a droga se tornou famosa. Milhões de jovens passaram então a consumi-la para “viajar”, contestar as autoridades e ter novas experiências.

Por isso o governo dos EUA decidiu contra-atacar. Citando os acidentes (raros) provocados pelo consumo de LSD, eles classificaram a substância de alucinógena em 1966. Seu uso foi proibido, inclusive para fins médicos. A pressão feita sobre a ONU conseguiu estender proibição para todo o mundo a partir de 1972.

Contra o consumo irresponsável

Quarenta anos se passaram e o LSD não foi reabilitado. Porém ele provoca menos medo. Algumas personalidades dos meios médicos e científicos, dos quais alguns estarão presentes na Basiléia durante o simpósio internacional, defendem a liberdade para utilização da substância. O próprio Hofmann condena os excessos dos anos 60, mas defende sua descoberta, e não apenas como um medicamento ordinário.

– Vivemos numa época materialista. Muitas pessoas olham somente o lado exterior, material e se comportam segundo ele. O que existe por trás, a fonte espiritual original, eles não vêem mais. Para mim o LSD é um dos meios capazes de digerir nossa atenção, nossa percepção para outras esferas…O que o LSD nos dá é a possibilidade de reduzir os poderes intelectuais em favor de uma experiência emocional do mundo”, declarou ele recentemente.

Porém o químico alerta para o perigo do consumo irresponsável. Na sua opinião, o LSD é como outras drogas sacrais que podem ter efeitos positivos, caso tomada numa espécie de cerimônia e com acompanhamento.

A droga voltou à moda nos anos 90 através da música eletrônica. Mas Albert Hofmann, várias vezes avô e também bisavô, quer hoje aproveitar da sua aposentadoria. Ele vive hoje com sua esposa de 97 anos em Leimental, um povoado não muito distante da capital farmacêutica suíça Basiléia, onde trabalhou mais de quarenta anos como químico.

swissinfo com agências

Albert Hofmann nasce em 11 de janeiro de 1906 em Baden, cidade localizada no cantão de Aargau (norte da Suíça).
Depois de concluir o ensino básico, ele faz uma formação profissional de funcionário administrativo.
Mais tarde Hofmann consegue obter o diploma “Matura”, que dá acesso ao ensino superior. Ele estuda então química na Universidade de Zurique.
De 1929 a 1971: Albert Hofmann pesquisa nos laboratórios da Sandoz, na Basiléia.
1938: ele descobre o LSD (sigla para o ácido lisérgico que no original em alemão é “Lysergsäure-Diäthylamid”).
1943: o químico tem por acidente a primeira experiência com LSD e realiza posteriormente um teste em si próprio.
Nos anos 60: LSD se transforma numa droga popular através do movimento hippie.
1972: LSD passa a ser proibido no mundo inteiro.

Para comemorar o 100o aniversário de Albert Hoffmann, será realizado de 13 a 15 de janeiro de 2006 no Centro de Congressos da Basiléia o simpósio internacional “LSD: problema ou droga miraculosa”.

Cerca de 80 pessoas, dentre eles pesquisadores, farmacólogos, artistas, psicólogos e testemunhas da época, confirmaram sua participação. Também o aniversariante estará presente e já prometeu um discurso.

Albert Hofmann também será homenageado pelo presidente da Confederação Helvética, Moritz Leuenberger.

O livro “LSD: minha criança-problema”, Hofmann descreve suas experiências com o ácido lisérgico.

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