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Desemprego atinge mais os imigrantes

Protesto contra cortes do seguro desemprego para jovens trabalhadores. Keystone

No final de novembro, 163.950 pessoas estavam desocupadas na Suíça, 5812 a mais do que em outubro, segundo dados da Secretaria Federal de Economia (Seco).

Em novembro do ano passado, 107.652 pessoas estavam desempregadas. Nos últimos 12 meses, esse número aumentou 52,3%, ou seja, mais 56.298 pessoas foram atingidas pelo desemprego.

A taxa de desemprego em novembro de 2009 subiu para 4,2% (8,1% entre os imigrantes), a mais alta do país desde fevereiro de 2004, e reabriu um debate sobre restrições ao ingresso de trabalhadores europeus na Suíça.

O diretor de trabalho da Seco, Serge Gaillard, disse que os números são até “um pouco melhores do que o esperado”. Ele explicou que o aumento se deve a fatores sazonais e que 75% dos novos desempregados de novembro são dos setores de gastronomia, construção civil e de firmas que oferecem contratos temporários.

“Ao contrário dos temores iniciais, o número de 200 mil desempregados não deverá ser atingido neste inverno. E a taxa média de desemprego no corrente ano deverá ser de 3,7% e não chegar aos prognosticados 3,8%”, disse Gaillard.

Outros números comprovam que a situação no mercado de trabalho suíço no mês de novembro já esteve pior em anos anteriores. No mesmo mês em 2008, o número de desempregados aumentou em 7 mil; em 2001 (9 mil) e em 2002 (10 mil).

Os economistas da Seco apresentarão na próxima terça-feira novas previsões para 2010. Até agora eles vinham prevendo uma taxa de desemprego de 5,2%, o que seria a maior dos últimos 12 anos.

A taxa de desemprego entre jovens permaneceu quase inalterada em 5,3%. Bem superior à média foi novamente o número de desempregados estrangeiros. Nesse grupo, a taxa subiu para 8,1% (+0,5%), enquanto ela aumentou de 2,9% para 3% entre os suíços.

Entre os estrangeiros mais atingidos estão trabalhadores com pouca qualificação oriundos da ex-Iugoslávia (23%) e de Portugal (14%). Mas também os chamados “fronteiriços” (franceses, alemães, italianos e austríacos), que cruzam a fronteira diariamente para trabalhar na Suíça, estão sendo demitidos (veja gráfico na coluna à direita).

Livre circulação em questão

Com efeito retardado, a piora no mercado de trabalho freia a imigração. Segundo a Secretaria Federal de Migração, de 1° de junho a 30 de novembro foram concedidos 25.073 vistos B (para permanência até cinco anos) a cidadãos da UE-17 e da Efta, 24,3% a menos do que no mesmo período do ano passado.

Mesmo assim, o Partido do Povo Suíço (também chamado União Democrática de Centro – UDC), o maior partido do país, propôs a revogação ou renegociação do acordo de livre circulação de mão de obra europeia na Suíça, em vigor desde junho de 2007. O partido argumenta que os desempregados estrangeiros oneram o sistema de social do país.

Com base no acordo de livre circulação, cidadãos da UE que trabalharam e pagaram contribuições socais nos últimos 12 meses em seu país de origem têm direito ao seguro-desemprego suíço, mesmo que sejam demitidos logo no período probatório.

Segundo a ministra da Economia, Doris Leuthard, em 2008, apenas 1% dos desempregados se beneficiou dessa regra que, na direção inversa, vale também para suíços que perdem o emprego em um país da UE.

Um problema para a Suíça é que nem todos os estrangeiros desempregados retornam aos seus países de origem. Entre setembro de 2008 e agosto de 2009, cerca de 54 mil cidadãos da UE retornaram aos seus países, enquanto outros 138 mil imigraram para a Suíça.

Leuthard admitiu que, nesse ponto, o governo se enganou. “Isso acontece porque o desemprego nos países vizinhos é ainda maior”, explicou Leuthard em entrevista ao jornal NZZ, de Zurique.

“Os imigrantes não vêm para a Suíça por causa do nosso sistema social. Continuamos tendo imigração porque há escassez de mão de obra especializada em setores como o da saúde e de informática”, disse a ministra. Ela citou um exemplo: anualmente surgem 6 mil novas vagas no setor de saúde, mas só 4 mil suíços são formados nessa área.

Menos trabalhadores não europeus

O governo suíço decidiu na última sexta-feira observar atentamente a situação do mercado de trabalho nos primeiros meses do ano que vem e então avaliar se voltará a restringir o ingresso de trabalhadores europeus no país a partir de 1° de junho de 2010.

O Conselho Federal (Executivo) decidiu também cortar à metade os contingentes de trabalhadores oriundos de países não integrantes da UE e da Efta. Só poderão ser concedidos no máximo 2000 vistos B (prorrogável após 12 meses, sobretudo para executivos) e 3500 vistos L (no máximo 12 meses) a trabalhadores de “terceiros Estados”.

“Não compreendo essa decisão. O governo incita as empresas a desenvolver suas relações comerciais com a Índia, a China ou o Brasil e as priva de empregar cidadãos originários desses países que conhecem perfeitamente esses mercados. Essa decisão vai complicar a vida de muitas companhias internacionais sediadas na Suíça”, disse o diretor do serviço de emprego do cantão de Vaud, Roger Piccand, ao jornal Le Temps.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)

Na quarta-feira (9/11), no mesmo dia em que foram anunciados os novos números do desemprego, a Câmara dos Deputados aprovou por 119 a 61 votos uma proposta de cortes no seguro-desemprego.

Entre as principais novidades planejadas estão: quem contribuiu durante 12 meses só receberá seguro-desemprego durante 260 dias, em vez dos atuais 400 dias úteis.

De acordo com a decisão da Câmara, o direito a 400 dias de seguro deverá ser restringido a quem contribuiu 18 meses ininterruptamente ou tem mais de 30 anos ou tem filhos.

Desempregados de até 25 anos só receberão 130 diárias de seguro-desemprego – independentemente do tem em que contribuíram. Quem não encontra emprego logo após concluir os estudos só receberá seguro por 90 dias.

Por 93 a 88 votos, a Câmara também decidiu reduzir o seguro para quem fica desempregado por muito tempo. A intenção é criar estímulos para que essas pessoas intensifiquem a procura de um novo emprego.

Na opinião da ministra da Economia, Doris Leuthard, os cortes propostos pelos deputados são duros demais. Ela espera que eles ainda sejam amenizados pelo Senado antes de se transformarem em lei.

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